Quem vota no Chega já não tem vergonha. Hoje somos todos mulheres, emigrantes, idosos, transexuais
No tempo da outra senhora não havia liberdade nem saneamento básico. Dizem que os cofres estavam cheios de ouro, mas Portugal era um país miserável e descalço. Passados 51 anos da Revolução de Abril há quem tenha saudades e se orgulhe disso.

No café de uma aldeia do alto do concelho de Alenquer as pessoas mostram-se satisfeitas. Ganhou o justiceiro, o único que ousou dizer que "vai limpar Portugal".
Esqueceram-se das 12 malas roubadas no aeroporto de Lisboa por Miguel Arruda ou dos alegados crimes de Nuno Pardal Ribeiro, o deputado denunciado por violação de menor. Como se ainda frequentassem a escola primária, alguns deputados do Chega chamaram "aberração" - entre outros impropérios - à deputada do PS, Ana Sofia Antunes, que é invisual. É neste partido que mais de um milhão de portugueses decidiu votar para marcar posição relativamente às legislaturas do Partido Socialista dos últimos 30 anos. Durante a campanha eleitoral André Ventura sentiu-se mal um par de vezes e teve cobertura total dos principais canais de televisão. Mas a essa altura do campeonato já não havia quaisquer dúvidas relativamente às intenções de voto. Quem vota no Chega já não tem vergonha, mas sim orgulho. Quem vota no Chega não sabe distinguir o que são notícias falsas e acredita no discurso fácil. André Ventura diz o que estes eleitores querem ouvir. Como se vivesse dentro dos seus cérebros, como se ouvisse os seus queixumes nas conversas de café. A verdade é que os portugueses não se sentem representados e que Portugal não é Lisboa, nem o Porto.

António Barreto, sociólogo e ex-ministro, escreve no Público:
"É provável que o Parlamento, agora eleito, fique ainda mais malcriado, com debates ainda mais grosseiros, com querelas pessoais ainda mais ridículas."
O parlamento eleito só espelha o país que temos, com tiktokers a violarem e a filmarem-se a violar e a serem libertados depois de indiciados por 51 crimes, entre os quais violação, rapto e pornografia de menores. "Mulher que namora não sai à noite", defende o influencer Numeiro, que aparece no seu instagram com um Ferrari com a palavra "Chega" inscrita no capô. Com milhares de seguidores, muitos deles jovens eleitores, é nestas pessoas que, pelos vistos, o eleitorado se revê e sente representado. A internet é um mundo profícuo para propagar ódios e mentiras. E a mentira tantas vezes repetida torna-se verdade para quem tem falta de literacia política. Vejamos o canal do Youtube "Portugal em Fúria" que, fazendo futurologia, prevê que nos próximos anos Portugal poderá tornar-se um país islâmico. Nos comentários lê-se "Portugal precisa dos Lusitanos para honrar os nossos antepassados que conquistaram 900 anos de história, FORÇA CHEGA". É curioso que, há exatamente 50 anos, se realizaram as primeiras eleições por sufrágio universal no país e que hoje, volvidos 51 anos da revolução que libertou Portugal da noite negra do fascismo, se oiçam pérolas como "um Salazar é que fazia falta para prender estes gatunos".

Antes destilava-se ódio nas redes sociais, agora o ódio saiu dos ecrãs e está nas ruas da amargura. Estes eleitores que votaram em consciência não querem saber dos emails do PAN apagados pela deputada do Chega Cristina Rodrigues, acusada pelo Ministério Público e que será julgada ainda este mês.
É caso para dizer que há vários níveis de corrupção, como se a vida fosse um jogo de computador.
Eduardo Cabrita, ex-ministro da Administração Interna, afirmou em janeiro passado "que 20% dos deputados do Chega têm ou tiveram problemas de responsabilidade criminal". Os eleitores estão fartos de corrupção, mas elegem como segunda força política um partido onde proliferam "pessoas de bem" que são acusadas de violência doméstica, têm penhoras ou são alvos de processos por falsas presenças na Assembleia da República. Como pode ler-se no Polígrafo, todas as acusações proferidas pelo ex-governante do PS estavam corretas.

Com discursos de justiceiro a roçar Robin dos Bosques e com grande impacto nas redes sociais, o Chega atrai o eleitorado descontente com o Serviço Nacional de Saúde e com as políticas relativas à educação e imigração. As desigualdades económicas e perda crescente do poder de compra da chamada classe média poderá ser também tido em conta no resultado destas eleições.
André Ventura e o seu partido promovem também o medo em relação ao desconhecido, acusando a comunidade imigrante de roubar trabalho aos cidadãos portugueses. Apesar das notícias veiculadas pela comunicação social que mostram o contraditório destas realidades, o ruído é que prevalece. Se o português mal ganha para conseguir pagar as contas como é que suporta que o vizinho de etnia cigana receba o rendimento social de inserção (RSI)?
Durante muitos anos Portugal afirmou-se com um país multicultural, mas de repente estamos sentados à mesa com pessoas que fazem um esgar de reprovação ao ouvir "Grândola Vila Morena" ou "Depois do Adeus", esta última senha da Revolução de Abril. Infelizmente todos temos um familiar que tem saudades do tempo da outra senhora e que diz com segurança: "Em Portugal não há racismo, o meu irmão até brincava com pretinhos". Este racismo endémico, esta misoginia e machismo, só mostram que a classe política tem vivido noutro planeta diferente daquele onde o português que acorda de madrugada para ir trabalhar vive. Não são as arruadas das campanhas eleitorais que aproximam os políticos do eleitor, mas sim discursos claros de confiança que lhe proponham uma mudança do seu nível de vida.

Uma amiga brasileira em tempos dizia: como explicar em São Paulo que o comunista do Alentejo vote agora no Chega?
A resposta é fácil, sente-se abandonado. As políticas que são legisladas no parlamento não chegam à planície.
"Eles ainda não viram nada", proclamou ontem André Ventura no seu discurso de vitória. Hoje somos todas/os mulheres, emigrantes, idosos, gays, minorias étnicas, transexuais e estamos todos no mesmo barco. Como disse o Jovem Conservador de Direita: "É a beleza da democracia, o povo falou e disse: quero mais pedófilos, nazis, ladrões de malas e atores especializados em ataques de azia a representar-nos no parlamento." A mim apetece-me gritar: 25 de abril sempre, fascismo nunca mais.

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