A menopausa é como se desligassem a luz quando estamos no meio da pista de dança
Assim como a menstruação muda a vida de uma rapariga para sempre, quando se despede não voltamos a ser as mesmas. Algumas de nós descobrem uma nova liberdade.

Acabo de ler De Quatro, de Miranda July, que a Quetzal tão amavelmente me enviou para casa. Lê-se num sopro, uma escrita vivaz e delirante, lata que só a realizadora americana tem, a mesma que dançou para nós na sua sala, durante a pandemia. Escreve sobre um ponto de viragem de uma artista californiana (que deixa o marido e o filho para embarcar numa viagem de duas semanas a Nova Iorque, de carro), e, meia hora depois de se despedir da família, sai da autoestrada para abastecer e a vida acontece inesperada. Uma espécie de vaipe que muitas mulheres testemunham ao chegar a meio da vida, quando "65 é já amanhã e os 25 algo discutível"; quando "as emoções andam à solta como comboios desgovernados" e reparamos que temos desejos ainda adiados: "Não quis lançar-me a fazer todas as coisas hetero que queria fazer enquanto podia. Deixei-me ficar no ninho como uma galinha complacente, certa de que quando voltasse a apetecer-me pavonear-me tudo estaria exatamente como antes."
Ninguém nos prepara para a menopausa. A sociedade pouco ou nada falou sobre o assunto, como tantos outros femininos, e que estão hoje na ordem do dia, em reposição de justiça divina, como acontece com as minoriais sociais, só que nós somos metade, ou mais, da humanidade. A menopausa, com todos os seus desconfortos, dá-nos uma segunda vida que sabe a segunda oportunidade, depois de nos maltratar um pouco devolve-nos um amor-próprio renovado onde ninguém pisar. Por isso, as mulheres verdadeiramente poderosas, como os homens, só ganham essa densidade quando começam a envelhecer, quando não consegues evitar ser o que realmente és, para além da maquilhagem social.

Há umas semanas, a revista E do Expresso publicou um artigo sobre a sexualidade das mulheres aos 50 anos, escrito na primeira pessoa pela jornalista Mireille Silcoff para o The New York Times. Como outros jornais internacionais de referência, aponta estudos que dizem ser a geração que mais se diverte. Falou com a investigadora geracional Jean Twengue que diz que os dados da Pesquisa Social Geral de 1989 a 2022 apontam "para algum tipo de correlação positiva entre sensualidade e meia-idade (...) Os jovens adultos de hoje têm 30% menos sexo que os jovens adultos no início dos anos 2000. Tal declínio verificou-se em todo o espectro geracional. Mas há uma geração que, ao chegar à meia-idade, apresenta uma queda muito menos pronunciada em relação à frequência sexual, a geração X, que apenas diminui 9%." Como assim, se rondamos os 50 anos? "Quando o século XXI chegou, grande parte da geração X já estava em grande parte formada em termos de hábitos sexuais. E pode ser por isso que, na meia-idade, está a moldar-se para ser possivelmente a geração mais sexy jamais existente."Até podemos afirmar", diz Twengue, "que a geração X é a última geração sexy." Ora toma e embrulha.
A pré-menopausa parece uma morte anunciada, com tantos pequenos sintomas diabólicos e desconfortáveis que nos fazem pensar que, para além de Deus, uma das mais belas construções humanas, também a Natureza parece não gostar muito das mulheres. Depois de tanto lhe dar, recebemos secura vaginal, relações dolorosas e infecções urinárias, sensibilidade mamária e perda de densidade, insónias, depressão, ansiedade, falta de concentração e perda de memória, coração acelerado e aumento de peso, cansaço e perda de massa muscular, articulações mais rígidas e osteoporose, para não ir mais longe. E somos sexy? Se calhar andámos a ser enganadas este tempo todo, como em tantas outras coisas.
Claro que cada uma de nós vive as mudanças à sua maneira diferente, temos corpos, cabeças e vidas diferentes, mas tem momentos que toma conta de tudo e é um desafio à auto-estima. Até sou bafejada pela deusa genética, mas a entrada nos 50 foi - literalmente - a pés juntos. Por muito que as mulheres continuem a fazer de conta que as suas violências físicas e psicológicas e sociais não são nada, porque foi sempre assim, fomos socialmente programadas para parecer que está sempre tudo bem. Afinal somos as reprodutoras e as auxiliares oficiais, nunca nos podemos queixar.

