
Recordo-me perfeitamente do momento em que a minha mente começou a divagar – e eu sou bastante prática nestas coisas –, portanto, da listagem de tarefas para o dia seguinte até ao pior pensamento que se pode ter durante o sexo foi um pulo, "mas quando é que isto acaba?". Por mim, tínhamos terminado ao fim de dez ou quinze minutos (não que estivesse a contar, mas suponho que terá rondado isso), quando tive um orgasmo bastante satisfatório. Confesso até que me surpreendeu e dei um high five mental a mim própria. Afinal, isto dos orgasmos em tempo recorde durante o sexo casual nem sempre é uma promessa cumprida. Mas nessa noite estava bastante focada em cumprir com o propósito daquele encontro e daquela foda em particular: ter um orgasmo - o que seria não ter, já agora… -, e contrariar a minha psicóloga que, numa sessão uns dias antes, defendera fortemente a ideia de que deveria dar uma última oportunidade a este date.
Já tínhamos tido alguns encontros, todos desinteressantes e focados no quanto ele, supostamente, me compreendia e no quanto poderia contar com a sua ajuda para ultrapassar os meus "problemas". De todas as vezes, eu sorria e respondia que não precisava de ajuda para ultrapassar os meus "problemas", eventualmente, precisaria de apoio. Já pagava a uma psicóloga para ter aconselhamento profissional. Voltando a ela, a opinião era de que eu estava a embirrar com o tipo. Era um bom rapaz, meio carente, sim, mas estava disponível para estar comigo, para me tratar bem, para me mimar. "Estás habituada a tipos que te tratam mal, que não querem saber de ti, que são um desafio. Agora, tens um que gosta de ti e te quer e tu não o queres", dizia. Não tinha propriamente como discordar, aliás, este deve ser um dos maiores clichés no que diz respeito aos relacionamentos – queremos sempre o que não podemos ter e muito, mas muito, quem não nos quer.

Pensei que poderia recorrer ao argumento de que a química não se constrói, ou se tem ou não tem, que tinha tentado e ao fim de vários dates continuava a faltar qualquer coisa. Afinal, ele era loiro e toda a gente sabia que só um moreno de olhos verdes me tira do sério. A sugestão dela tinha sido algo como: "Acho que deves voltar a ter um date com ele, só para teres mesmo a certeza e perceberes o que sentes realmente. Acho que te deixas condicionar demasiado. Desfruta!". Farta de saber o que sentia estava eu, aborrecimento, do mais puro, mas não se contraria a psicóloga. Pensa-se sobre o que diz e depois toma-se uma atitude ponderada. Por isso, depois de 5 minutos de ponderação o meu objetivo era simples: tentaria e falharia, com toda a certeza, mas falharia só para ter o gosto de dizer que tentei.
Convidei-o para jantar, vimos um filme, nem sequer me recordo qual, fingi que não notava quando a cada suspiro se aproximava mais de mim no sofá. Também fingi não perceber quando, já apoiado em mim, começou a fazer-me carícias na coxa despida até que, já sem paciência, mas determinada, lhe peguei na mão e a pousei mais acima. Acho que nesse momento disse adeus à romântica que existia em mim e me assumi como a pessoa prática e desempoeirada que sou, porém, minutos mais tarde dei por mim num impasse. Ele queria manter o romantismo e teimava em fazer durar a relação. Eu queria acabar com aquele ato de amor fofinho não solicitado o mais rapidamente possível. "Queres ajuda para terminar?", perguntei. "Por mim está bom assim. Não está bom para ti?". "Está", menti descaradamente, exausta e aborrecida, "mas preciso de água", acrescentei e fugi.
Na cozinha, enquanto bebia água encostada ao balcão tive um dos mais complexos monólogos da minha vida. Como dizer-lhe de forma simpática que teria de se ir embora? Rondavam as duas da manhã, ao sair do quarto reparei que se aconchegava na cama e dei meia dúzia de passos até à cozinha com um único pensamento na cabeça: "Mas que raio de merda fui eu fazer?". Preparei todo o discurso, repeti várias vezes, entrei no quarto, dei-lhe o copo de água. Ele agarrou, bebeu de um trago, devolveu-me e deitou-se esticando o braço para aquele que deveria ser o começo de uma agradável conchinha. Fez-se um silêncio interminável, deitados lado a lado, enquanto eu mordia o lábio em desespero. Abri a boca e saiu-me "queres que te chame um Uber?". O espanto, a desilusão e um abanar de cabeça que se traduzia claramente num "como é que não previ isto?", seguidos de uma resposta muito educada e meio soluçada, "não, não precisas, tenho o carro lá em baixo". Duas semanas depois, estava na psicóloga a contar o episódio. "Destroçaste o rapaz. Coitado! Deve estar na m****, mas era óbvio que não era homem para ti".

As mulheres (ainda) vão mandar no mundo?
"The future is female". Nos últimos anos, vimos esse slogan por todos os lugares: nas redes sociais, em campanhas publicitárias, em t-shirts, possivelmente até na parede de algum Airbnb. No entanto, agora o statement já não é mais tão certeiro.
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Quanto mais ela explicava, calmamente e com sentido de humor, mais razoável me começava a parecer a ideia.
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"Porque ele precisava de ver como eram os meus orgasmos". A declaração perturbadora aconteceu num recente episódio do programa Watch What Happens Live com Andy Cohen.