Sissi Freeman, a mulher à frente da Granado
Após três gerações na família Granado, a marca foi comprada pelo empresário inglês Christopher Freeman nos anos 90. Hoje é a filha quem lidera os negócios: mãe, empresária, curiosa, conta à Máxima como se mexe na indústria da beleza.

Fundada no Rio de Janeiro em 1870, a Granado Pharmácias – ainda conserva o nome original - é a empresa de cosméticos e medicamentos mais tradicional do Brasil, e uma das mais antigas. A ideia foi, curiosamente, de um português, José Antonio Coxito Granado, que de funcionário passou a proprietário de uma farmácia e rapidamente percebeu que este mercado era promissor. Fundou a Granado, considerada como a farmácia mais antiga do Brasil, que tinha como clientes a elite brasileira, conquistada pela fórmula de José António: plantas e ervas cultivadas de forma artesanal e com efeitos medicinais e um excelente bom gosto estético para adornar os frascos. O negócio valeu-lhe a distinção de D. Pedro II com o título de Pharmácia Oficial da Família Imperial Brasileira.

Em 1994, tinha Sissi Freeman 14 anos, o seu pai comprou a Granado. O empresário inglês viu na Granado uma oportunidade de expansão mundial, e hoje a marca tem mais de 85 lojas conceito e distribui maioritariamente no Brasil, mas já há boutiques em Paris, em Londres, na Bélgica e uma loja virtual que atende toda a Europa e Estados Unidos. Os produtos que venda são desde fragrância para o corpo a sabonetes, e em Portugal a marca cresce a olhos vistos com a linha de fragrâncias para a casa.
Num almoço com a imprensa, em Lisboa, Freeman fala descontraidamente sobre o seu dia a dia de mãe, empreendedora e viajante constante, e de imediato percebemos que é uma mulher cheia de vida e de histórias para contar. Hoje ocupa o cargo de Diretora de Marketing & Vendas na Granado Pharmácias.


Como foi crescer com o negócio da família? Na verdade, o empreendedorismo sempre foi a realidade que conheceu, porque o seu pai é empresário…
Meu pai, Christopher Freeman, comprou a empresa quando eu tinha 14 anos. Tenho lembranças de visitar a fábrica e a loja da Rua Primeiro de Março, no centro do Rio de Janeiro onde a loja foi fundada. O escritório ficava em cima da loja e a fábrica ficava próxima. Depois, aos 17 anos fui fazer faculdade nos EUA e sempre que voltava de férias trazia novidades e ideais. Assim foi começando minha relação com a empresa.
Recorda a sua infância rodeada de olfatos diferentes?

Sim, lembro muito! Uma das primeiras coisas que o meu pai fez foi mudar todas as fórmulas para base vegetal. Nessa busca por melhorar as fórmulas e lançar novos produtos, ele sempre levava para casa as novidades para a gente experimentar.
Sente que isso lhe deu um refinamento extra quanto ao lado sensorial mais apurado?
Sempre gostei muito desse lado olfativo e assim a gente vai treinando o nariz. Quando eu entrei na empresa em 2004 eu sempre participei das reuniões com as Casas de Fragrância. Então sou muito envolvida nisso.


Qual é a história que recorda com mais carinho ao crescer, dentro deste negócio?
Lembro muito de visitar a loja da Primero de Março e de todos os produtos por trás do armarios de vidro, dos móveis antigos, de visiar a fábrica. Os sabontes eram feitos de forma bem artesanal.
Estudou em Harvard. O que aprendeu de fundamental na área do Marketing?
Eu fiz graduação em Ciências Políticas e Economia na universidade de Georgetown, Washington DC. Nada relacionado com a perfumaria, durante o período na faculdade fiz muitas eletivas [disciplinas de livre escolha do aluno] como Marketing, História da Arte, Fotografia... Sempre fui interessada nas áreas mais criativas. Também gostava de ficar pesquisando as lojas lá fora. Enquanto no Brasil a venda de cosméticos ainda era atrás do balcão, nos EUA já começava uma mudança. Por lá, como exemplo, a gente já podia experimentar os produtos com os testers. Isso foi abrindo muito a minha cabeça no momento de fazer o redesign das lojas. Quando eu já estava na Granado, fiz o curso Owner President Management (OPM) de Harvard já pensando no negócio.


