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Inês Gaya: "Portugal é dos países da Europa com maior prevalência de perturbações mentais"

Especialista em cura emocional e mentora de autoconhecimento, Inês dedica a sua vida a ajudar pessoas no seu processo daquilo a que chama "despertar de consciência".

Foto: D.R
07 de agosto de 2023 Vanda Carreto / Com Rita Silva Avelar
Licenciada em psicologia clínica e especialista nas áreas do auto-conhecimento e cura emocional, Inês Gaya dedica grande parte da sua vida a ajudar os outros a ultrapassar dificuldades relacionadas com a saúde mental. Num país onde cada vez mais são abordados temas como a depressão e o suicídio, a mentora tem como um dos seus grandes objetivos ajudar as pessoas a descobrirem o seu próprio caminho. 

Quando e como surgiu esta paixão por querer ajudar os outros?

Lembro-me de ter 12/13 anos e de ler autores como Daniel Sampaio e Paulo Coelho. Desde cedo sempre tive uma inquietação para conhecer a mente humana e uma imensa curiosidade pelo lado mais profundo e até místico da vida. Aos 15 anos já tinha claro que queria ajudar pessoas, acompanhá-las na sua jornada de transformação e quando tomei contacto primeiro com a disciplina de filosofia e depois com a de psicologia, percebi que o meu caminho era sem dúvida por ali. Com 18 anos estava a iniciar a minha jornada na vida adulta, na faculdade e no curso que queria e a viver sozinha perto do mar. 

Inês Gaya conta com mais de 100 mil seguidores na sua conta de Instagram.
Inês Gaya conta com mais de 100 mil seguidores na sua conta de Instagram. Foto: D.R
Sente que ainda existem pessoas com algum receio em pedir ajuda no que toca à saúde mental?

Penso que não é tanto o receio, mas sobretudo existem pessoas que não sabem pedir ajuda porque aprenderam que tinham de tomar conta de si, pessoas que se sentem muito sozinhas e que lidam desde sempre com tudo sem a ajuda de ninguém. E depois existem pessoas que não têm condições financeiras para cuidar da sua saúde mental e aí é cada vez mais gritante uma reforma e no sistema nacional de saúde no sentido de dar mais importância à saúde mental e à capacidade de resposta que sem dúvida tem de ser maior. É triste que a maioria das pessoas ainda tenha de recorrer ao privado para ter uma resposta mais rápida no tratamento da sua saúde mental pois existem apenas 250 psicólogos para todos os centros de saúde. E quem não tem essa possibilidade?

Portugal é dos países da Europa com maior prevalência de perturbações mentais, incluindo as perturbações de ansiedade e depressão, por isso há muito trabalho a fazer no nosso país em relação à saúde mental.

Todos os dias procura saber mais sobre este mundo espiritual?

Todos os dias estudo, leio, medito e procuro conectar-me de forma mais profunda comigo mesma. Só isto é suficiente para viver de forma mais presente e agradecida, porque acredito que todos somos seres espirituais habitando um corpo físico. Acredito que somos corpo, mente e espírito e que tudo está ligado precisamente pelo espírito. Basta contemplar verdadeiramente a natureza, os seus ciclos, ou a imensidão do céu à noite para perceber que há algo de muito profundo nesta experiência. A vida é mais do que pagar contas e acumular coisas. Por isso não consigo separar o meu interesse desde sempre em compreender a mente humana e ao mesmo tempo buscar o sentido da vida. É este "Grande Mistério" que motiva diariamente a minha jornada. 

"Portugal é dos países da Europa com maior prevalência de perturbações mentais, incluindo as perturbações de ansiedade e depressão". Foto: D.R
Sente que as viagens que faz a ajudam no seu autoconhecimento?

Inicialmente julgava que a minha paixão por viajar se devia ao facto de adorar conhecer culturas diferentes, conectar-me com pessoas e histórias e sair para "fora" do meu mundo de referências. Mas depois descobri que as viagens para "fora" são também viagens para "dentro" de mim, e através desse movimento que é viajar, eu consigo conectar-me comigo sem "ruidos", consigo ganhar clareza e perspetiva sobre questões internas, tomo decisões com maior certeza. Viajar para mim é uma experiência muito interior, de inspiração, criatividade. Viajar é sobre abrir horizontes fora e dentro de mim e é o melhor presente que tenho oferecido ao meu filho.

