Entrevista. Tim Bernardes de regresso a um local onde já foi “muito feliz”

Depois de uma primeira atuação em Coimbra, no início da semana, o músico brasileiro continua a minidigressão por palcos nacionais, que termina no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, com uma sessão dupla de espetáculos, a 1 e 2 de fevereiro.

Tim Bernardes - Nascer, Viver, Morrer (Official Video) (1).mp4
27 de janeiro de 2024 às 09:00 Miguel Judas

É uma verdadeira relação de amor, a de Tim Bernardes com o público português, iniciada na pequena sala da ZDB, Lisboa, em 2018, quando pela primeira vez atuou em Portugal para apresentar o álbum de estreia Recomeçar. Desde então tornou-se presença recorrente nos palcos nacionais, incluindo o do Coliseu dos Recreios, que esgotou em 2022, durante a digressão do segundo disco, o aclamado Mil Coisas Invisíveis. Nessa noite memorável, Tim Bernardes conseguiu a proeza de transpor para uma das maiores salas nacionais o ambiente intimista das suas canções, perante um público devoto que o escutou em total silêncio. "Foi um dos shows mais especiais para mim", confessa nesta entrevista à Máxima, justificando assim a decisão de voltar a Portugal com o mesmo espetáculo, agora em jeito de "despedida". Depois de Coimbra, onde atuou no início da semana, segue-se a 27 o Teatro Municipal de Vila Real, a 28 o Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, e a 31 a muito aguardada estreia no Coliseu do Porto, que antecedem o regresso a Lisboa para uma sessão dupla no Coliseu dos Recreios, a 1 e 2 de fevereiro. Serão os últimos concertos de apresentação do aclamado álbum Mil Coisas Invisíveis em Portugal.

Foto: Marco Lafer
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Como é que vão ser estes últimos concertos da digressão do álbum Mil Coisas Invisíveis, que já apresentou em Portugal há dois anos no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. É um regresso onde se foi feliz?

Sim, é isso mesmo, um regresso a um local onde já fui muito feliz. Estou muito animado, porque esse show que dei no Coliseu há dois anos foi um dos mais especiais para mim. Acho até que é o meu concerto favorito dessa digressão, por causa da atmosfera da sala e da reação do público. Foi um daqueles momentos em que consegui trazer para uma grande sala a intimidade daquelas músicas. Foi muito impactante o silêncio que o público fazia enquanto tocava. Portanto, de alguma forma, este retorno acaba por funcionar como uma despedida. Acho que não me sentia bem a voltar já com algo novo, sem tocar mais uma vez o Mil Coisas Invisíveis para o público português. Trata-se de um espetáculo concebido com uma luz e um alinhamento que remete para a intimidade do disco, apesar do alinhamento também incluir alguns temas mais antigos, tanto meus como da minha banda O Terno. Provavelmente, a próxima vez que regressar já será com algo diferente, com músicas novas ou uma outra formação em palco, pelo que será uma última oportunidade para quem não viu ou queira ver de novo.

E se calhar há mesmo muita gente que quer ver novamente…

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Pode ser que sim. Aliás, a primeira data em Lisboa esgotou tão depressa que fizemos uma segunda data extra, o que é muito bom sinal. E vai também ser a minha estreia no Coliseu do Porto e nalgumas cidades onde nunca tinha ido, portanto estou mesmo muito entusiasmado.

Foto: Marco Lafer

Quem viu o outro vai notar algumas diferenças?

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Possivelmente sim, mas serão pormenores muito subtis. Possivelmente haverá uma ou outra mudança pontual no repertório, que é algo que faço regularmente, até para a minha própria diversão. O Mil Coisas Invisíveis irá manter-se como no show anterior, mas há sempre uma versão ou uma canção de O Terno que que são substituídas por outras. E quando vim da primeira vez ainda a digressão estava no início, agora já dei muitos mais concertos, pelo que terei uma intimidade muito maior com as canções, com o palco e com o próprio formato do espetáculo e isso também conta. Por outro lado, cada concerto também depende muito do público, é ele que sempre torna cada concerto num momento especial. 

Como é que consegue estabelecer esse tipo de intimidade com o público em salas tão grandes como os coliseus?

Isso tem mais a ver com o nível de interesse por parte do público pelas músicas que estão a ser tocadas. Com a forma como eles se deixaram tocar pela minha música. Para mim é sempre um momento muito emotivo, perceber que consigo tocar muito baixinho e as pessoas continuam a prestar muita atenção. Percebe-se que o público conhece cada uma das canções, sabe as letras e está muito emocionalmente ligado a elas. É um daqueles casos em que a canção se tornou parte da própria vida e isso dá-me uma margem muito grande para confiar na atenção deste público, o que torna todo este processo em algo muito especial para mim.

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Foto: Marco Lafer

Na sua opinião por que razão existirá essa ligação tão forte entre a sua música e o público português, que já vem desde o primeiro concerto, em 2018, na ZDB?

A primeira razão que me vem à cabeça é a língua, claro. O facto de entenderem as letras estabelece logo outra relação com as canções, que é impossível noutros países onde tenho tocado. Apesar de também sentir uma grande conexão com a música, o público que não entende português acaba por não ter acesso ao lirismo do que está a ser dito. Também me parece ter havido uma conjugação de fatores muito felizes entre o meu repertório e o público português. Tenho uma relação forte com a Música Popular Brasileira dos anos 60 e 70, que é uma fonte de inspiração muito grande para o meu trabalho e o público português parece ter muito apreço por isso. Ao mesmo tempo é um público bastante conhecedor de propostas musicais mais modernas, muito aberto à canção indie. Ainda recentemente estive à conversa com a Natalie Mering, dos Weyes Blood, e ela também me disse que Lisboa tinha sido uma das primeiras cidades que realmente a escutou fora dos Estados Unidos. Ou seja, parece ser um público muito atento para artistas com algo a dizer, que realmente mergulha nas canções e se deixa envolver por elas. Há um lado emocional e íntimo, às vezes um pouco saudoso, algures entre a melancolia e a beleza, que de certa forma a canção brasileira herdou de Portugal. Isso jogou tudo a meu favor e a verdade é que me sinto muito em casa quando estou em Portugal, porque sou sempre muito bem acolhido.

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Foto: Marco Lafer

Sendo este concerto um fecho de ciclo o que é que vem a seguir? Já tem novidades para anunciar aos fãs? 

Eu estou sempre a compor, pelo que novidades nunca faltam (risos). Para já ainda vou tocar este concerto nalguns locais, mas vou ter mais tempo interno para olhar para o que já fiz e para o que quero vir a fazer. Acho que é isso, vai ser um ano para tentar entender como vai ser o próximo disco e organizar as minhas músicas nesse sentido. Fiz recentemente um espetáculo em São Paulo, que foi o meu primeiro com orquestra. Foi uma experiência muito boa e talvez o repita mais algumas vezes, em ocasiões mais especiais.

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