
Tenho fases em que olho à minha volta e tudo me indigna, em que o mundo parece estar de pernas para o ar, e me cabe contribuir para o endireitar. Tapo os ouvidos com as mãos, mas oiço ainda mais alto a voz da minha mãe a dizer-me que tenho de agir, que não posso ficar parada perante as injustiças, o sofrimento alheio, dos que estão mais perto ou mais longe do meu coração. As duas guerras em curso não ajudam, evidentemente.
Sou tomada por uma ansiedade que dificulta a concentração e que me faz disparar para a esquerda e para a direita, com a omnipresente sensação de que me esqueci de alguma coisa ou, mais importante, de alguém. A meio da noite, entre sonhos agitados, recordo-me de um amigo a quem não ligo há muito tempo, demasiado, ou de uma tia a quem, apesar das promessas, nunca mais visitei.

Faço listas em papel de tarefas para cumprir, porque apesar de recorrer ao telemóvel para tudo, a escrita à mão continua a organizar-me muito melhor os pensamentos e as prioridades — é como se as metas assumissem um realismo maior quando as vejo caligrafadas numa folha em branco (depois esforço-me por não a perder antes de ter cumprido e riscado os itens todos, o que raramente acontece).
Como é evidente sinto-me melhor quando passo à ação, mas o pior é que rapidamente me arrependo de querer salvar o universo quando embato num muro de burocracias, e dou por mim a pensar que mais valia estar quieta. Mas resisto e tento de novo. Porque, por exemplo, se não podemos ficar indiferentes ao que se passa com as crianças feitas reféns pelo Hamas — e que voltam para se descobrirem órfãs —, ou às que perdem a vida em Gaza ou na Ucrânia, também não podemos fingir que não tomámos conhecimento dos últimos números do CASA, o relatório da segurança social que detalha a situação das centenas e centenas de crianças que vivem em instituições de acolhimento. Essas crianças estão a cargo do Estado, ou seja, ao nosso, e continuam condenadas a uma infância e a uma adolescência de camarata, enquanto simultaneamente cai, de novo, o número daquelas que são adotadas. Não porque tenha deixado de haver crianças para quem uma nova família é a melhor solução e, muito menos, por não haver casais dispostos a recebê-las, mas "apenas" porque os seus processos embatem numa inadmissível lentidão da justiça, nomeadamente dos tribunais. Como se o tempo de um bebé, de uma criança, fosse compatível com estas esperas.
E é assim que, de manhã, não me permito compactuar com o intrincado sistema que as abandona, à tarde protesto pela dificuldade de um casal encontrar um advogado oficioso, ao fim do dia enfureço-me por mais um dia em que os alunos não tiveram aulas — os malefícios dos confinamentos são amendoins comparados com os últimos dois anos de constante instabilidade —, e à noite conto, angustiada, os minutos até à próxima entrega de reféns, enquanto me recrimino por não estar numa lancha a ajudar os pobres imigrantes que morrem afogados no Mediterrâneo, e que de repente os noticiários esqueceram.

Esperem, esperem. O objetivo deste texto não é discorrer sobre as minhas virtudes, mas precisamente o contrário: é para deixar claro que chata me torno quando a ansiedade sobe de nível e meto na cabeça que me cabe resolver os problemas do mundo. Como me assemelho, nessas alturas, ao anedótico escuteiro que ajuda a velhinha a atravessar a rua, mesmo quando ela só queria ficar sossegadinha no seu lado do passeio.
A ansiedade leva à ação e isso é uma coisa boa, mas quando invade todo o nosso espaço interior, tem grandes probabilidades de nos tornar ineficazes. Daquelas pessoas que, como ouvi de um alentejano, "alinhava muito, mas não cose". Precisamente.
Mas, então, como encontrar um ponto de equilíbrio, mantendo-nos capazes de lutar por aquilo em que acreditamos, mas sem implodir? Ou infernizar a vida dos que vivem connosco? Para meu próprio benefício fiz uma lista de antídotos, que partilho com aqueles que sofrem deste mesmo síndrome.

1. Reduza o seu nível de ansiedade. Procure perceber o que está verdadeiramente a causar essa agitação interior. É claro que a realidade é perturbadora, mas provavelmente a sua reatividade excessiva tem uma explicação mais pessoal. Encontre-a, sozinha/o ou com a ajuda de um profissional e procure resolvê-la. A serenidade não é sinónimo de passividade, pelo contrário: vai permitir-lhe deixar que os outros resolvam os seus próprios problemas, sem a sua ajuda (imagine-se!) e, simultaneamente, levá-la a comprometer-se com uma causa e a defendê-la com mais racionalidade e persistência.
2. Não se pode ser amador. A solidariedade social não se compadece com voluntarismos, nem com bandeiradas. Nem com mudança de causa, de um dia para o outro. Por isso ofereça os seus préstimos na área que domina, seja ela qual for, do Direito à Culinária, passando pelo Marketing. O passo seguinte é o mais exigente: persistir. O número de voluntários que desaparece num abrir e fechar de olhos é sempre enorme, e facilmente destrói toda a organização e planeamento feitos, deixando a situação pior do que quando lá chegaram. Mais grave ainda será se o apoio era prestado diretamente a alguém com que se criaram laços afetivos, e que é assim abruptamente abandonado (provavelmente pela enésima vez).
3. Contribua com dinheiro. Escolha uma ONG, uma associação, uma iniciativa e escrutine-a para perceber se lhe parece credível. Depois disso, contribua financeiramente com o que lhe for possível. Temos todos mais facilidade em doar bens do que dinheiro, alegando a desconfiança de que os fundos podem não chegar a quem são destinados, mas o mesmo não poderia acontecer com as camisolas que já não usa? A verdade é que a doação em bens para acudir, por exemplo, a uma tragédia a milhares de quilómetros, só dificulta a vida às organizações, porque como é óbvio é mais fácil comprar em grandes quantidades e perto do local, do que pagar o transporte para lá chegarem. Tome consciência do preconceito, para depois o superar. E cá para mim mais vale confiar por regra e uma vez ser enganado, do que nunca confiar.

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