Nunca abandone uma criança no meio de uma birra. Conselhos para lidar com as fitas dos seus filhos
As birras das crianças são um dos aspetos mais desafiadores da parentalidade. "Mas acredite que é possível aprendermos a lidar com elas", explica Clementina Almeida, psicóloga clínica especialista em bebés, que enumera 10 passos para manter a calma e dar-lhes a volta.

As birras são uma parte importante da saúde e do bem-estar emocional das crianças e também um grande desafio para os pais. "A birra é uma espécie de furacão, uma tempestade gigante e intensa de emoções, que geralmente envolve frustração profunda, raiva, perda (por vezes) e desânimo extremo que aparece sem razão aparente numa criança pequena", avança Clementina, psicóloga clínica especialista em bebés e autora do livro SOS Pais - Guia Essencial para Pais de Crianças dos 0 aos 5 Anos.
Normalmente, este quase "surto" emocional pode levar a criança a chorar, gritar, atirar-se para o chão, chutar, morder, bater em si ou nos outros, atirar brinquedos pelo ar, bater a cabeça na parede ou até prender a respiração até não conseguir mais. "Ao contrário do que muitas vezes ouvimos, as birras não são de todo uma forma de controlar o nosso comportamento ou manipular as nossas ações. O cérebro dos mais pequeninos não é capaz de tal performance, eles não são capazes de raciocinar ou manipular a situação (nós, adultos, sim!). A birra é, na verdade, um estado biológico de desregulação emocional", acrescenta a psicóloga.

"Como humanos, nascemos com o cérebro muito pouco desenvolvido, com a capacidade de ter sensações e sentir muitas emoções, algumas delas bem fortes, mas não nascemos com a capacidade de regular estas sensações e sentimentos", continua. "Todos nós já fomos crianças, tivemos os nossos momentos de desregulação e fizemos as nossas birras. Enquanto pais "emprestamos" a nossa capacidade de autorregulação para que os nossos filhos gradualmente a usem e, mais tarde, a internalizem e sejam capazes de se autorregularem. Porque a autorregulação não se aprende nos livros."

10 passos para lidar bem com as birras
Use o "mantra" da birra
"O meu filho não está a manipular-me, está incapaz de regular uma forte emoção, uma forte necessidade e precisa da minha ajuda para se regular."
Mantenha a calma

Quando o seu filho começar a gritar, chutar ou ficar "azul", tente ficar calmo/a. O seu filho já perdeu o controlo de si mesmo e do seu corpo, por isso ele precisa que esteja calmo/a.
Se estiver com dificuldades em lidar com a situação pode retirar-se da cena da birra, dizendo algo como "ok, a mamã/papá precisa de um momento para respirar." Enquanto isso, olhe para o mantra número 1 e diga-o a si próprio/a.
Pratique a sua autorregulação
Pensar em si, na sua própria infância e na forma como os seus pais lidaram consigo quando fazia as suas birras vai ajudá-la/o a perceber quais os comportamentos do seu filho que o desregulam a si e o que fazer para inverter isso.


Mantenha a segurança
Lembre-se que o seu objetivo principal é manter o seu filho seguro, por isso é importante colocar limites para que não se magoe.
Todos na mesma página

Todos os cuidadores, como o seu parceiro/a, os avós ou a educadora devem estar na mesma página sobre como lidar com as birras do seu pequenote.
Use a brincadeira
Se precisar de interromper a birra, tente dizer alguma coisa engraçada ao seu filho ou fazer uma careta. Uma criança muito desregulada pode manter o seu sentimento forte, mas não vai conseguir rir e ter um acesso de raiva ao mesmo tempo.
A sua presença é muito importante

Nunca abandone uma criança no momento de uma birra. Para além de não o ajudar a regular-se, vai dar-lhe uma sensação de abandono terrível.
Evite fazer uma cena
Tente evitar simular uma birra também! Na maior parte dos casos os adultos são os responsáveis por prolongarem a birra. O seu córtex está incapaz de responder, por isso os "sermões" não vão passar de "lenha para a fogueira".
Prevenir

Para conseguir ajudar o seu filho a desenvolver capacidades de regulação, é importante passar tempo a brincar com ele. Nessa brincadeira deixe a criança liderar a escolha da brincadeira e dê-lhe toda a atenção. Ter esta experiência positiva consigo fornecerá à criança as bases para se acalmar da próxima vez que ficar desregulada numa birra.
Atenção aos gatilhos
Esteja atenta/o às situações que tendem a gerar uma birra, e esteja preparada/o: Se o seu filho fica irritado quando aparece um "ratinho" na barriga, tenha sempre consigo um snack saudável. Se a birra aparece quando está cansado, torne as suas sestas uma prioridade máxima. Quando temos que lidar com uma birra isso desperta em nós "grandes" sentimentos, que por vezes desconhecíamos que podíamos sentir! Isto tem a ver com o facto de na nossa infância, provavelmente os nossos pais não terem escutado as nossas "explosões" com muita empatia. E por isso, o comportamento do nosso filho desencadeia lembranças (muitas vezes inconscientes) de como fomos tratados em criança. Isto significa que ser pai/mãe pode ser um processo de "cura" para os nossos próprios desafios emocionais, quando temos apoio e uma oportunidade de sermos ouvidos por nós mesmos.
Depois da tempestade da sua criança passar, aproveite para dedicar algum tempo para cuidar de si: converse com um amigo, dê umas boas risadas e talvez até possa chorar um bocadinho. Acalmar-se requer prática, mas quando conseguimos estamos literalmente a reconectar os nossos cérebros para nos tornarmos pais mais calmos e mais pacíficos.

Psicologia, Crianças, Educação, Birras, mandamentos, Pais, filhos, Saúde, bem-estar, Comportamento
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