Desenvolveu o seu próprio método, o Método Gaya. Em que é que este consiste?

O Método Gaya é o resultado de 10 anos de desenvolvimento pessoal, em que viajei pelo mundo a conhecer vários professores, terapeutas e mestres espirituais. Passei por muitas experiências transformadoras, formei-me em diversas técnicas terapêuticas e fui construindo uma forma de trabalho muito própria, unindo o que aprendi com a sabedoria ancestral e as psicoterapias contemporâneas. Através deste método trabalho atualmente com grupos quer presencialmente, quer online. Tenho tido o privilégio de levar a mensagem e as ferramentas do autoconhecimento a milhares de pessoas através dos retiros, viagens e cursos online sobre autoconhecimento e também dou formação a terapeutas, facilitadores e psicólogos. O propósito do método e de todo o nosso trabalho é que através do autoconhecimento as pessoas possam de facto transformar-se, realizar a sua cura emocional e fortalecimento mental para viverem vidas mais felizes e realizadas. 

"Precisamos desenvolver uma consciência muito assertiva quanto às redes sociais, limitar e trabalhar junto dos mais jovens para os capacitar". Foto: D.R

Sente que as redes sociais, de alguma forma, prejudicam a saúde mental das pessoas?

Sem dúvida que as redes sociais têm um papel positivo nos dias de hoje, no acesso a inspiração, na conexão com outras pessoas que partilham da mesma visão que nós e a nível profissional é uma excelente plataforma para partilhar o nosso trabalho e fazer chegar a nossa mensagem a um grande número de pessoas. Mas no que toca à saúde mental é preciso ter muito cuidado na sua utilização.
A que é que precisamos de ter atenção?

Eu tenho 38 anos e a minha geração não me preocupa tanto, pois crescemos sem a cultura das redes sociais, mas as gerações mais jovens preocupam-me muito. Arrisco a dizer que as redes sociais são provavelmente as maiores responsáveis pelo aumento dos índices de ansiedade, transtornos de humor, consumo de substâncias, fobia social, redução de autoestima e até mesmo suicídio nas faixas mais jovens. E grande parte destes problemas são consequência do cyberbullying. Precisamos desenvolver uma consciência muito assertiva quanto às redes sociais, limitar e trabalhar junto dos mais jovens para os capacitar, para lhes dar ferramentas de autoestima, limites pessoais e ajudá-los a desenvolver relações reais de amizade. É urgente a socialização, o fortalecimento das relações e a comunicação autêntica entre seres humanos. Precisamos de amigos, de amor e de uma rede de apoio. Recordar que somos movidos a amor e esse amor é vital à nossa vida desde que nascemos.

Tem alguma rotina matinal que a ajude a começar da melhor maneira o dia?

A minha rotina matinal é simples e super eficaz.

  • Acordo de manhã e tomo meio um copo bem grande de água com meio limão espremido;
  • Vou para o meu "cantinho sagrado" e das duas uma: ou faço uma respiração ativa ou danço por 5/10 minutos.
  • Sento-me a meditar em silêncio, e vou escutando o que vai dentro da mente e do coração (5/10 minutos);
  • Se sentir necessidade escrevo, permito-me colocar em palavras o que fui sentindo na meditação;
  • Agradeço por pelo menos 3 coisas que tenho na minha vida;
  • Agora sim estou pronta para um duche e um belo pequeno almoço.

Esta rotina demora 20/30 minutos e muda completamente o meu dia.

Como é gerir o trabalho com a vida pessoal?

Confesso que por ser completamente apaixonada pelo que faço, tenho temporadas em que trabalho muito e de facto são muitas pessoas, muitas histórias de vida e muitas emoções. Mas tenho os meus horários muito bem estabelecidos durante a semana e a partir das 17h que é a hora de ir buscar o meu filhote à escola, fecho o capítulo trabalho e não volto a ligar o computador e telemóvel. E faço muitas pausas no trabalho ao longo do ano, a saúde, a liberdade e a família são os meus valores mais importantes e por isso são a minha prioridade, absolutamente vitais para que consiga dar em qualidade aos meus alunos e clientes. 

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Saúde, Educação, Saúde Mental, Inês Gaya, Auto-Conhecimento, Depressão, Suicídio
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