Se prestarmos atenção, no nosso círculo pessoal e no trabalho, identificaremos pessoas que estão constantemente a pedir desculpa por tudo, até mesmo quando não têm culpa. Ao contrário do que a maioria poderá pensar – que se trata de excesso de educação – ter esta iniciativa de forma regular pode esconder um problema emocional. Line Mourey, uma psicóloga clínica e psicoterapeuta, analisou a tendência de pedirmos desculpa de modo permanente. Citada pelo website americano The Limited Times e, mais tarde, pela Madame Figaro, Mourey esclareceu de onde pode surgir essa ação e como pode voltar a aprender a pedir desculpa quando realmente é necessário, partindo de três razões principais.
Baixa autoestima
Segundo a psicóloga, este é um dos fatores para quem tem comportamentos que correspondem aos de um "desculpador frequente". Ao ter a sensação constante de ser inferior e imperfeita/o, acaba por sentir a necessidade de estar sempre a desculpar-se para, de alguma forma, conseguir compensar essa diferença em relação aos outros. "A baixa autoestima faz parecer que não merecemos estar lá tanto quanto os outros. Teremos então a tendência de nos desculparmos por respirar, por nos movimentar…enfim, por existir", identifica Mourey.
Meio ambiente e educação
As regras e normas da sociedade em que cresce podem afetar com alguma regularidade as suas interações. Segundo Mourey, desde a infância que as pessoas adquirem o hábito de pedir desculpa para se adequarem às "normas" da educação. E é por isso que acabamos por associar o pedido à ação correta que devemos ter publicamente. Para esta psicóloga é importante "saber dizer não", verbalizar as próprias necessidades e vontades e ter a capacidade de pôr o bem-estar em primeiro lugar, o que nem sempre implica pedir desculpa por tudo e por nada.
Ciclo vicioso
Uma pessoa que pede frequentemente desculpa está à espera de uma validação por parte dos outros, o que nem sempre acontece. "Quanto mais nos desculpamos, mais perdemos a confiança em nós mesmos porque nos convencemos de que erramos a toda a hora", garante. A psicóloga diz ainda que ao estar a pedir desculpa sem necessidade, está a adotar uma posição de submissão e que no momento do pedido está a dar muito poder a quem recebe as desculpas, "pode escolher aceitar ou recusar as nossas desculpas e pode livrar-nos do nosso sentimento de culpa ou, ao contrário, condenar-nos".
Como resolver?
Para saber definir os seus limites e perceber as suas capacidades, Line recomenda trabalhar a auto-afirmação em duas etapas. Primeiro é importante um trabalho cognitivo que consiste em repensar as crenças em relação a alguém. "Muitas vezes tendemos a ampliar as consequências que as nossas ações podem ter. Devemos, sim, racionalizar os nossos pensamentos para entender que não precisamos de nos desculpar à menor coisa", sugere a psicóloga.