Café normal vs café descafeinado: qual faz melhor e pior à saúde?

A controvérsia sobre os efeitos destas duas variáveis na saúde tem sido um tema debatido. Numa conversa com um especialista, procurámos entender melhor os benefícios e os malefícios destas duas opções.

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19 de abril de 2024 às 07:00 Safiya Ayoob / Com Rita Silva Avelar

Para os amantes incondicionais de café, a decisão entre o tradicional e o descafeinado transcende a mera necessidade de energia. É uma escolha que envolve tanto o prazer do paladar quanto a preocupação com a saúde. Afinal, quando se trata de café, cada chávena é uma ponderação entre o sabor e o bem-estar.

Vamos ao que interessa: o café e o café descafeinado diferem principalmente na presença ou ausência de cafeína e nos métodos de descafeinação - potencialmente envolvendo solventes químicos como o cloreto de metileno. A cafeína, embora seja uma substância naturalmente presente no café, pode desencadear uma série de efeitos adversos. Gonçalo Botelho, médico especializado em Medicina Geral e Familiar, mas também em Medicina Preventiva e Funcional na Clínica Pilares da Saúde, começa por esclarecer: "É importante referir que, de todas as substâncias presentes no café, a cafeína é aquela que tendencialmente devemos evitar. A cafeína age como antagonista dos receptores de adenosina [isoladamente é o principal vasodilatador produzido na microcirculação], estando associada à ocorrência de palpitações, ansiedade, tremor, insónia, dores de cabeça, (...)." O médico acresenta ainda que este composto energizante "está relacionado com a diminuição dos níveis de magnésio no organismo, um mineral essencial já escasso na nossa alimentação e um dos mais consumidos pelo corpo humano, tanto devido às centenas de funções que apresenta, como devido ao stress que vivemos diariamente. A cafeína pode induzir dependência, se consumida em excesso, tendo o potencial de provocar sintomas de abstinência quando o seu consumo é cessado (...)." No entanto, é de destacar que o seu impacto varia de pessoa para pessoa, dependendo do metabolismo individual.

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Nem tudo é negativo, existem substâncias positivas existentes no café e também no descafeinado. Estes benefícios estão relacionados com os antioxidantes e nutrientes presentes no café, embora em quantidades menores no descafeinado devido ao processo de descafeinação. As pesquisas recentes sugerem que tanto o café quanto o "decaf" podem estar associados à redução do risco de várias condições, como é o caso da "Diabetes Mellitus Tipo 2, Doença de Parkinson e Doença Neurodegenerativa. Os estudos comprovam também que ajudam a prevenir doença hepática, exercendo um efeito protetor sobre o fígado. O café descafeinado parece estar também associado uma ligeira redução da probablidade de ocorrência de AVC e doença cardíaca". 

Entretanto, os potenciais riscos do café descafeinado estão ligados aos métodos de descafeinação, especialmente ao uso de solventes químicos como o cloreto de metileno. Este composto, comprovadamente prejudicial à saúde, pode deixar resíduos no café descafeinado, aumentando o risco de exposição a estas substâncias nocivas. Gonçalo Botelho reitera: "o cloreto de metileno é utilizado como removedor de tinta, verniz ou gordura. É uma substância comprovadamente prejudicial para a saúde das pessoas, particularmente se inalado."

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Perante este cenário, a escolha entre o café normal e o descafeinado deve considerar diversos fatores, incluindo o metabolismo individual, a qualidade do café e os métodos de descafeinação. Recomenda-se limitar o consumo de café normal a uma ou duas chávenas por dia, segundo o médico, especialmente para os metabolizadores lentos da cafeína. No caso do café descafeinado, é preferível optar por marcas que utilizem métodos seguros de descafeinação, como dióxido de carbono ou água, evitando assim a exposição a solventes químicos prejudiciais à saúde.

A escolha entre café normal e descafeinado deve ser uma decisão consciente, baseada nas características individuais e na procura por uma opção que ofereça benefícios à saúde sem comprometer a segurança. Independentemente da escolha, o consumo moderado é fundamental para desfrutar dos potenciais benefícios do café enquanto se minimizam os riscos à saúde.

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