Este suplemento promete aumentar a libido. Mas será suficiente?
Nunca se fez tão pouco sexo e os motivos parecem ser mais do que muitos. Será que a solução poderá vir em formato de um comprimido mágico? A sexóloga Vânia Beliz não tem tanta certeza.
Foto: Get Maude22 de julho de 2022 às 07:00 Pureza Fleming
Num artigo publicado no jornal The Guardian o título parece dizer tudo: "(Not much) sex in the city / Não há tanto sexo na cidade)". Dúvidas houvesse, diversos estudos confirmam o que já se vem tornando numa verdade estranha: de repente, ninguém está interessado em fazer sexo - na verdade, em tudo o que tenha a ver com sexo.
Se um dia a célebre frase "sex sells" era imperativa, hoje podemos afirmar que a mesma caiu completamente em desuso. Na última década, vários estudos encontraram um declínio significativo na atividade sexual no mundo inteiro, sendo o mais recente um estudo focado nos EUA que demonstrou declínios de 2009 a 2018 em todas as formas de atividade sexual, bem como um decréscimo do ato de masturbação na adolescência. Os pesquisadores analisaram informações de pesquisas governamentais em pessoas entre os 14 e os 49 anos. O que é que está a acontecer com os jovens (e os menos jovens) hoje em dia?
Embora o estudo não tenha entrado em grandes detalhes acerca dos possíveis fatores subjacentes – nem tenha analisado os efeitos da pandemia – dois dos seus autores, Debby Herbenic e Tsung-chieh (Jane) Fu, partilharam com a Scientific American aquelas que seriam as suas hipóteses. O resumo (muito técnico) é que vários fatores estariam, provavelmente, em jogo: entre eles, o aumento do uso do social media e dos videojogos. Uma diminuição do consumo de álcool foi também considerado outro fator de peso: "Sabemos que o consumo de álcool pode ser associado à desinibição", lê-se na entrevista. Vânia Beliz, sexóloga, traz outras variantes para cima da mesa, ainda que mais focadas na diminuição da libido das mulheres, em particular: "As causas da perda de libido variam de mulher para mulher, mas as mais comuns são a baixa auto-estima, o stress, a ansiedade, o cansaço, a toma de fármacos, a contracepção, problemas ou insatisfação relacional…".
Mais conhecida pelo seu elegante vibrador que, inclusive, esgotou várias vezes desde 2019, a Maude lançou recentemente umas gomas veganas e sem glúten que prometem aumentar o desejo, a excitação, a estimulação e a função sexual. A marca especializada em intimidade e sexualidade criou esta suposta "pílula do sexo" numa parceria com a marca de suplementos Asystem.
O suplemento nasceu ap
ós alguns resultados de pesquisa bastante chocantes. Conforme compartilhado num comunicado de imprensa, 84% das mulheres afirmavam querer ter sexo com os seus parceiros todos os dias, mas apenas 16% realmente queriam. Quanto ao que estas haviam feito para melhorar as suas vidas sexuais, apenas sete por cento das mulheres afirmaram ter recorrido a um produto para aumentar a libido — mas 42% do grupo compartilhou que desejava usar um.
Este suplemento diá
rio é "formulado para aumentar a excitação e estimulação sexual das mulheres através de ingredientes naturais que aumentam o fluxo sanguíneo, aumentam naturalmente a testosterona (um fator chave da função e do desejo sexual) e aliviam o stress", refere comunicado de imprensa. "Alguns destes medicamentos apostam na redução do cansaço, grande inimigo do desejo, mas para que ele surja é preciso mais", refere a sexóloga Vânia Beliz, que confessa não acreditar em comprimidos que prometem este tipo milagres.
"O desejo sexual não
é algo que se desperte com uma pílula mágica. Eles [os medicamentos] atuam certamente noutras áreas que podem influenciar o desejo, mas vendê-lo como uma pílula milagrosa pode resultar em frustração". Avança que cada caso é um caso, e que as causas podem ser diversas. Numa altura em que as doenças mentais ocupam o topo da pirâmide do tema da saúde, questiona-se como é que também estas podem influenciar a falta de desejo sexual: "É comum que nas perturbações do humor se encontrem alterações no desejo sexual. Quando fazemos medicação para a patologia depressiva a nossa resposta sexual pode sentir mudanças, porém, na maioria dos casos, após o tratamento tudo tende a voltar ao normal daí ser muito importante que o acompanhamento seja feito por profissionais qualificados".
Então: como ativar a libido perdida?
Além de comprimidos ditos mágicos que, tal como avançou a sexóloga, podem resultar em frustração pois não resolvem o problema desde a sua raíz, que outras formas há para aumentar o desejo sexual? Vânia Beliz assevera que ter tempo para cuidar de nós e do nosso corpo é crucial. E, evidentemente, sentirmos-nos bem na nossa pele, felizes com quem somos e com a vida que escolhemos ter. "A falta de desejo precisa de ser avaliada de forma a encontrar-se um caminho ou uma solução que, posteriormente, também promova a excitação. Seria tudo muito simples se um comprimido nos transformasse ao ponto de nos fazer sentir irresistíveis. O desejo pode transformar-se ao longo do nosso ciclo menstrual e do nosso ciclo de vida. O mais importante é escutar atentamente as mulheres e compreender de que forma as podemos ajudar. Vende-se muito a ideia de que somos todos muito ativos sexualmente e de que temos orgasmos de alvoraçar a vizinhança, mas nem sempre é assim. O desejo precisa e pode ser potenciado, contudo não me parece que um comprimido possa resolver a situação".
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