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Quem é Yolanda Díaz, a nova estrela da política espanhola?

O seu estilo combativo recrutou-lhe tantos adeptos como inimigos, mas ninguém em Espanha a pode ignorar. A ainda vice-presidente do Governo, Yolanda Díaz, filha e sobrinha de resistentes anti-fascistas, afrontou os setores mais conservadores na última campanha eleitoral.

Foto: Reuters
26 de julho de 2023 Maria João Martins

Foram provavelmente as palavras mais fortes de toda a campanha eleitoral que precedeu as eleições gerais, realizadas em Espanha a 23 de julho: "Deixe de rir-se de nós, senhor Abascal", exortou Yolanda Díaz, lembrando, em pleno debate televisivo, os dois deputados do Vox, partido de extrema-direita, que se riram durante um minuto de silêncio em memória de uma mulher vitimada pela violência machista, na comunidade de Valência. De forma combativa e veemente, a ainda vice-presidente do Governo espanhol desmontava, assim, a estratégia de desvalorização de violência de género usada pelos setores mais extremistas, enquanto Abascal, sacando do número mais visto de mansplaining, a "convidava" a acalmar-se: Afinal, no seu modo de ver o mundo, as mulheres são seres demasiado emocionais para desempenharem cargos públicos. 

Nada a que Yolanda Díaz, nascida há 52 anos na Galiza, não esteja habituada. Chegou à vida política pela via do Direito Laboral, em que se formou na Universidade de Santiago de Compostela, mas os direitos das mulheres e das pessoas LGBT foram uma bandeira que fez sua há muito tempo. Num país como Espanha, em que a paridade na vida política ainda está longe de ser alcançada, o tom afirmativo e enérgico de Yolanda causa alguma perplexidade em setores conservadores, mais favoráveis a uma representação tradicional da mulher. No entanto, para ela a política e o sindicalismo foram a sua primeira escola já que a ainda vice-presidente do Governo vem de uma família de históricos sindicalistas. O seu pai, Suso Díaz, foi militante do Partido Comunista de Espanha, liderado a partir do exílio pelo histórico Santiago Carrillo, e ex-secretário geral das Comissiones Obreras na Galiza. Chegou a estar detido dois meses em 1972 (ainda durante a ditadura), por se recusar a pagar uma multa de 150 mil pesetas pelo "delito" de se ter manifestado contra o assassinato de dois trabalhadores de Bazán. Também o tio de Yolanda, Xosé Díaz, foi membro do Partido Comunista da Galiza e deputado no Parlamento autonómico em representação do Bloco Nacionalista Galego, entre 1997 e 2005. 

"Os direitos das mulheres e das pessoas LGBT foi uma bandeira que fez sua há muito tempo". Foto: Reuters

Como militante das Izquierdas Unidas, Yolanda foi assumindo vários cargos autárquicos (na sua cidade de El Ferrol) e regionais até que, em 2020, Pedro Sanchez a convidou para integrar o seu governo, como Ministra do Trabalho e Economia Social, cargo que, em 2021, passou a acumular com a vice-presidência do Governo. Como Ministra do Trabalho, Yolanda Díaz pode ser creditada pela Reforma Laboral, aprovada no Congresso dos Deputados em fevereiro de 2022 (175 a favor contra 174), que, entre outras medidas, deu prioridade à contratação sem termo aos provisórios, atribuiu maior peso aos contratos coletivos nos salários e garantiu o acesso de empresas com problemas económicos ao Mecanismo RED de Flexibilidade e Estabilização. 

Em novembro de 2021, Yolanda Díaz anunciou a sua intenção de criar uma nova plataforma política para se apresentar às eleições gerais de Espanha, começando aquilo a que chamou um "processo de escuta" dos trabalhadores e das camadas populares, seu eleitorado preferencial. Assim surgiu o Sumar, apresentado publicamente como uma "frente de esquerda, muito atenta aos problemas dos jovens e à emergência ambiental, que acaba de eleger 31 deputados. 

"Em Novembro de 2021, Yolanda Díaz anunciou a sua intenção de criar uma nova plataforma política para se apresentar às eleições gerais de Espanha". Foto: Reuters

Casada com o desenhador técnico Juan Andrés Meizoso desde 2003, Yolanda tem uma filha pré-adolescente, a que deu o nome de Carmela, como a sua própria mãe, prematuramente falecida, antiga operária da Ford na Galiza. 

No natural ardor do combate político, Yolanda Díaz nem sempre é posta em causa pelas suas posições políticas. Como (ainda) acontece a mulheres de esquerda ou de direita, à liça continua a vir o seu aspecto físico e só depois o programa ou o curriculum político. O candidato do Partido Popular Alberto Núñez Feijóo acusou-a de dar demasiada importância à maquilhagem enquanto a Fundação FAES, presidida pelo ex-presidente do Governo, José María Aznar, lhe chamava "figurino neo-comunista confecionado a toda a velocidade com retalhos de Dior." Em Espanha, como em tudo o mundo, até quando terão as mulheres de sofrer este tipo de pressão?

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