Presidenciais norte-americanas. Quem é Kamala Harris?
Uma mulher de sorriso fácil e caloroso, e uma interrogadora feroz nos tribunais, como procuradora, e mais tarde, como senadora, nas comissões de inquérito. Filha de mãe indiana e pai jamaicano. Não tem filhos e só casou aos 50 anos. Será esta a primeira mulher presidente dos Estados Unidos?
Foto: Getty Images23 de julho de 2024 às 11:17 Madalena Haderer
Será desta vez que a Casa Branca vai ser liderada por uma mulher? Depois da tentativa frustrada de Hillary Clinton, é possível que tenha chegado a vez de Kamala Harris, a ainda vice-presidente de Joe Biden, tentar a sua sorte. Porquê apenas possível? Porque o facto de Biden ter saído da corrida, dando todo o seu apoio a Harris, não significa que esta consiga conquistar a nomeação do partido, algo que terá de acontecer na convenção democrata – que terá lugar em Chicago, entre 19 e 22 de Agosto. Só com essa nomeação é que Harris poderá defrontar Trump em novembro.Ainda assim, tendo em conta a forma atabalhoada como a campanha democrata tem decorrido, com a má prestação de Joe Biden no debate com Donald Trump, e as inúmeras e cada vez mais vocais dúvidas sobre a sua capacidade de liderar o país durante mais quatro anos, o mais provável é que Kamala ganhe, de facto, a nomeação, quanto mais não seja, porque o partido não pode perder mais tempo. Afinal, faltam pouco mais de quatro meses para as eleições presidenciais.
Esta é então a altura mais-que-perfeita para fazermos a clássica pergunta: quem é Kamala Harris? E outra pergunta ainda, talvez tão importante quanto a primeira: como é que se diz o seu nome? Kámala? Kamála? Kamalá? A segunda é mais rápida de responder, já que, aquando da sua campanha à vice-presidência, a sua equipa decidiu criar um divertido vídeo para debelar as dúvidas – Donald Trump tem um prazer especial em dizer o nome de Harris de forma errada e nem o vídeo o demoveu.
Kamala Harris tem 59 anos e fará 60 no dia 20 de outubro, a escassos 15 dias das eleições. Se as vencer, será um presente histórico, uma vez que será a primeira mulher presidente dos Estados Unidos. E talvez consiga. A verdade é que há muitas primeiras vezes na vida de Kamala, de tal forma que o conceito está incorporado num dos seus motes de vida, que foi também uma recomendação que a mãe lhe fez: "Podes ser a primeira a fazer muitas coisas, mas certifica-te de que não serás a última." Que é uma forma de sublinhar a importância de abrir caminho não apenas para ela, mas também de forma que outras mulheres possam segui-la, principalmente mulheres cujo destino não é facilitado pela etnia, como é o caso de Kamala.
A atual vice-presidente nasceu em Oakland, na Califórnia, é filha de mãe indiana e de pai jamaicano, que se conheceram quando ambos estudavam na universidade de Berkeley, e tem uma irmã mais nova, Maya. O nome Kamala foi escolhido pela mãe e significa "lótus" e é também outro nome pelo qual a deusa hindu Lakshmi é conhecida. Shyamala Gopalan, a mãe, foi para os Estados Unidos aos 19 anos para estudar e tornou-se investigadora na área do cancro da mama, tendo recebido o seu doutoramento em 1964, o mesmo ano em que Kamala nasceu. Já o pai, Donald Harris, é doutorado em economia e deu aulas em diversas faculdades, tal como a mãe.
Berkeley é uma faculdade com grande história de ativismo racial e tanto o pai quando a mãe de Kamala participaram em marchas e protestos com o objetivo de melhorar as condições de vida dos afro-americanos. Em criança, Kamala foi a muitos desses eventos. Não obstante os valores semelhantes e uma visão do mundo que lhes era comum, os pais de Kamala divorciaram-se quando ela fez sete anos e, como é costume nestes casos, ela e a irmã ficaram a viver com a mãe.
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Shyamala Gopalan, provavelmente fruto dos seus anos de ativismo, parecia ter uma visão muito clara das dificuldades que aguardavam as filhas no futuro – duas meninas que não eram brancas. E, portanto, esforçou-se por criar mulheres fortes e independentes, com orgulho nas suas raízes. Razão pela qual as levava a uma igreja baptista de negros – local importante para a formação de carácter de jovens afro-americanos –, mas também a um templo hindu. E fez questão de as criar próximas da família, levando-as à Índia com frequência.
Uma boa parte da adolescência de Kamala e Maya foi passada no Canadá, quando a mãe se mudou para lá para dar aulas numa faculdade. Quando foi a sua vez de ingressar num curso superior, Kamala regressou aos Estados Unidos, para fazer um bacharelato em ciência política e economia, na universidade de Howard, em Washington, outra prestigiada universidade com historial de ativismo afro-americano.
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Mais tarde, Harris rumou a São Francisco, para tirar um curso de direito, que foi a carreira que seguiu até entrar na política. Nessa altura, Kamala viveu com a irmã, que era já mãe de uma bebé. Harris, por seu lado, nunca teve bebés e esperou até aos 50 anos por um homem que lhe enchesse as medidas:Douglas Emhoff, advogado, e pai de dois filhos, com quem se casou em 2014. Cole e Ella, hoje com 30 e 25 anos respetivamente, tinham, então, 20 e 15 anos, e começaram a tratar Kamala por "Momala" – um trocadilho com o nome da atual vice-presidente e o termo inglês mom, um diminutivo de mãe.
Entre o curso de direito e o casamento, passaram-se 24 anos – tempo que Kamala soube usar em seu proveito. Em 1990, entrou para a ordem dos advogados da Califórnia e tornou-se advogada de acusação. Passou grande parte da sua carreira como procuradora, antes de se tornar procuradora-geral da Califórnia, supervisionando o segundo maior sistema judicial do país. Em 2016, foi eleita para o Senado dos Estados Unidos, tornando-se a primeira americana de ascendência sul-asiática e a segunda mulher negra a servir na câmara, onde se destacou por fazer perguntas difíceis aos nomeados políticos da era Trump.
Se a convenção democrata a confirmar como candidata do partido, será a primeira mulher negra a ser candidata às presidenciais por um grande partido. Kamala já tinha sido a primeira mulher, a primeira pessoa negra e a primeira asiático-americana a ascender à vice-presidência dos EUA. Mas, mesmo que a nomeação chegue, não significa que a vitória seja certa. Os seus críticos dizem que Harris tem demasiada ambição e poucas convicções, já que ao longo da sua carreira política tem guinado mais à direita ou mais à esquerda conforme as necessidades, principalmente em matérias judiciais e relacionadas com actuação da polícia – um tema quente devido aos inúmeros casos de uso de excesso de força. Não falta também quem aponte episódios de discursos em que Kamala perde o raciocínio e segue por caminhos alternativos.
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A verdade, é que Harris, não é, de forma nenhuma, uma figura querida ou consensual. Como vice-presidente tem uma das taxas de popularidade mais baixas de sempre. Numa circunstância normal, não seria a candidata que o partido democrata escolheria – de resto, ela já concorreu nas primárias de 2020 e acabou a sair da corrida em favor de Joe Biden –, mas, nesta altura do campeonato, é provavelmente a melhor aposta ou, pelo menos, a pessoa mais bem posicionada, para combater e vencer Trump. Para isso, terá de unir o partido, animar o eleitorado e não se deixar arrastar para a lama onde o candidato republicano gosta de esfregar os seus adversários. Conseguirá?
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