Como percebeu que queria seguir e acompanhar a Granado, fazendo-a crescer? Estudou Economia…
Foi por acaso, enquanto estava na faculdade achei que iria trabalhar no mercado financeiro, afinal escolhi estudar Economia. Fiz estágios em bancos de investimento. Quando me formei já não tinha mais essa certeza. Tive a oportunidade de trabalhar em uma marca de cosméticos que estava começando na área de Marketing e Comercial. Em empresas menores você faz um pouco de tudo: aprende a fazer evento, colocar o pedido do cliente, se apresentar para o cliente, criar produtos. O que hoje eu faço. Vim parar na empresa pois meu pai tinha projeto temporario com um designer morava em Nova Iorque e como eu morava lá acabei sendo a ponte. Quando eu voltei para o Brasil para implementar o projeto era para ser temporário, por 6 meses. Estou desde 2004. Quase 19 anos. Nesse projeto começamos a fazer o redesign de todos os produtos da marca. Separámos alguns produtos tradicionais da marca, como o Polvilho Antisséptico, e entendemos que todos os outros poderiam ter a mesma linha de design. Somos a farmácia mais antiga do Brasil, temos produtos tradicionais que estão na família dos brasileiros há gerações. Alinhamos todas as embalagens. Reformámos farmácia da Primeiro de Março e hoje serve de inspiração para todas as lojas da marca.

Como é atualmente um dia na sua vida?
Sou mãe de três meninas: 9, 7 e 2 anos. Uma das coisas que aprendi com meu pai é como é importante saber o que nossos pais fazem quando a gente é criança. Tento envolvê-las sempre. Peço sugestão, levo para o escritório e fábrica. Procuro mostrar o lado positivo do trabalho e passar o conforto delas saberem onde eu estou quando elas estão na escola. Ser mãe hoje é isso: estar lá ou cá. Viajo muito mas com a tecnologia estamos sempre conectadas. Isso ajuda bastante.

Qual é o bestseller da marca, e a sua intervenção nas fórmulas e packaging?
Em termos de bestseller, varia bastante. No Brasil somos muito conhecidos pelos sabonetes e talco. Através das lojas estamos entrando em novas categorias e essas são justamente as que fora do Brasil - em Portugal, França, Inglaterra e Bélgica - fazem sucesso. É a linha de perfumaria e a linha de presentes. As EDTs Carioca e Bossa e os perfumes Boemia e Époque Tropical são um sucesso no exterior.
Qual o objetivo da marca em Portugal?
Portugal sempre esteve em nossos sonhos. Há muito tempo que tinhamos o desejo de levar a empresa de volta para Portugal. O fundador da empresa, Sr. José Coxito Granado era português. Ele veio para o Brasil com 14 anos, começou a trabalhar numa farmácia, depois comprou a farmácia e fundou a Granado. Estamos muito felizes com a receptividade dos portugueses. Queremos encantar cada vez mais os portugueses com nossos produtos.
Quais são os segmentos em que se posicionam e onde estão presentes no mundo?
Hoje temos três lojas, um escritório e centro de distribuição na França, uma store-in-store na Liberty London e duas store-in-store na Inno Belgium, uma loja no Chiado e outra temporária em Cascais, Portugal. Um ecommerce internacional que atende a mais de 30 países e vamos começar a operação nos EUA.

Em 2023 estimam faturar mil milhões, pela primeira vez, é verdade? Que marco é esse?
Em 2022 faturámos mil milhões de reais. E crescemos 24% em relação ao ano anterior. Nosso projeto para esse ano é de crescer 18% mas estamos bem mais positivos. Fechamos o primeiro semeste de 2023, 25% de crescimento comparado ao ano passado. No internacional crescemos 100% em relação ao ano anterior mas ainda é uma fatia pequena no nosso orçamento. E trabalhamos para que seja cada vez mais importante. Em Portugal, além da loja no Chiado temos uma pop-up na Casa da Guia, em breve vamos abrir na Marina de Cascais e entramos recentemente na Perfumes & Companhia. Esperamos crescer ainda mais nossa presença no país.

A marca foi fundada em 1870 como uma botica de elixires e bálsamos. Qual foi a importância que teve nessa altura?
Granado além de ser a Pharmacia Oficial da Familia Imperial Brasileira, era o ponto de encontro de politicos e personalidades da época.
O que é que o seu pai viu na Granado?
Quando meu pai comprou a Granado ele pensou em fazer um turn around e ele acabou por ficar encantado com o negócio. Essa questão de sucessao nunca foi planejada, acontecendo tudo por acaso.
Como diretora de marketing, mãe, líder, representante global, como lida com tudo isso?
É sempre uma responsabilidade. Temos quase 2000 colaboradores no Brasil e Europa. Estamos expandindo. Vamos abrir lojas em Londres e no segundo semestre deste ano entrar no mercado americano. Temos um respeito pela marca. Queremos fazer com que essa história linda seja cada vez mais conhecida pelos ingredientes naturais e por representar a cidade do Rio de Janeiro e nosso país. A gente percebe o interesse de outros mercados. Por que não?

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