Passamos cerca de um terço das nossas vidas a dormir. E, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 40% da população é afetada por perturbações de sono. Entre os transtornos mais frequentes aos menos conhecidos, destaca-se a insónia crónica, mas há outros como a síndrome de apneia do sono ou a síndrome das "pernas inquietas".
Com a pandemia, as razões para as noites mal dormidas multiplicaram-se em preocupações concretas. A ansiedade e a instabilidade provocadas pela Covid-19 originaram muitas noites em branco, pelo que especialistas como Teresa paiva, com o seu estudo "Sono e Covid", descobriram que os portugueses estão a dormir relativamente pior.
Além das patologias concretas ou do stress decorrente das peripécias da vida, parecem existir outros fatores que influenciam o nosso sono – e não, não estamos a falar de cafeína ou da luz azul dos gadgets tecnológicos.
Pensa-se que a lua pode ser responsável por regular o nosso sono. Esta influência milenar, afinal "ela" esteve sempre lá muito antes de nós, tem sido estudada ao longos dos anos.
Mas, e como explica a Madame Figaro num artigo que dedica ao tema, ao longo dos anos sucederam-se investigações com metodologias questionáveis, ou baseadas na palavra ou com amostras demasiado pequenas para se retirarem conclusões concretas. A verdade é que a lado nenhum se chegou, sem que uma base científica sustentasse uma teoria razoável.
Mais recentemente, no início do ano 2021, esforços conjuntos de investigadores americanos da Universidade de Yale nos EUA e investigadores argentinos da Universidade Nacional de Quilmes na Argentina concluiram um estudo promissor neste campo.
A investigação teve como objetivo estudar a luminosidade deste astro no nosso relógio biológico, pautado pelos chamados ciclos circadianos. A amostra contou com 562 pessoas, tanto residentes em ambiente rural com e sem acesso à eletricidade, como em comunidades citadinas altamente industrializadas.
Para além de ter uma amostra de relevo, o estudo diferencia-se pela utilização da actrimetria de pulso (pulseiras conectadas também designadas de actímetros) para averiguar se existe sincronização entre o sono noturno e o ciclo lunar.
Os investigadores chegaram à conclusão que nas noites anteriores à lua cheia (na fase em que o luar está presente nas horas seguintes ao anoitecer), o sono dos participantes começava mais tarde e era mais curto. Ou seja, estes iam para a cama a horas mais tardias e dormiam em média menos 46 a 58 minutos por noite. Isto, nos 3 a 5 dias que antecediam a lua cheia.
Os dados da investigação sugerem a possibilidade de a luz da lua (mais brilhante em fase de lua cheia) estimular a atividade noturna e inibir o sono, nesses dias. Conclui-se, assim, que a luz da lua poderá ter o mesmo efeito perturbador que a luz artificial, atrasando a síntese da melatonina (hormona que regula o ciclo sono) adiando a hora de adormecer.
Será mesmo assim? A verdade é que se trata de um estudo único no seu género, mas que já está a causar "burburinho" suficiente na comunidade científica com algumas vozes críticas a insurgirem-se a apontarem possíveis outras explicações.