As obras selecionadas de escritoras são a alma da Greta, a nova livraria de Lisboa que vai abrir no número 66 da Rua Palmira, nos Anjos. "A Greta sempre foi um projeto muito 'comunitário' desde o início. Eu sempre quis ter uma livraria, mas sempre soube que ser livreira não seria fácil, no sentido de que é preciso pagar as contas e eu tive sempre que pagar as minhas, pois saí de casa muito cedo", conta à Máxima Lorena Travassos, mentora da ideia e curadora dos livros que aqui iremos encontrar.
"A ideia surgiu durante a pandemia, dava aulas em faculdades particulares e me sentia extremamente desapontada com as condições de trabalho que tinha, apesar de ter feito um doutoramento. Como já conhecia livrarias feministas em Barcelona, e fiquei impressionada pois tinham todos os livros que queria ler, decidi primeiro tentar 'medir a temperatura' em Lisboa, propondo um Crowdfunding para a construção de um site para dar início a uma livraria virtual" - assim nasceu a Greta, que online já vende livros como os das internacionais Annie Ernaux, Maya Angelou ou Elena Ferrante, mas também das portuguesas Isabela Figueiredo ou Dulce Maria Cardoso. "A campanha correu muito bem, consegui chegar ao valor necessário para pagar o site e, ao fim, ainda consegui um pequeno apoio pela Nestlé. Então a Greta teve início graças às pessoas (grande maioria de mulheres, na verdade) que queriam uma livraria feminista e viram a necessidade de apoiar a produção de livros escritos por mulheres, bem como a discussão sobre o feminismo, sem estereótipos, em Lisboa. O site começou a funcionar mesmo em janeiro de 2022 e, um ano e meio depois, estamos prestes a abrir a livraria física", continua.
Lorena Travassos é formada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa, com especialidade em Comunicação e Arte (Cultura Visual & Fotografia). Trabalhou muitos anos numa grande editora em São Paulo na área de pesquisa de imagens, "também sou fotógrafa, mas ultimamente tenho sido mais professora universitária". A última disciplina que lecionou foi Cultura Visual na licenciatura de Ciências da Comunicação, na NOVA, como professora convidada deste ano. Fez parte, como investigadora, do projeto Photo Impulse, financiado pelo FCT, e tem, como resultado, uma instalação - "Encontrar Tereza" - que faz parte da exposição "O impulso fotográfico: (Des) Arrumar o arquivo colonial", com uma perspectiva de género em relação à fotografia colonial, que estará exposta até dezembro deste ano no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa. Sempre se interessou pelas temáticas de género, e tem ainda um Clube de Leitura de Textos Feministas pela Greta.
Sobre se se baseou nalgum formato internacional, Lorena afirma que "a Greta não tem um formato como modelo, tem uma ideia de ser um espaço não só para venda de livros, mas também um espaço seguro para debater o feminismo com encontros, leituras e cursos a preços acessíveis. Tudo o que faço é procurar encontrar livros que eu gosto ou gostaria de ler, além de proporcionar abertura para que outres possam participar ao propor cursos, conversas, debates, etc. É um espaço para procurar leituras de referência sobre o feminismo, mas também para encontrar livros de ficção, BD, poesia escritos por mulheres, e para conversar sobre os problemas que ainda enfrentamos, procurando uma perspectiva interseccional."
É por isso que, a cada dois meses, há leitura de textos feministas "de modo muito honesto e menos académico, nos formatos online e presencial. Já lemos Françoise Vergés, Gayatri Spivak e discutiremos Bell Hooks no dia 4 de setembro". Já houve um curso de Escrita Criativa com a Nara Vidal, "que foi lindo e que ainda rendeu um belo texto em conjunto". Há um Clube do Livro, com assinatura anual, que várias mulheres se inscreveram para receber livros todos os meses em casa (com ou sem a curadoria da Greta). "Então a perspetiva é, agora que temos um espaço (modesto), fazer mais cursos, debates e lançamentos de livros", conclui. A Greta abrirá a 7 de setembro, com leituras a partir das 17h.
“Um Cão no Meio do Caminho” é o muito aguardado romance da autora, depois do sucesso de “A Gorda”. Uma vez mais, Isabela Figueiredo oferece-nos personagens inesquecíveis numa escrita poética e contemporânea que precisa de ser descoberta urgentemente. O mundo cabe todo na Margem Sul de Lisboa, onde fizemos esta entrevista.
A socióloga e investigadora da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica fala à Máxima do relatório que agora revela números sobre os abusos sexuais praticados por entidades da Igreja em Portugal, e das mais recentes reações da mesma quanto à “famosa lista” [de nomes dos alegados abusadores].