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Diz-me como moras, dir-te-ei quem és

Anne-Sophie Tellier mudou-se para Lisboa e foi estudar design de interiores, depois especializou-se em feng shui, em Paris. Criou a SLO e propõe uma leitura psicoemocional e terapêutica das nossas casas e dos nossos espaços de vida.

Foto: D.R.
15 de julho de 2021 às 07:00 Patrícia Barnabé

É francesa, mas insiste conversar em português. Trabalhou uma década no mundo do luxo, em marketing e comunicação, em Paris e depois na Cidade do México: "Tinha feito a business school e sempre pensei que, no fundo, não era para mim, mas às vezes demoramos a encontrar o nosso caminho". Trabalhou em joalharia e relojoaria, na Cartier, Omega ou Gucci, "marcas super interessantes e crafted, mas estava cansada do mundo empresarial, queria sentir-me mais livre." Começou por lançar online uma loja de móveis vintage, "queria lançar um projecto sozinha, onde pudesse cruzar o mundo da estética e das casas, sempre senti que tinha uma relação com o universo da decoração e esta relação de sensibilidade com os móveis."

Foto: @sandavuckovic

Há sete anos veio viver para Portugal, "porque nos enamorámos do país", conta, e aqui resolveu tirar design de interiores e fazer projetos de decoração. "Mas sempre tive a sensação de que faltava algo com mais sentido." Em 2019, foi para Paris fazer um curso de feng shui, o que foi para ela "uma revelação" e "tudo fez sentido": "Percebi a ligação íntima que temos com as nossas casas, elas contam as nossas histórias, é uma brincadeira e um espelho que reflete o nosso interior. A essência do feng shui é compreender isso e trabalhar com as pessoas em bloqueios e dificuldades para criar uma casa mais livre e harmoniosa." A prática ancestral chinesa procura encontrar um equilíbrio e tornar cada espaço confortável, acolhedor, até inspirador.

Em setembro de 2020 Anne-Sophie criou a SLO Feng Shui que aplica esta filosofia milenar às casas ocidentais, aos escritórios, hotéis e outros espaços: "O feng shui é muito pessoal, adapta-se a cada família e a cada pessoa." Agora que estamos a passar por uma pandemia, "vamos querer, cada vez mais, ter espaços exteriores, como um pequeno jardim ou uma varanda, ou mesmo fugir das cidades grandes", e é mais importante do que nunca "estar e ficar bem em casa, perceber a ligação forte que temos com a nossa casa", sublinha. Por outro lado, estar sempre em casa e/ou com muita gente também "cria tensões, por isso é importante fazer limpezas energéticas e estas análises de feng shui, abrir as janelas e deixar a energia fluir." E é essa a sua função, fazer uma análise geral de cada casa.

Foto: D.R.

Primeiro visitam os espaços de uma ponta à outra, tiram medidas e fotografias, falam com os donos para perceber os seus objetivos e modo de vida, para depois "poderem adaptar as necessidades de cada um". Ao estudo de feng shui segue-se uma nova reunião "para entregar o documento que costuma ter umas 60/70 páginas com toda a análise da casa. Depois partilhamos ideias e encontramos soluções". E o que faz realmente a diferença para as pessoas? "A consciência sobre uma situação atual, por exemplo tensões ou dificuldade que vemos em casa ou no trabalho ou na família. Propomos soluções e ajustes para alterar as energias da casa. Vamos trabalhar com elementos de decoração e da Natureza e a ideia é equilibrá-los nas cores, nos materiais, nas formas, mas também nas emoções a que correspondem.

Foto: @sandavuckovic

E tudo começa na luz: "Nesta cidade há uma luz extraordinária e, de uma maneira geral, se cada quarto tiver luz natural, tem felicidade e bem-estar", diz. Depois, se as casas são reflexos inconscientes do que somos, não devemos "carregá-las, não é bom acumular, é uma ligação ao passado", aconselha. "Devemos guardar as coisas que trazem algum sentido, não é preciso cortar a nossa relação com os objetos, mas é sempre bom não ter muitas coisas." Da mesma forma, a falta de arrumo pode indicar que a pessoa "não está bem ‘pensada’ para arrumar. Quando compras menos e melhor, cada objeto torna-se especial. Assim, a SLO combina um sentido estético, "de que gosto sempre", e o terapêutico, "de fazer bem aos outros de uma forma mais inteligente e responsável".

Foto: @sandavuckovic

E ainda acrescenta elementos da natureza que para o feng shui significa trabalhar no equilíbrio entre a água, a madeira, o fogo, a terra e o metal. E ainda mais agora que "estamos com mais consciência da nossa relação com a natureza", as plantas devem estar saudáveis e espalhadas pela casa, "mas também posso recomendar os lugares mais favoráveis". E devem ter folhas redondas e suaves, porque são símbolo de abundância", aconselha Anne-Sophie. "Assim, estas não devem tapar a vista, nem janelas, nem a circulação, impedindo uma passagem, assim como os móveis". Tudo deve estar "fluído". E os animais? "É sempre bom ter vida nos espaços. Os gatos, por exemplo, têm uma energia muito especial, percebem coisas…" É igualmente importante não ter espaços mortos, "onde nunca vais, têm uma energia baixa e não te deixam confortável". Assim, "cada canto deve ter vida, e os animais difundem a energia por toda a casa." E também ter espaços onde nos sentimos melhor, "por isso é importante ter um espaço para nós, para dormir, para trabalhar, etc, e ter consciência disso é muito bom, e saber partilhá-lo com outras pessoas também."

Uma solução para começar? "Organizar melhor a entrada de casa, é muito importante porque é o que se vê logo quando se abre a porta, e por ela entra a energia. Pode até criar, como fazem os japoneses, uma zona para deixar os sapatos, os casacos e até lavar as mãos. A porta é como a nossa boca, as janelas são os olhos, por isso devem estar sempre limpas e arrumadas."

Foto: @sandavuckovic

10 regras básicas

"O feng shui é íntimo e adaptado a cada pessoa ou família, mas também existem regras básicas que todos podemos aplicar", diz-nos Anne Sophie Tellier: 

  1. Cuidar da sua casa: limpar, arrumar e ventilar a casa regularmente, "e tudo circula de maneira muito melhor".
  2. Não obstruir o seu patamar ou entrada.
  3. Não colocar a secretária do escritório de frente para a parede, "não tens projecção, visão ou criatividade, devemos olhar para algo de que gostamos, e nos faz bem", e o mesmo é verdade se tivermos encafuados em prédios com paredes à frente.
  4. Não colocar espelho no quarto e evitar ter quartos sem janelas
  5. Usar uma cabeceira para ter mais suporte.
  6. Não colocar flores secas ou cactos, "que têm uma energia mais agressiva." Preferir flores frescas e plantas com folhas arredondadas em bom estado de saúde, "devemos celebrar a vida"
  7. Não colocar símbolos ou imagens de solidão, tristeza, agressividade ou pobreza.
  8. Não colocar máscaras que materializam as coisas escondidas.
  9. Não colocar representações de morte como troféus ou animais mortos.

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