Catarina, 29 anos
Cruzei-me com a Catarina numa festa e ela estava deslumbrante. Perguntei, pronta para gastar o que fosse preciso no novo sérum que certamente me recomendaria, o que andava a fazer. Com um copo de champanhe a tilintar entre as mãos, encostou os lábios ao meu ouvido e sussurrou: “Acabei a minha relação. Devias experimentar!” Escusado será dizer que não foi só o lip gloss dela que ficou colado à minha cabeça o resto da noite.
Meses depois, com o TikTok repleto de vídeos “the break-up glow-up that needs to be studied” [o brilho pós-separação que deveria ser estudado], ligo à Catarina para saber mais. “Não me queria focar no fim, mas no que vem depois”, começa. E depois acrescenta com uma sinceridade mordaz: “É como se estivesses numa jaula e, de repente, ela abre-se e tu voas. Claro que tens de aprender a voar outra vez, mas não deixas de estar livre. A forma como respiras muda logo”, conta, depois de libertar os pulmões numa inspiração profunda.
A liberdade que ela descreve veio com pequenas revelações do dia a dia: jantar uma torrada à hora que lhe apetece, escolher programas em nome do amor (por ela própria), e descobrir que estar sozinha é, por vezes, infinitamente mais delicioso do que parecia. Afinal, reencontrar-se não é apenas sair de uma relação, mas reconhecer que, “mesmo que outra pessoa te esteja a castrar, és tu que permites ou não”.
É a mistura de assumir poder e reconquistar o próprio espaço. “É uma combinação das duas coisas. Tu permites-te ir para um sítio diferente daquilo que tu és, em prol do amor… e depois onde fica o amor-próprio?” E então vem a transformação: minissaias, botas, cabelo, pele cuidada, ginásio, viagens sozinha, cinema sozinha, tudo se torna um manifesto de liberdade. Não é para impressionar o outro, mas para se sentir inteira consigo própria. “Não era para engatar ninguém, era para me sentir sensual, poderosa, bem comigo. Parecia que voltava a andar de mãos dadas com o meu poder.”
O reencontro consigo mesma trouxe-lhe descobertas inesperadas. Tornou-se professora de cycling, começou a fazer terapia, percebeu que o essencial estava em recuperar o amor-próprio que tantas vezes sacrificara em nome de relações. O glow-up da Catarina não é apenas visual; é existencial. Ela aprendeu a valorizar-se antes de valorizar o outro, e a viver intensamente, com ou sem companhia. Cada passo, cada decisão, é uma celebração da sua autonomia. Para uns segundos, pensativa, e remata: “Redescobrir a minha sensualidade… e aceitá-la. Essa é a maior conquista.” É ficar a saber que pode cair – mas levantar-se outra vez, no topo das suas botas de salto alto. “Se a vida é uma montanha-russa, porque não subir até ao topo? Vamos cair de novo, mas até lá vamos viver tudo.”