Bibi van der Velden, a joalheira de Rihanna que veio morar para a Malveira
Conta histórias através da Alta Joalharia e, com isso, conquistou clientes como Rihanna ou Kanye West. Sem abdicar do arrojo estético, a holandesa Bibi van der Velden instalou-se com a família na Malveira da Serra, onde dá largas à paixão pelo surf.
Foto: RVDA 1975 03 de junho de 2022 às 12:03 Maria João Martins
Trabalha no segmento do luxo mas não abdica de subverter os códigos instituídos. "Porque é que as pérolas têm de ser formais, associadas a looks muito bem comportados?", questiona a escultora e joalheira holandesa Bibi Van der Velden que, em plena pandemia, se instalou com a família na Malveira da Serra, a dois passos de Cascais. É por isso que uma visita guiada às coleções por si assinadas se transforma rapidamente numa viagem de sonho semelhante às dos nossos antepassados quando entravam nos gabinetes de curiosidades setecentistas.
As matérias-primas são nobres e caras (ouro, prata, aço, diamantes, safiras…) mas a artista transformou-as em histórias quase infantis: aqui há um macaco travesso, ali há um búzio cheio de mistérios, mais além uma rosa que definha em barroco esplendor. Não por acaso, admite à Máxima, o renascentista Hieronymus Bosch é um dos seus pintores de eleição.
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Com uma paixão pela simbologia das mais diversas culturas e épocas, Bibi mostra-nos brincos de forma amendoada que foram esculpidos em presas de mamute com mais de 40 mil anos. E um anel em forma de escaravelho (um animal a que eram atribuídos poderes mágicos no antigo Egito) de asas cintilantes. Inspirada sempre na Natureza, Bibi cria as suas joias com materiais sustentáveis que não excluem restos de criaturas marinhas, insetos, flores, frutos, ramos de árvores. A originalidade e ousadia são tais que não só já mereceu a atenção das edições internacionais de revistas como a Vogue ou a Vanity Fair, como já conquistou a atenção de Rihanna e Kanye West, hoje seus clientes.
Uma das suas obras-primas, o anel "Memento Mori", foi exibido pela primeira vez na exposição "Jewels Hermitage", entre setembro de 2019 e março de 2020, no Hermitage Amsterdão, ao lado de 300 joias usadas pela alta sociedade russa nas décadas anteriores à revolução de 1917. Inspirada no eterno tema da vida e da morte tão ao gosto da corte de São Petersburgo (especialmente durante os últimos Romanov), Bibi criou este anel de proporções dramáticas. A esse propósito, explica à Máxima: "Ao longo do século XIX, a família imperial russa foi objeto de vários atentados, o que criou um verdadeiro fascínio pela morte e pela sua representação em vários dos seus membros e também nos artistas que rodeavam e trabalhavam para a corte."
Irradiando uma luxuosa extravagância, o anel cobre toda a mão e é projetado como um poleiro de papagaio em ouro e prata. "Na corte dos Romanov tudo era enorme, ciclópico, maior do que a vida. Por isso, quando concebi esta peça percebi logo que tinha de fazer algo realmente grande e exagerado." Cuidadosamente aninhado entre as folhas do anel está ainda um ovo fossilizado proveniente da tundra siberiana, do qual emerge um homem que rasteja para fora de sua casca, o que, em contraste com a flor em decomposição, "procura mostrar que da morte sempre emerge a vida, porque o ciclo da natureza é perpétuo."
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Para Bibi tudo começou em Florença, onde estudou Escultura, seguindo as pisadas da mãe: "Foi uma época em que eu colecionava muitas coisas e houve um momento em que tive de perceber o que estava a fazer com tudo aquilo: Ou ia tudo para o lixo ou utilizava em alguma coisa que valesse a pena. Foi assim que despertei para as possibilidades criativas da Joalharia. Mas nunca me interessou fazer coisas bonitinhas, convencionais, o que me agrada é o twist, a surpresa, a possibilidade de contar histórias." Depois de Itália voltou a Amesterdão, a cidade em que cresceu, e foi estudar com os mestres ourives da aldeia de Schoonhoven, ao mesmo tempo que prosseguia a sua formação académica na Gerrit Rietveld Academy em Amsterdão e na Royal Academy of Arts em Haia. Explorou diferentes técnicas e materiais, combinando escultura e joalharia até ao momento - 2005 - em que se sentiu segura para criar a sua própria marca, vendendo as primeiras peças de alta joalharia suas no Dover Street Market, em Londres. Paralelamente, representa marcas de grande destaque no setor como a Bulgari ou a Chanel (tudo pode ser encontrado no site BIBI VAN DER VELDEN - Fine Jewellery – Bibi van der Velden | Fine Jewellery).
Apaixonada pelo mar, Bibi, o marido Thomas De Haas e os filhos Charlie e Balthazar mudaram-se para Portugal em 2020, mais concretamente para Malveira da Serra, que os está a apaixonar: "Em Amesterdão vivemos no centro da cidade, o que pode ser esgotante mesmo que não se trate de uma cidade tão grande como Londres ou Nova Iorque. Aqui temos a energia e a força transmitidos pelos elementos, que podem ser avassaladores." Praticante de surf desde miúda, a joalheira diz que a sua conexão com o mar é feita de amor, mas também de respeito: "Nunca subestimo o oceano, mesmo que pratique surf há anos, às vezes tenho medo. E isso também é bom."
Vera não sabia, mas tinha o destino traçado quando nasceu no seio de uma família de artesãos. O seu amor pela bijuteria começou naturalmente em pequena, por crescer no meio de contas e colares, e hoje tem sua própria marca. Fomos conhecer o atelier da artista lisboeta, no LX Factory.