"A ciência não percebe nada da líbido das mulheres", escreveu Miranda July no seu romance. Mas a arte sempre nos falou da viúva sexy e alegre, numa espécie de metáfora de sensualidade. Deve ser isto. Na verdade, a meio dos 40 somos mais livres do que alguma vez fomos: filhos criados e a sair de casa, o que nos faz olhar para o que sobra; já não temos medo de engravidar, nem procuramos um pai para o bebé que gostávamos de ter; também já não somos alvo dos violadores, do assédio no trabalho e dos velhos babados que agora querem pôr a mão na perna das mais novas, pois são um público muito mais fácil. Sentimos que não temos nada a perder, porque não temos e atiramos tudo ao ar, incluindo nós próprias. O agora ou nunca é uma alavanca extraordinária de reinvenção e liberdade: "Será este o segredo de tudo? A liberdade do corpo? A sensação de que é intuitivo e saudável, como se a promiscuidade fosse o meu direito de nascença enquanto mulher. Talvez seja. É este o esquelo no armário da civilização? A razão que levou os homens a serem tão duros connosco desde o princípio dos tempos?" A pré-menopausa também coincide com um sem número de episódios de sociedade patriarcal que insiste no nosso papel essencialmente reprodutivo, por isso nos descarta, nenhum trabalho prefere uma mulher de 50 se puder ter um rapaz de 30. O mundo não dá prémios à experiência e à sabedoria, por isso vai tão bem.
A menopausa é como se desligassem a luz quando estamos no meio da pista de dança, ou faltasse a água quando estamos ensaboadas no duche. O corpo desliga alguns sensores e começa a baralhar-nos. Torna-se um pouco ditador, as hormonas tomam conta de tudo, como sempre. E ninguém se queira meter com elas, são loucura pura a viver dentro de nós.
Se sentimos a chegada da menstruação como o fim da infância, um fim do princípio, a menopausa, por muitos discursos animados e animadores, diz-nos que é o princípio do fim. Não do fim do mundo, muito pelo contrário, mas de um ciclo de vida. Se as mulheres de Balzac estavam mortas aos 30 anos, agora temos filhos aos 40. E, algumas de nós, descobrem uma auto-estima sem concessões. É como se gritássemos, e é tão inconsciente como a Biologia consegue ser: "Alto e pára o baile! Agora sou eu primeiro, pela primeira vez". Por isso, e apesar de tantas vezes termos a sensação de estar numa realidade paralela, a maturidade fica tão bem às mulheres com mais pinta: são camadas e camadas a cintilar.

Finalmente começou a falar-se na menopausa com a naturalidade que tem, está mesmo mainstream, em livros, filmes, modas várias. Se passar a gerar dinheiro, então - e o mercado já percebeu que são as mulheres desta idade que mais e melhor consomem e que o mundo ocidental não vai para novo - vamos todas receber mais atenção e respeito. Pelas mães, avós e bisavós de quem ninguém cuidou porque eram indestrutíveis. A elas vivem encostadas, e continuam a viver, gerações inteiras.
Deve ser por isso que se usa tanto a expressão velha maluca – e eu quero ser uma dessas, por favor! - Das que só fazem o que lhes apetece, que ousadia! "Não penso muito na morte, mas vou-me preparando para ela. Compreendo que a morte há-de chegar e que todas as minhas preocupações actuais são, de certo modo, ingénuas; continuo a proceder como se pudesse ganhar. Não a grande vitória total a que aspirava nas décadas anteriores, mas uma última hipótese de que tudo bata certo antes que chegue o inverno, a minha última estação." Entramos em modo 'já não estou para isso' e é uma maravilha, porque ninguém escapa à menopausa a menos que morra antes do tempo. E é quando estamos de quatro, e pensamos que levamos a estucada final, que plim!, uma segunda oportunidade. "Toda a gente acha o estilo canzana muito vulnerável, mas é na verdade a posição mais estável. É como uma mesa. É difícil derrubarem-te quando estás de quatro".

POPTrait: uma exposição com retratos de ícones mundiais
Quem são as celebridades que mais marcaram a vida de Maísa Champalimaud? São exatamente esses nomes que a artista traz para cada uma das telas que tem na sua recente exposição. Jimi Hendrix, Kate Moss e Frida Kahlo são apenas algumas das caras que poderá encontrar pelas paredes da Galeria Óriq. A Máxima foi conhecer mais sobre a #PopTrait.
Menopausa em Portugal. 38% das mulheres que se apercebem dela não procuram um especialista
Para a maioria, os primeiros sinais da menopausa surgem antes dos 50 anos, com 25% a presenciarem sintomas antes dos 46 anos. Um estudo realizado com mil mulheres demonstra uma realidade muito assustadora.
Horóscopo. Estes signos vão receber as notícias por que esperavam
Chega o sol, volta a boa energia e desta vez nenhum signo ficou de fora. Depois de várias semanas de altos e baixos, finalmente temos sete dias repletos de novidades. No geral, os astros dizem-nos que clareza, energia criativa em alta, relações intensas e cura são alguns dos vários sentimentos que irá viver na última semana de maio.
Como a menopausa pode afetar o seu corpo
Tomámos nota de como o corpo reage no que diz respeito às hormonas, coração, nutrição e ainda sexualmente.