Uma viagem ao passado, presente e futuro. O último dia da ModaLisboa
No quarto dia da semana de Moda de Lisboa, o Capitólio viajou até ao passado com os designers João Magalhães e Nuno Gama, teve um sneak peek do futuro com a coleção de Valentim Quaresma e celebrou o presente com 'Whim' de Buzina e 'Diary' de Nuno Baltazar. Veja as fotografias.

No domingo que marcou o útimo dia da ModaLisboa, 10 de outubro, o primeiro desfile teve início poucos minutos depois das 15h, hora a que estava marcado. Num ambiente retirado de um filme pós-apocalíptico, Valentim Quaresma inspirou-se numa única citação para a coleção apresentada - "o tempo voa sobre nós, mas deixa a sua sombra para trás", de Nathaniel Hawthorne.


Assim, o designer desconstruiu o conceito de tempo e materializou-o em peças irreverentes, com destaque para os estampados e as estruturas de metal, em colares e acessórios de cabelo, com rodas dentadas, números e relógios.



Os vestidos eram longos e fluídos e os tops lembravam o terreno árido dos desertos. Para além dos dourados e prateados do metal, encontrávamos tecidos maleáveis, como o couro, em preto, laranja queimado e tons de areia.



Por outro lado, a coleção de Buzina, denominada Whim, nasceu de um lugar de celebração do belo, único e particular. Falava de caprichos, "extravagâncias urgentes" e "vontades súbitas". De peças que comemoram o poder da mulher, e de como este poder pode ser sentido através da roupa mas que, no final, é uma força que parte sempre de dentro.



Quanto aos looks em si, saltavam à vista as bainhas com efeito balão, os longos coletes de ar bastante confortável, os folhos e as cinturas baixas poucos definidas. Azul céu e rosa velho salpicavam o desfile aqui e ali, no meio de branco e preto, servindo como base para o padrão animal das manchas das girafas.




Também em tons de celebração, Nuno Gama solenizou a paz de espírito da planície alentejana com uma performance complexa e conceitual. "Virámos o casaco e despejámos bolsos, avaliando o que devemos realmente levar e que herança deixar. Alterámos regras da vida numa consciência única de sustentabilidade", lia-se na mensagem que passava no grande ecrã do Capitólio.


Ainda antes do desfile começar, já estavam posicionadas três figuras no meio da sala, junto a candeeiros de vela que indicavam os quatro pontos cardinais, enquanto outro indivíduo aguardava sentado a baralhar cartas. Numa primeira parte, os modelos usavam peças beges e casacos de lã, uma referência à pelagem da ovelha e ao Alentejo. Pelo meio da performance, vimos um modelo com um bebé ao colo, um pastor e um homem de burka cor de rosa.



Divididos em blocos, os conjuntos passeavam pela paleta de cores, com destaque para o azul, o verde tropa e o rosa fúchsia. Os casacos tinham desenhos de paisagens do campo e algumas t-shirts continham palavras como "toca-me", "ouve-me", "solidão" e "indiferença". Destacavam-se ainda acessórios como os lenços, os bucket hats e os bonés. Quanto aos materiais utilizados, Nuno Gama escolheu a lã merina e o tencel, tecidos sustentáveis e nacionais.



Mais ao final do dia, às 20h, João Magalhães trouxe a festa até ao Capitólio, concerto incluído, com a coleção Crying Rainbows in the Sky, inspirada nos anos 70 e na cultura psicadélica, uma referência aos últimos dois anos em que o conceito de festa foi cada vez mais marginalizado e transformado em convívios pessoais.



Aqui, os códigos da marca são revistos e desconstruídos através de peças de streetwear, padrões abstractos, tweet bouclé e xadrez geométrico, isto tudo em coordenados de cores ácidas, neons e pasteis. Em looks descontraídos, destacam-se o uso do denim e de tecidos transparentes, das lantejoulas, dos laços e das sobreposições.



E embora o último desfile da ModaLisboa estivesse marcado para as nove da noite de um domingo, tal não impediu várias personalidades, como as apresentadoras Jani Gabriel ou mesmo Sílvia Alberto, de marcarem presença na apresentação de Nuno Baltazar.

Desenhada à volta dos brancos, do ótico ao marfim, tal tela vazia, a coleção Diary conta-nos as preocupações do designer com um futuro incerto e ainda desprovido de cor, ao mesmo tempo que constitui uma reflexão do presente e da identidade da marca. É uma tela em branco dedicada ao processo, à desconstrução e à experimentação conceptual.

Com uma proposta sem estação, Nuno Baltazar dá um passo em direção a uma moda sustentável, onde o ritmo de consumo é mais lento e mais amigo do ambiente.

As texturas dividiam-se ora em linho natural, jacquards e rendas estruturadas de algodão ora em seda, crepe satin e tules bordados, numa mistura de peças longas e fluídas, oversized e mais justas ao corpo. Destacam-se ainda pormenores delicados como o trabalho geométrico, os plissados e os drapeados.

A noite terminou em grande com três modelos muito especiais, Catarina Furtado, Telma Santos e Rita Fortes, grandes mulheres que pertencem ao universo do designer há vários anos.


