Jornalista Joana Emídio Marques acusa Manuel Alberto Valente de assédio sexual
"Tudo corria tranquilo, até que ele tirou do bolso uma caixinha de comprimidos que despejou na palma da mão. "Vês?", perguntou, enquanto me punha a mão debaixo do nariz, "não está aqui nenhum comprido azul", relata Joana Emídio Marques sobre o jantar com Manuel Alberto Valente que aconteceu há 10 anos. O editor já negou as acusações.

Embora com alguns anos de atraso face ao #MeToo norte-americano, Portugal está finalmente a falar de assédio sexual em áreas como a Cultura, o entertenimento e não só. Num texto escrito para a revista Sábado, intitulado O direito a não ter medo, a escritora e jornalista Joana Emídio Marques acusa Manuel Alberto Valente, editor da Porto Editora até 2020, de a ter assediado no contexto de um jantar de trabalho. "Quando ele parou o seu carro de alta cilindrada em frente ao DN, inclinei-me para me despedir com os tradicionais dois beijinhos na face e ele começou a tentar beijar-me na boca, com a descontração de quem já fez aquilo dezenas de vezes. Desviei-me e saí do carro. Chorei até casa, de humilhação e impotência. Chorei de nojo. Passaram quase 10 anos. O nojo é igual. Não voltei a dirigir-lhe palavra nas muitas outras vezes que nos encontramos em eventos literários", revelou a jornalista que hoje escreve para o jornal Observador. Joana Emídio Marques concordou jantar com Manuel Alberto Valente a fim de confirmar o rumor da iminente compra da chancela Assírio & Alvim pelo conglomerado Porto Editora, em 2012. Quando se encontrava no jantar, e na sequência de alegados comentários jocosos e sexistas, diz que percebeu que as intenções do então diretor eram outras, de cariz sexual, como meio para troca da informação. Mais tarde, aceitou a boleia de volta ao jornal e foi nesse momento que Alberto Valente a tentou beijar, como relata acima, de forma imprópria e imposta.


O editor já reagiu, dizendo que as acusação são falsas e que vai agir judicialmente. Numa publicação feita nas redes sociais, Manuel Valente classifica as acusações da escritora como sendo "extremamente graves e, acima de tudo, falsas". E acrescenta: "comentá-las, em concreto, nas redes sociais, ou mesmo perante os OCS que reproduziram tal publicação, seria incendiar ainda mais um justicialismo de praça pública", escreveu. "Informo que já contactei os meus advogados e lhes dei indicações expressas para agir judicialmente contra a autora da publicação, por ser a mesma atentatória da minha honra e consideração." A publicação teve reações de apoio de várias personalidades, de cronistas a jornalistas, a editores a escritores. Recentemente, Catarina Furtado revelou ao semanário Expresso que foi assediada em contexto laboral por três superiores hierárquicos, no início da sua carreira, tal como fez Sofia Arruda numa entrevista ao programa Alta Definição, da SIC. Também a escritora e antiga atriz Cláudia Lucas Chéu descreveu o assédio que sofreu quando fazia teatro, em início de carreira, numa crónica para a Máxima. Joana Emídio é a primeira a revelar um nome, deixando uma espécie de mote para que se façam mais revelações, já que também menciona outros nomes masculinos de relevo. "Todos sabem que Manoel de Oliveira assediava as jovens colaboradoras, que o Saramago, o David Mourão Ferreira, o Urbano Tavares Rodrigues gostavam de apalpar meninas, e que Eduardo Prado Coelho chegou a recusar-se a dar uma aula porque só havia rapazes na sala. Todos sabem mas cai sobre isto um manto de silêncio."
Recentemente, Catarina Furtado revelou ao semanário Expresso que foi assediada em contexto laboral por três superiores hierárquicos, no início da sua carreira, tal como fez Sofia Arruda numa entrevista ao programa Alta Definição, da SIC. Também a escritora e antiga atriz Cláudia Lucas Chéu descreveu o assédio que sofreu quando fazia teatro, em início de carreira, numa crónica para a Máxima.

Joana Emídio é a primeira a revelar um nome, deixando uma espécie de mote para que se façam mais revelações, já que também menciona outros nomes masculinos de relevo. "Todos sabem que Manoel de Oliveira assediava as jovens colaboradoras, que o Saramago, o David Mourão Ferreira, o Urbano Tavares Rodrigues gostavam de apalpar meninas, e que Eduardo Prado Coelho chegou a recusar-se a dar uma aula porque só havia rapazes na sala. Todos sabem mas cai sobre isto um manto de silêncio."

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