Quem é Alexandra Tolstoy, a condessa que pede para não confundirmos os russos com Putin
Renega o epíteto de socialite, mas foi por causa da vida sumptuosa que teve ao lado do oligarca Sergei Pougatchev que se tornou conhecida do grande público. Alexandra Tolstoy, 48 anos, de nacionalidade britânica apesar do apelido, voltou a ser notícia após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Mãe de três filhos, aventureira, escritora e apresentadora de TV - é assim que se apresenta na sua conta de Instagram a Condessa Alexandra Tolstoy, nascida em Inglaterra, e, como o nome de família sugere, ainda parente do autor de Guerra e Paz e Anna Karenina. Nas duas últimas semanas, em plena crise desencadeada pela invasão da Ucrânia, esta loura com ares de it girl tornou-se notícia em Inglaterra: antes de mais porque, em tempos não muito distantes, viveu uma longa história de amor com o antigo banqueiro de Putin, Sergei Pougatchev, de que nasceram três filhos, mas também porque veio a público pedir que não se politizasse a cultura e o povo russo. O que lhe valeu não poucas críticas e muitos anti-corpos.
Fê-lo na sua conta de instagram, em entrevistas às televisões britânicas (Alexandra vive em Londres e tem nacionalidade inglesa) e numa longa conversa com Anna Pasternak (sobrinha-bisneta de Boris Pasternak, Nobel da Literatura e autor do muito famoso romance Doutor Jivago) publicada pelo jornal Daily Telegraph, em que denuncia os perigos de se cancelar a cultura russa e sobretudo de confundir os russos com as políticas de Vladimir Putin, quando, na verdade, muitos se lhe opõem com risco pessoal. As reações não se fizeram esperar: em poucas horas, Alexandra perdeu 2000 seguidores da sua conta de instagram enquanto outros a acusavam de traição e recordavam a vida de iates, mansões e férias bilionárias que teve ao lado de Serguei Pougatchev, até que, acusado de fraude pelo governo russo, este fugiu para França, deixando-a (e aos filhos) em grandes apuros. Uma história que a BBC contou há não muito tempo no documentário A Condessa e o Bilionário Russo.

Mas quem é esta loura de apelido sonante? Nascida em Dorset, em janeiro de 1974, filha de pai russo (o Conde Nikolai Tolstoi) e mãe inglesa, estudou russo na Universidade de Edimburgo e teve uma juventude cheia de aventuras. Fez o caminho de Santiago e, no princípio do século XXI, viajaria longamente pela Rússia e pela Mongólia, uma expedição de que resultou o livro The Last Secrets of the Silk Road: Four Girls Follow Marco Polo Across 5,000 Miles e o casamento com um cossaco. Divorciada deste, começou a dar aulas de inglês a empresários russos. Foi assim que conheceu Pougatchev, considerado um dos homens mais próximos de Putin. Mais tarde, já separada do banqueiro (porque este nunca se divorciou oficialmente da sua primeira mulher) voltaria às viagens e ao trabalho, com uma série de documentários para a BBC sobre os homens e mulheres que vivem e trabalham com cavalos, seja na Andaluzia ou no estado norte-americano de Montana.

Uma família cheia de História
A ironia trágica é que poucas semanas antes da invasão da Ucrânia Alexandra estivera na Russia para participar numa reunião preparatória das comemorações do bicentenário do nascimento de Leon Tolstoi (1828-1910), ainda seu parente. Em 2018 pegara nos filhos e levara-os a conhecer Iasnaia Poliana, a propriedade a sul de Moscovo onde nasceu e viveu o escritor.
Como a própria reconhece, a história da parte russa da sua família reflecte bem as muitas convulsões da História daquele país ao longo do século XX. Como conta no seu Instagram, é bem possível que Alexandra e o seu pai não tivessem existido sem a coragem de uma nanny inglesa nos meses que se seguiram à Revolução de Outubro de 1917. Lucy Stark era a nanny de Dimitri Tolstoy, então com 7 anos de idade. Compreendendo que apesar de criança, o rapaz era um alvo potencial dos bolcheviques por ser membro da aristocracia (e sem saber do paradeiro do pai que desaparecera em combate), Lucy convenceu um clérigo britânico em Moscovo a passar uma certidão falsa de nascimento, em que se certificava que a criança era, afinal, filha natural da ama. Munidos desse documento salvador, meteram-se num comboio para a Finlândia e, de Helsínquia, apanharam um navio para Inglaterra.


Muitos anos depois, Dimitri casaria com uma inglesa e teria um filho, Nikolai, o pai de Alexandra. Apesar de jamais ter voltado ao país que deixara em tão dramáticas condições, batizou o filho pela Igreja Ortodoxa e transmitiu-lhe o gosto pela cultura de origem e o legado espiritual da família Tolstoi. Mais tarde, no livro The Tolstoys; Twenty-Four Generations of Russian History 1333–1983 este recordaria como passara a infância numa atmosfera melancólica, rodeado por "ícones, ovos de Páscoa, retratos do czar e da czarina, retratos de família e jornais da comunidade emigrante." Casado com Georgina Brown, teve quatro filhos (Alexandra, Anastasia, Xenia e Dimitri) e, para além de alguma vida política, não resistiu à vocação literária da linhagem. Entre os vários livros que escreveu e publicou destacam-se os que dedicou à segunda guerra mundial e aos anos difíceis, nas relações da Inglaterra com a URSS, que se lhe seguiram. Nascido em 1935, Nikolai só conheceu a terra dos seus antepassados após a queda do muro de Berlim.

Mundo, Atualidade, Guerra Ucrânia, Russia, Putin
Como a primeira-dama, Olena Zelenska, se tornou a arma secreta da Ucrânia
É claro que a mulher do Presidente, Olena Zelenska, está perto daqueles cujas vidas estão a ser devastadas pela guerra – e as suas contas nas redes sociais provaram ser fundamentais. Da história de amor com o Presidente Zelensky ao combate no terreno, até onde vai o seu poder?
O Exército do batom Vermelho de Putin: as mulheres cuja missão é espalhar a narrativa russa
Liderado por Maria Zakharova, um grupo inflexível de porta-vozes bem-entendidas em media tornaram-se na arma de eleição do Presidente para a sua propaganda de guerra.
Este gesto de William para Kate está a comover os ingleses
O pormenor romântico foi captado pelas câmaras de vários fotógrafos quando os duques de Cambridge saíam da Abadia de Westminster há alguns dias.
"Nigella Lawson da Rússia", a mulher que pode vir a ser presa por Putin
Veronika Belotserkovskaya, o nome verdadeiro desta personalidade , corre o risco de ser condenada até 15 anos de prisão depois de criticar a guerra na Ucrânia e as ações do presidente russo no Instagram.