Rita Pedroso: “Devemos ser quantas quisermos ser”
Entusiasmada a falar daquilo que ama, o desporto, a jornalista é um dos rostos femininos promissores do Record. À Máxima, conta como o sonho de trabalhar na área se tornou real quase sem dar conta.
Aos 15 anos decidiu que queria ser jornalista de desporto, encorajada por uma professora que a fez acreditar em capacidades que, até certa altura, nem ela própria valorizava. Rita Pedroso cresceu na Lousã, entre o verde da serra e o dos relvados, onde ensaiou as primeiras jogadas, sem grandes planos nem ambições. Durante várias épocas jogou futebol como atleta federada, mas com a entrada no Instituto Politécnico de Tomar, onde estudou Comunicação Social, a aluna acabou por ganhar terreno à futebolista. "Acabei por me tornar mais aplicada, coisa que até então não tinha sido", conta. Durante a licenciatura, fez uma visita de estudo à redação do Record, em Lisboa e, a sementinha que já lá estava, germinou. Quando terminou o curso e lhe pediram para escolher um órgão de comunicação social para estagiar, não precisou de pensar. A decisão já estava tomada.
Porquê o Record?
Era o jornal que lia desde menina. Quando era pequenina, andava sempre com o meu pai que, devo dizer, odeia futebol. Mas sempre que parávamos no café, eu ia procurar o Record e habituei-me a lê-lo com regularidade. Por isso, foi uma escolha natural.
Naturalidade é uma palavra a que recorre muito para descrever o seu percurso.

Porque tudo até agora aconteceu no timing certo. Nunca senti que tivesse de enfrentar grandes obstáculos por ser mulher e por ser uma mulher no mundo do futebol. Por exemplo, comecei a jogar à bola na altura em que surgiram as primeiras equipas femininas, por isso não tive de jogar em equipas mistas, o que podia ter levantado outras questões. E, mais tarde, não senti estranheza da parte de ninguém quando comuniquei que queria ser jornalista de desporto, nem depois, por parte dos colegas que me receberam. Nunca senti qualquer tipo de discriminação por ser mulher. Talvez seja ingenuidade da minha parte, mas sempre me senti integrada. Sou a mulher mais jovem da redação do Record e tenho uma excelente relação com todos os elementos da equipa. Senti-me muito apoiada, sobretudo por alguns colegas com mais experiência que me ajudaram a crescer profissionalmente.

O que é mais apaixonante, no seu trabalho?
Agora estou a fazer aquilo que sempre quis: a cobertura desportiva do Benfica. Chegar a uma secção tão nobre do jornal foi um sonho realizado. É uma grande responsabilidade. Um enorme desafio. Adoro estar no terreno, acompanhar o dia a dia da equipa, alargar a minha rede de contactos. Fascina-me falar com pessoas de todo o mundo. Comecei a fazê-lo de uma forma natural, e habituei-me a alimentar essas relações. As redes sociais ajudam muito nesse processo. O facto de muitos dos meus interlocutores serem da minha idade também facilita – dou-me com muitos jornalistas de outros países, quase todos da minha idade, o que me dá acesso a informações que dificilmente teria de outra forma. Penso que o facto de ser uma pessoa extrovertida por natureza ajuda-me bastante.

Não sente nenhum tipo de pressão extra por ser uma mulher num universo ainda muito masculino?
Nunca refleti muito sobre essas questões e admito que possa haver alguma ingenuidade da minha parte. Relativamente à presença de mulheres no mundo do futebol, como em todas as áreas, penso que devemos ser quantas quisermos ser. Acho que é uma evolução natural. Acredito que daqui a 20 anos seja diferente, mas penso que não devemos querer apressar os processos.
Houve alguma referência em particular no seu percurso?
O Nuno Matos, da Antena 1. Como os meus pais não tinham TV por cabo ou satélite, foi sempre através da rádio que acompanhei os jogos. Cresci a ouvir os seus relatos e a acompanhar de perto o seu trabalho. Foi uma grande emoção vê-lo a trabalhar de perto.


Ainda está numa fase de enamoramento com a profissão. Mas, olhando para a frente, o que é que gostaria que nunca mudasse?
A paixão. Se há coisa que admiro na malta mais velha é isso mesmo! Um dos grandes jornalistas com quem trabalho tem mais de 30 anos de experiência e é incrível a forma como continua a viver as coisas. Olho para ele e penso que, se daqui a 30 anos ainda aqui estiver, quero ter a mesma atitude, a mesma genica e gosto pelo que se faz. É assim que me vejo daqui a uns anos, a fazer o que estou a fazer porque foi realmente por isto que lutei. E, pelo meio, evoluir e aprender muito.
Fotografia. Ricardo Lamego

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