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A grande fábrica das mulheres-máquina

Foto: IMDB
02 de novembro de 2022 às 16:21 Cláudia Lucas Chéu

Não é novidade que exigem às mulheres o mesmo que às máquinas: eficácia, velocidade, multifuncionalidade, e preferencialmente que sejam baratas e que tenham um design interessante. Não se considera que as mulheres-máquina trabalhem, elas operam e não são reconhecidas como cirurgiãs. As mulheres-máquina são ou devem ser meras funcionárias sempre operacionais e executar as operações necessárias para que tudo funcione na perfeição. Raramente dão problemas e são de baixa e rara manutenção. Em casa ou no lar é expectável que dêem conta de todas as operações. Se falham é porque são fracas como máquinas, mesmo aos olhos das outras mulheres-máquina que não têm empatia e não têm culpa, foram criadas como aparelhos e assim se comportam sem hesitação, porque as máquinas não hesitam. Quando muito têm uma avaria. Mas não são permitidas avarias às mulheres-máquina. Se há um modelo que dá problemas logo é substituído por outro mais recente, de última geração. Um dia, as mulheres-máquina, cansadas de tanto operar, talvez façam uma greve e interrompam todas as operações. Deixavam cair a palavra máquina e exigiam ser mulheres. Seria interessante ver essa grande fábrica em que se transformou o mundo parar de produzir e ter de admitir que, afinal, sem as mulheres não poderiam continuar a produzir

Nesse dia utópico e eventualmente idealizado por uma escritora-máquina, também as escritoras abandonariam as secretárias e as mesas de café onde operam soluções para os seus textos e iriam todas para a rua. Gozar desse espaço de libertação de deixar de cumprir o ofício de máquina e ser novamente de carne e osso, como um animal deve ser, sem velocidade excessiva, sem eficácia. A esse dia idealizado a escritora chamaria «Mulherização»; embora não fique satisfeita com o nome, reflete uma das coisas que mais deseja: a humanização das mulheres.

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