Sónia Araújo: "A mulher tem de ter toda a disponibilidade para cuidar e um sorriso sempre feliz ao fim do dia"
Sónia Araújo, mãe de Carolina, e dos gémeos Francisco e Tomás, fala sobre a sua experiência enquanto mãe, e também dos tabus ainda por esbater relativos ao tema.

Quem foram as primeiras pessoas a quem contou que estava grávida, e quais foram as reações mais épicas/inesperadas?
A primeira pessoa a saber foi o meu marido. Ficou radiante porque já estávamos a tentar engravidar há algum tempo e queria ir logo contar a meio mundo. É a inexperiência de pai pela primeira vez! Claro que o fiz ver que o bom senso diz para se esperar um mês ou dois para ver se está tudo bem e só depois dar a notícia. Mas contámos logo aos nossos pais, que também ficaram nas nuvens. Foi a primeira neta de ambos os lados e, como tal, muito desejada e mimada.

Como correu a experiência da primeira gravidez? Houve diferenças entre umas e outras? Prós e contras, vale tudo…
A primeira gravidez correu sempre muito bem! Eu sentia-me verdadeiramente em estado de graça! Nunca me senti enjoada, a não ser o facto de o café (que sempre gostei) não me saber bem. Estive sempre bem disposta, com energia e a trabalhar até ao fim da gravidez, sempre com diretos e exteriores e até viagens pelo meio.
Na segunda gravidez (de gémeos) já não foi exatamente igual. Também me sentia bem, mas o peso de dois bebés já é bem diferente. Tive apenas dois enjoos e foi numa viagem. Sempre me alimentei muito bem, pois sabia que tinha dois seres a sugarem-me tudo! Porém, sempre tive consciência que não precisava de comer por dois ou três neste caso, sempre de mais importância à qualidade do que comia, pois a nossa saúde e dos bebés depende muito mais dos nossos hábitos de vida saudável.

Na primeira gravidez continuei a treinar, embora um treino adaptado à minha condição. Na segunda, já treinei muito menos e como tinha uma vida muito ativa já era um bom treino!
Penso que assim como não há dois filhos iguais, também não haverá duas gravidezes iguais. A segunda por serem dois, senti-me mais cansada para o fim do tempo, os bebés não eram propriamente pequenos e sentia que não tinha mais espaço para eles e cada vez que decidiam mudar de posição eu sentia algum desconforto e no fim do tempo, já só conseguia dormir praticamente sentada.




Como a minha profissão envolve algum stress, o médico aconselhou-me a abrandar o ritmo no último mês, para que não nascessem prematuros e assim fiz. Correu tubo bem até à marcação da cesariana no tempo previsto.

Devo dizer que tive das melhores experiências nos meus dois partos. A equipa foi a mesma, tudo correu como previsto, senti-me sempre nas mãos dos melhores profissionais que me deram a maior tranquilidade para que eu vivesse a melhor experiência da minha vida em pleno!
Quando o primeiro filho nasceu, quais foram os seus primeiros pensamentos?
Quando nasceu a Carolina, a primeira, o pensamento/dúvida, é se vamos ser boas mães e pais, se vamos dar conta do recado de um ser que depende exclusivamente de nós. Mas rapidamente somos inundados de uma onda de amor incondicional e de uma força invencível. Como se o mundo de repente estivesse todo ali concentrado em nós!

Surgem algumas dúvidas com os primeiros contratempos, pois nem tudo é sempre um mar de rosas, mas eu também não costumo ligar o "complicómetro". Por isso, tudo foi correndo muito bem. Mesmo as noites mal dormidas, mesmo a amamentação ou as primeiras cólicas ou gastroenterites.
A parte menos boa e mais stressante foi voltar ao trabalho apenas dois meses depois e numa fase em que estava ainda a amamentar. Tinha que extrair o leite diariamente, o que aconteceu nas duas gravidezes.
Lembra-se de quais foram as recomendações mais "enervantes" dos amigos e da família?

Há sempre recomendações de toda a família e até de fora, como por exemplo que o bebé deve ir para o seu quarto dormir sozinho a partir dos 3 ou 4 meses… eu nunca fiz isso. Os meus filhos só foram para o seu quarto quando tinham cerca de um ano de idade. Eu não ficaria tranquila, para além que passaria a noite toda a levantar-me de cada vez que ouvisse um gemido (risos!). Tendo-os ali ao meu lado era só deitar o olho ou dar-lhes a mão que ficavam logo calmos.
Outra recomendação frequente é a que não se deve dar demasiado colo ao bebé ou demasiado mimo. Eu sempre segui os meus instintos.
Quando é que os seus filhos a tiram do sério?
Os meus filhos tiram-me do sério quando se pegam uma com os outros, mas isso é tudo normal. Tanto estão bem dispostos e a brincar, como de repente está a casa virada do avesso.
O que faz quando os seus filhos não estão a ver, mas que lhes diz para não fazer?
Há poucas coisas que lhes digo para fazer que eu própria não cumpra, porque a melhor forma de ensinar é dar o exemplo. Mas digo-lhes sempre que devem deitar-se cedo para terem uma boa noite de sono e que disso depende o seu rendimento, algo que eu nem sempre o faça.
Qual foi a maior asneira do pai? Aquele dia em que estava despistado e…
O pai não fez muitas asneiras, sempre soube fazer as mesmas coisas que a mãe, mas chegou a vestir ao bebé algo do avesso ou parecido. Mas mais grave, foi ter adormecido num semáforo vermelho, logo nos primeiros dias de noites mal dormidas. Mas não aconteceu nada de grave, só o condutor do carro de trás a bater no vidro para o acordar.

Quais são os maiores desafios da maternidade, a par de ser mulher e da profissão?
Ser mãe é um dos maiores desafios que teremos pela frente, principalmente pela responsabilidade de educar uma criança. Conciliar com a atividade profissional não é fácil, gerir o tempo e, principalmente, a estabilidade emocional desejada para fazer as melhores escolhas e opções na vida de pais ou casal. As ofertas de hoje são tão vastas que as nossas crianças e adolescentes precisam mesmo de algumas diretrizes para se sentirem autoconfiantes e decidirem o que é melhor para elas. Os pais não devem dizer para onde seguir, mas mostrar os vários caminhos que têm pela frente e dar-lhes segurança, muito amor e confiança para escolher.
É importante ter momentos só para si? De que forma é que consegue fazê-lo?
É muito importante ter tempo para mim. A estabilidade para educar os filhos depende da nossa própria estabilidade, saúde física e mental. Por vezes, ficámos tão envolvidas com o nascimento do bebé, que nos esquecemos de nós, e do "nós" enquanto casal, anulamo-nos. Uma vez passada essa fase, é importante ter consciência que continuamos a ter a nossa identidade.
O que é que continua a ser tabu na maternidade, no ser-se mãe?
Os tabus da maternidade, felizmente, estão mais esbatidos. O facto de muitos pais serem também chamados à responsabilidade de educar é um passo em frente. Porém, a "carga" continua muito do lado da mulher que deve ter sempre sopa feita no frigorífico para o seu filho, a roupa toda lavada, a disponibilidade toda do mundo para cuidar e um sorriso sempre feliz ao fim do dia!
