A Flor do Cacto

Morte aos homossexuais, diz o Uganda

Desobediência (2018).
Desobediência (2018). Foto: IMDB
30 de março de 2023 Cláudia Lucas Chéu

O parlamento do Uganda aprovou, no passado dia 21 de Março, a lei que torna os actos homossexuais puníveis com a morte. Desde 2013 que a homossexualidade é ilegal no país que está agora a caminho de se juntar à lista de países africanos (Mauritânia, Nigéria e Somália) que punem a homossexualidade com pena de morte. Segundo o presidente ugandês, trata-se de tentar eliminar um comportamento que ameaça a cultura e a família tradicionais do país.

Não sei o que escrever sobre este tema. Por mais que tente, não consigo realizar que podia ser comigo, que eu podia ser condenada à morte hoje porque, tal como uma mulher homossexual no Uganda, me apaixonei por uma mulher. Tenho por enquanto a sorte de viver em Portugal. Digo «por enquanto» porque assusta-me verdadeiramente que pensemos que isto só acontece lá longe e com os outros. Tratam-se de direitos adquiridos, que a qualquer momento podem ser retirados e agravados. Custa-me mesmo acreditar que continuemos a viver este tipo de horror, parece verdadeiramente um argumento de filme de terror. Penso naquilo que podemos fazer no sentido de recuar esta lei que existe no Uganda e em muitos outros países. Não faço ideia, sinto-me totalmente impotente e ignorante. Uso a escrita para denunciar esta aberração, mas que mais posso fazer? Quem pode de facto agir para impedir uma abjecção medieval como esta? Imagino os homens e as mulheres que serão condenados à morte porque amam alguém do mesmo género. Imagino que estão neste momento a viver um terror diário, de besta apontada à cabeça. Imagino como será incompreensível e como os fará sentirem-se doentes ou culpados por amarem alguém. Culpados por amarem outra pessoa, exterminados porque o seu amor é considerado desviante. O que podemos fazer aqui no Ocidente para impedir estas leis? Assistimos a estas notícias como se de ficção se tratassem, mas é a vida de pessoas reais. São pessoas reais que vão ser mortas em nome de uma higienização tradicional. Como explicar ao Uganda e a outros países que um homossexual não é um criminoso? Como explicar de vez que um/a homossexual não põe em risco a família dita tradicional que tanto querem ter? De alguma zona humana tenebrosa, de obscuridade terrível, saem estas leis e estas acções que nada têm que ver com as pessoas que são julgadas, mas com as que as julgam.

*A cronista escreve de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.

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