Diz-me como moras, dir-te-ei quem és
Anne-Sophie Tellier mudou-se para Lisboa e foi estudar design de interiores, depois especializou-se em feng shui, em Paris. Criou a SLO e propõe uma leitura psicoemocional e terapêutica das nossas casas e dos nossos espaços de vida.

É francesa, mas insiste conversar em português. Trabalhou uma década no mundo do luxo, em marketing e comunicação, em Paris e depois na Cidade do México: "Tinha feito a business school e sempre pensei que, no fundo, não era para mim, mas às vezes demoramos a encontrar o nosso caminho". Trabalhou em joalharia e relojoaria, na Cartier, Omega ou Gucci, "marcas super interessantes e crafted, mas estava cansada do mundo empresarial, queria sentir-me mais livre." Começou por lançar online uma loja de móveis vintage, "queria lançar um projecto sozinha, onde pudesse cruzar o mundo da estética e das casas, sempre senti que tinha uma relação com o universo da decoração e esta relação de sensibilidade com os móveis."

Há sete anos veio viver para Portugal, "porque nos enamorámos do país", conta, e aqui resolveu tirar design de interiores e fazer projetos de decoração. "Mas sempre tive a sensação de que faltava algo com mais sentido." Em 2019, foi para Paris fazer um curso de feng shui, o que foi para ela "uma revelação" e "tudo fez sentido": "Percebi a ligação íntima que temos com as nossas casas, elas contam as nossas histórias, é uma brincadeira e um espelho que reflete o nosso interior. A essência do feng shui é compreender isso e trabalhar com as pessoas em bloqueios e dificuldades para criar uma casa mais livre e harmoniosa." A prática ancestral chinesa procura encontrar um equilíbrio e tornar cada espaço confortável, acolhedor, até inspirador.
Em setembro de 2020 Anne-Sophie criou a SLO Feng Shui que aplica esta filosofia milenar às casas ocidentais, aos escritórios, hotéis e outros espaços: "O feng shui é muito pessoal, adapta-se a cada família e a cada pessoa." Agora que estamos a passar por uma pandemia, "vamos querer, cada vez mais, ter espaços exteriores, como um pequeno jardim ou uma varanda, ou mesmo fugir das cidades grandes", e é mais importante do que nunca "estar e ficar bem em casa, perceber a ligação forte que temos com a nossa casa", sublinha. Por outro lado, estar sempre em casa e/ou com muita gente também "cria tensões, por isso é importante fazer limpezas energéticas e estas análises de feng shui, abrir as janelas e deixar a energia fluir." E é essa a sua função, fazer uma análise geral de cada casa.


Primeiro visitam os espaços de uma ponta à outra, tiram medidas e fotografias, falam com os donos para perceber os seus objetivos e modo de vida, para depois "poderem adaptar as necessidades de cada um". Ao estudo de feng shui segue-se uma nova reunião "para entregar o documento que costuma ter umas 60/70 páginas com toda a análise da casa. Depois partilhamos ideias e encontramos soluções". E o que faz realmente a diferença para as pessoas? "A consciência sobre uma situação atual, por exemplo tensões ou dificuldade que vemos em casa ou no trabalho ou na família. Propomos soluções e ajustes para alterar as energias da casa. Vamos trabalhar com elementos de decoração e da Natureza e a ideia é equilibrá-los nas cores, nos materiais, nas formas, mas também nas emoções a que correspondem.

E tudo começa na luz: "Nesta cidade há uma luz extraordinária e, de uma maneira geral, se cada quarto tiver luz natural, tem felicidade e bem-estar", diz. Depois, se as casas são reflexos inconscientes do que somos, não devemos "carregá-las, não é bom acumular, é uma ligação ao passado", aconselha. "Devemos guardar as coisas que trazem algum sentido, não é preciso cortar a nossa relação com os objetos, mas é sempre bom não ter muitas coisas." Da mesma forma, a falta de arrumo pode indicar que a pessoa "não está bem ‘pensada’ para arrumar. Quando compras menos e melhor, cada objeto torna-se especial. Assim, a SLO combina um sentido estético, "de que gosto sempre", e o terapêutico, "de fazer bem aos outros de uma forma mais inteligente e responsável".


E ainda acrescenta elementos da natureza que para o feng shui significa trabalhar no equilíbrio entre a água, a madeira, o fogo, a terra e o metal. E ainda mais agora que "estamos com mais consciência da nossa relação com a natureza", as plantas devem estar saudáveis e espalhadas pela casa, "mas também posso recomendar os lugares mais favoráveis". E devem ter folhas redondas e suaves, porque são símbolo de abundância", aconselha Anne-Sophie. "Assim, estas não devem tapar a vista, nem janelas, nem a circulação, impedindo uma passagem, assim como os móveis". Tudo deve estar "fluído". E os animais? "É sempre bom ter vida nos espaços. Os gatos, por exemplo, têm uma energia muito especial, percebem coisas…" É igualmente importante não ter espaços mortos, "onde nunca vais, têm uma energia baixa e não te deixam confortável". Assim, "cada canto deve ter vida, e os animais difundem a energia por toda a casa." E também ter espaços onde nos sentimos melhor, "por isso é importante ter um espaço para nós, para dormir, para trabalhar, etc, e ter consciência disso é muito bom, e saber partilhá-lo com outras pessoas também."
Uma solução para começar? "Organizar melhor a entrada de casa, é muito importante porque é o que se vê logo quando se abre a porta, e por ela entra a energia. Pode até criar, como fazem os japoneses, uma zona para deixar os sapatos, os casacos e até lavar as mãos. A porta é como a nossa boca, as janelas são os olhos, por isso devem estar sempre limpas e arrumadas."


10 regras básicas
"O feng shui é íntimo e adaptado a cada pessoa ou família, mas também existem regras básicas que todos podemos aplicar", diz-nos Anne Sophie Tellier:
- Cuidar da sua casa: limpar, arrumar e ventilar a casa regularmente, "e tudo circula de maneira muito melhor".
- Não obstruir o seu patamar ou entrada.
- Não colocar a secretária do escritório de frente para a parede, "não tens projecção, visão ou criatividade, devemos olhar para algo de que gostamos, e nos faz bem", e o mesmo é verdade se tivermos encafuados em prédios com paredes à frente.
- Não colocar espelho no quarto e evitar ter quartos sem janelas
- Usar uma cabeceira para ter mais suporte.
- Não colocar flores secas ou cactos, "que têm uma energia mais agressiva." Preferir flores frescas e plantas com folhas arredondadas em bom estado de saúde, "devemos celebrar a vida"
- Não colocar símbolos ou imagens de solidão, tristeza, agressividade ou pobreza.
- Não colocar máscaras que materializam as coisas escondidas.
- Não colocar representações de morte como troféus ou animais mortos.

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