As vidas opulentas das mulheres da oligarquia russa

Enchem as suas contas de instagram com imagens de uma vida de luxo inacessível ao comum dos mortais. No momento em que tanto se fala dos oligarcas russos e das suas fortunas colossais, fomos saber quem são e o que querem as mulheres destes clãs em que o poder ainda é assunto de homens.

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09 de março de 2022 às 11:41 Maria João Martins

São esculturais, vêm frequentemente do mundo da moda e, seja por amor ou cálculo, apostam tudo o que têm (quase sempre uma aparência de mulheres troféu) num casamento bilionário. Este jogo, no entanto, pode revelar-se uma autêntica roleta russa. Um passo em falso e eis que a "arma" dispara, fazendo desaparecer, num ápice, mansões de sonho na Rússia e fora dela, iates, peles, joias, os próprios filhos e a segurança pessoal. Quem o demonstrou, no documentário de 2015, The Oligarch’s Wives: Russia, Rubles and Love, foi o cineasta Alexander Gentelev que, nos últimos anos, tem vindo a realizar uma vasta filmografia sobre as perigosas cumplicidades do regime liderado por Vladimir Putin e os homens mais ricos da Rússia. A chamada oligarquia onde, à primeira vista, as mulheres são encaradas como sinais exteriores de riqueza dos maridos ou namorados. Que é como quem diz uma variante russa das WAG’s, como em Inglaterra são designadas as mulheres dos futebolistas mais ricos e famosos da Premier League. Mas há excepções que confirmam a regra, como veremos. 

Margarita Taran forma hoje, com o marido Eduard Taran, um dos casais mais ricos do mundo. Nascida numa cidadezinha da Sibéria, foi a carreira de modelo que a levou a Nova Iorque, onde partilhou um pequeno apartamento com outra russa com ambições, a nossa bem conhecida Irina Shayk. Das passarelles ao coração de Eduard, proprietário da ngRATM Holdi, especializada em fabrico de tecnologia de defesa e ótica, distou um passo. Revelam pouco da sua vida em comum, à excepção das imagens selecionadas que Margarita publica na sua conta de instagram, onde Eduard raramente aparece.

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Bem mais exuberantes são os Melnichenko, leia-se Alexandra e Andrei. Originária duma família de origem servo-croata dada às artes, a jovem singrou - uma vez mais - na carreira de modelo e foi nessa qualidade que conheceu Andrei, durante umas férias em casa de amigos comuns no sul de França. Em memória desse primeiro encontro, os dois escolheriam, anos depois, a Côte d’Azur para um casamento digno das 1001 noites.

Outras antigas modelos nesta lista são Julia Vizgalina, casada com o oligarca Alexander Tarantsev, e Elena Perminova. Mas enquanto a primeira é conhecida entre estes (talvez) happy few pela sua erudição e bom gosto artístico, Elena ainda é associada a um passado obscuro de que foi resgatada pelo casamento com o bilionário Alexander Lebedev. Nascida na Sibéria, aos 16 anos foi detida por tráfico de droga e condenada a 6 anos de prisão. Em desespero de causa, o pai da jovem recorreu à ajuda do seu conhecido Lebedev, à época também deputado da Duma (o Parlamento russo). Este não se fez rogado, fez umas chamadas e a rapariga foi libertada. Casariam pouco depois. Hoje têm quatro filhos e Elena, que sempre se interessou por Moda, é uma das embaixadoras da Chanel na Rússia.

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Nestes casamentos, como nos outros, a felicidade eterna não está assegurada. Os divórcios são frequentes e nem todas saem tão bem como Elena Rybolovleva, que deve boa parte da sua atual fortuna a um acordo muito vantajoso com o ex, Dimitri Rybolovlev.  A outras, como a Condessa Alexandra Tolstoi, filha do Conde Nicolai Tolstoi (ainda aparentada com o escritor), estes amores chegam a revelar-se catastróficos. Alexandra, com nacionalidade britânica, apaixonou-se pelo billionário Sergei Pugachev (conhecido por ter sido proprietário da marca francesa Hédiard) enquanto lhe dava aulas de Inglês. Três filhos e muitos cartões de crédito depois, Pugachev, um dos principais obreiros da ascensão de Putin ao poder, viu-se perseguido pela justiça russa e expropriado de boa parte dos seus bens. Na fuga, "esqueceu-se" de Alexandra, que, de um dia para o outro, se viu envolvida num pesadelo judicial.

As empoderadas

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Nem todas as esposas de oligarcas correspondem, porém, a este estereótipo de belo e dispendioso acessório. A segunda mulher do mais mediático destes magnatas made in Russia, Roman Abramovic, Dasha Zhukova viveu nos Estados Unidos com a mãe, engenheira molecular, desde os 10 anos e nunca abdicou de ter interesses próprios e de usar os fundos a que teve acesso em prol de jovens artistas. Em 2008, Zhukova fundou a Garage Center for Contemporary Culture em Moscovo, sendo ainda directora da revista Garage, uma publicação bianual voltada para a ligação entre Artes Plásticas e Moda, que, ao longo dos anos, tem vindo a "colecionar" colaboradores de luxo como Jeff Koons, Damien Hirst, Nick Knight, Marc Jacobs, John Baldessari ou Patrick Demarchelier. Divorciada de Abramovic em 2017, Dasha Zhukova manteve os objectivos e integra hoje a lista dos maiores colecionadores de arte do mundo. Para o verificar basta passear pela sua conta de instagram e compará-la com as de outras mulheres deste grupo.

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As artes são também a paixão de Stella Kesaeva, casada com Igor Kesaev, magnata do tabaco. Para além de colaborar ativamente nos negócios da família (até porque estudou Economia), Stella apoia vários artistas emergentes e conseguiu captar o interesse do marido para o assunto, a ponto de o tornar um ativo mecenas. 

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Na lista das fortunas mais estratosféricas da Rússia, aparecem, pelo menos, quatro mulheres. Em 2020, segundo a revista Forbes, este grupo era liderado por Yelena Baturina e Tatyana Bakalchuk. Baturina, de 60 anos, dirigiu uma grande empresa de construção até que o marido, Yury Luzhkov, assumiu as funções de autarca de Moscovo, em 2010. Nessa altura, ela vendeu a empresa e envolveu-se num conjunto de projectos de desenvolvimento na Rússia e no estrangeiro. Por sua vez, Tatyana Bakalchuk, hoje com 46 anos, tem uma fortuna avaliada em 600 milhões de dólares, para que muito contribuiu a sua plataforma de venda online, Wildberries, uma das mais populares na Europa de Leste. Mero acaso, ou talvez não, a empresária é casada com Yury Kovalchuk, considerado um dos melhores amigos de Vladimir Putin. 

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Esta lista, todavia, não pode ficar fechada sem a "estrela" do ténis Maria Sharapova. Número 1 do ranking mundial da modalidade durante vários anos, assinou contratos de luxo com várias marcas, entre as quais a Nike, que em  janeiro de 2010, lhe renovou o contrato por qualquer coisa como 48 milhões de Euros. Um estatuto em tudo idêntico ao da supermodelo Natalia Vodianova, estrela incontestada das passarelles e dos editoriais de moda de todo o mundo, fotografada por grandes nomes como Mario Testino, Steven Meisel ou Anna Leibovitz. Graças a contratos de sonho com marcas como a Prada, a Calvin Klein ou a H&M, Natalia tornou-se uma das modelos mais bem pagas e requisitadas da sua geração. Nada mau para a menina loura que, na adolescência, vendia hortaliças no mercado de Gorky. 

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