Custa a levantar-se? Cinco regras de ouro para acordar com energia
Chega de começar todos os dias com a sensação de que fomos atropelados por um camião. Descobrimos as melhores sugestões para nos levantarmos facilmente e com energia.
Só sabia o seguinte: ia fazer um tratamento hammam, um banho com vapores relaxante e energizante. Não fazia ideia que, do outro lado da porta, me esperava Meriem, uma terapeuta marroquina a viver no Algarve, cheia de energia e com uma pele luminosa, lindíssima, que me conduziu a uma sala de tratamento. No seu interior, pede-me que me dispa e fique só com o biquíni. Encaminha-me para um compartimento, que é o banho turco, cheio de vapores e óleos essenciais que me enchem imediatamente as narinas. Antes, conversamos. Será sempre assim, durante duas horas, nunca há silêncio, o que de início confesso que estranho. Descalço-me e gentilmente caminho até à pedra deste banho turco, onde me sento, sob indicação de Meriem. Suspeito, volto a dizer, que fale o tempo todo, mas venho depois a compreender que faz parte da tradição árabe, "é como se fosse um momento de partilha entre mulheres." Este banho, explica-me a minha terapeuta, é feito semanalmente na cultura marroquina, e a base é sempre a mesma: faz-se como um gesto de bem-estar, um ritual imprescindível na vida de qualquer marroquino. "Quem tem menos posses dirige-se a alguém para que lhe dê banho. É uma coisa natural, uma troca, nunca se nega." Percebo que há uma à-vontade maior com o corpo em relação aquele que existe entre os ocidentais. "Para nós é natural. Lavar o corpo com sabão negro é uma coisa como outra qualquer. Não há vergonha na nudez, mesmo que parcial", explica-me, enquanto me estica vigorosamente um braço para o regar com água morna.
De forma cuidadosa, Meriem vai-me banhando o corpo com água quente que tira de um balde de madeira. Aplica-me o tal sabão negro, e assim fico 10 minutos, já deitada, com a barriga para baixo, enquanto a loção atua. É um momento para descontrair, diz-me. "Tente não pensar em nada. Geralmente, só à segunda vez é que as pessoas ficam mesmo, mesmo bem esfoliadas, tem tudo a ver com a abertura e consequente resistência ao ritual, a nossa pele também tem um efeito tensor quando não estamos à vontade." O passo seguinte é esfregar os braços, as mãos, as pernas, os pés, o pescoço, a barriga, sempre de dentro para fora. Meriem efetua todos os movimentos com uma naturalidade que confere uma certa graça à situação. Penso que a forma como encaramos este tipo de rituais deve ser muito diferente, embora as semelhanças culturas sejam evidentes. "Nunca me senti tão em casa como em Marrocos", digo-lhe, recordando uma viagem, memória despertada pelos aromas a argão e rosa. "Ninguém sabe explicar, a nossa ligação é muito forte", garante-me, dizendo que os portugueses sempre lhe dizem isso desde que se mudou para o sul de Portugal. Ela também sente a sintonia.
Meriam conta-me histórias de mulheres que, semanalmente, nas suas sessões de hammam, desabafam sobre as suas duras vidas conjugais, sobre os direitos que ainda não têm nesse país do norte de África, sobre as angústias que as assolam com os costumes, alguns deles já ultrapassados. "Fica lá tudo. Deixámos lá tudo. É uma espécie de terapia conjunta e une muito as mulheres." Entretanto, a minha pele que já era lisa – diz-me ela - agora parece flutuar. Meriem desenha círculos na minha pele e insiste em trajetórias específicas, com um compasso que só ela sabe fazer, de forma muito genuína. "Nem toda a gente sabe fazer, não pode ser feito à pressa. Tudo isto requer método e calma." Só aí começo a respirar. Vai-me sempre dizendo para me fazer respirações profundas, enquanto me joga baldes de água para cima sem avisar, para meu espanto inicial. É nesse momento que penso ser fundamental escrever sobre o ritual. Quando era pequena adormecia a mexer no cabelo da minha mãe, penso, e agora é Meriem que me passa um óleo mentolado no cabelo, com uma generosidade desarmante, e quase adormeço. O cabelo fica de imediato mais leve, parece que ganhou vitalidade. A minha pele brilha, reluz, gotas gordas rolam pelo corpo, agora mais desimpedido de impurezas e com os poros livres da poluição cada vez mais agressiva da cidade. É como se fosse um renascer. A sensação de limpeza espiritual, por mais 'placebesca' que seja, funciona. Saio mais leve do hammam, onde passei duas horas quase sem me aperceber. Além da pele sedosa e hidratada, o que fica é a sensação de sororidade. A coisa ténue que nos une, na condição universal de mulheres, uma compreensão que vai além de qualquer ritual.
*Meriem faz este tratamento no Hilton Vilamoura.