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Prazeres

Fomos à Sha Wellness Clinic, onde a saúde física e a emocional são tratadas em simultâneo

Um dos melhores investimentos que se pode fazer é oferecer-se uns dias numa clínica de bem-estar, e deixar quem sabe tratar-lhe da saúde. Literalmente. Aqui, cuidam do seu corpo e do seu estado emocional, volta como nova.

Foto: DR
12 de fevereiro de 2025 às 19:43 Patrícia Barnabé

Obrigarmo-nos a parar e a fazer um ponto de situação pode salvar vidas, relações, trabalhos. Ajuda-nos a pensar a partir de dentro de nós. É escolher um lugar seguro e pedir ajuda a profissionais. A maior parte das vezes não fazemos ideia o quão perto estamos de um qualquer precipício. O corpo envia sinais, mas com o ritmo insano que levamos, tanto estímulo social nas redes, sem a empatia e o toque da presença, e o abandono das estruturas clássicas da família, vizinhos, amigos, não há saúde e sanidade que aguentem. E, já sabemos, sem saúde, não há mais nada. O Sha propõe-nos mudar de vida, dos hábitos que a acompanham. No Sha wellness renovam-nos como num reiniciar de sistema operativo, e com todas as atualizações do que mais moderno está a acontecer no mundo da saúde, beleza e bem-estar. Nem por acaso, esta reportagem apanhou-nos numa curva apertada da vida, e os especialistas foram unânimes: estaria em burnout, não fora a minha resistência física e sistema imunitário. Entreguei o meu corpo à ciência do spa que me segurou em queda com as duas mãos e saí de lá gloriosa.

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A entrada é discreta, numa rua de casas bonitas do sul, estamos a meia dúzia de quilómetros de Alicante, a hora e meia de carro de Valência, a arquitetura é de Elvira Blanco Montenegro e Carlos Gilardi Amaro, e só de spa são 1300 metros quadrados, com muitas salas de tratamento, piscinas terapêuticas (fora as exteriores) e amplas zonas de relaxamento. São cerca de 93 suites com terraço, algumas com uma vista magnífica, rodeadas de jardins mediterrâneos, tropicais e zen. Somos recebidos por uma queda de água, o princípio da serenidade numa clínica iluminada de paredes brancas e muito vidro, como se entrássemos numa grande sala de tratamentos; o staff, muito delicado e solícito, é um cinco estrelas com tudo o que se precisa: conhecimento e mãos terapêuticas, bom sono, e tudo a começar pela alimentação certa. Um dos segredos do sucesso do chamado Método SHA é o cruzamento de terapias naturais, praticadas há milhares de anos, com os mais recentes avanços médicos, científicos e tecnológicos, em programas de 7, 14 ou 21 dias que nos põem como novos. Experimentámos o programa rebalance & energize, num speed de três dias e meio, e ainda conhecemos algumas das técnicas avançadas no desafio do envelhecimento feminino. Aqui também se aplica a nova geração de tratamentos de beleza não invasivos, dos dentários aos liftings, eliminação de manchas, rugas, varizes e gordura. E, claro, tem um grande foco na área cognitiva e mental e na nutrição. A ideia é mudar e, no fundo, ganhar ferramentas para aprender a auto-cura.

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A alimentação na base de tudo

Alfredo Bataller Parietti, um homem de negócios argentino residente em Espanha, padeceu de tumor nos intestinos, desde jovem. Experimentou a alimentação macrobiótica e curou-se em dois meses. A família e os amigos próximos de Bataller também mudaram o seu regime: "Somos da Argentina, comíamos carne todos os dias! Encontrámos um equilíbrio que não sabíamos existir, uma energia, começámos a sentirmo-nos muito bem, todos os dias...", contou-nos, em entrevista, Alejandro Bataller Pineda, quando o Sha abriu, em 2008. Convidaram o Michio Kushi, o japonês que inventou a Macrobiótica, e o diretor do Instituto Macrobiótico de Portugal, Francisco Varatojo, entretanto falecido, e que foi seu assistente para pensar a alimentação do Sha. O resultado é sensacional, alguns dos melhores momentos do dia são as refeições, mesmo para quem não prefere o vegetariano. Aconselha-se 50 por cento de vegetais e frutas e o resto de grãos e proteínas de alto valor biológico. A carne é considerada uma "má proteína", por isso não entra no restaurante.

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Os pequenos-almoços são iguais para todos, tirando casos em que o nutricionista dá indicações. Começamos sempre com uma sopa miso, depois papas de aveia com fruta ou um pudim de chia e uma pasta vegetal, que pode ser hummus ou guacamole ou de cenoura, acompanhada de vegetais crus, e às vezes somos presenteados com um muffin ou uma bolacha de sementes. Acompanha um de três sumos naturais à escolha e, no fim, chá verde ou tisanas várias. Para os almoços e jantares existe o menu Sha, que traz um prato de peixe ou só de vegetais, a sua versão light, com pratos diferentes e servidos numa porção menor, e o mais restritivo, por indicação médica. Comemos entradas com mexilhões, sopas variadas, saladas coloridas, peixe delicioso e refogados com lentilhas, ótimos, e sobremesa. O chef Daniel Quesada disse-nos ser esta uma forma de "compensar pelos sacrifícios". Álcool? Um copo de vinho biológico, se quiser muito. E antes de todas as refeições principais, bebemos um shot de vinagre de sidra diluído, pois é bactericida e os seus ácidos orgânicos ajudam na digestão das proteínas, entre outras benesses.

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Se a alimentação é central na saúde e no Sha, a consulta de nutrição é incontornável. Por muito boa que seja, há sempre detalhes que escapam, ajustes, recomendações. Além do livro das receitas do Sha, a consultora nutricional Joana André ainda deu uns bons extras. Podem ainda ser requisitadas no programa aulas de culinária saudável - existe uma cozinha ampla e equipada só para o efeito. Aprendemos mais sobre alimentação, utensílios, truques de como fazer paella só com vegetais e um brownie de beterraba. O chef Ruben Calvo era segurança de profissão, "comia carne cinco vezes por dia", contou, agora uma ou duas vezes por semana chega-lhe bem, perdeu 30 quilos e diz-se "mais feliz, pacífico e saudável".

Um programa feito à medida

O programa começa num diagnóstico preventivo avançado, durante o qual nos tiram as medidas, literalmente: medem, pesam, e fazem um scan do corpo, da massa corporal, gordura, músculo e força, até aos vários níveis de stress e testes cognitivos e de memória. Dos jornalistas, eu era a que estava prestes a rebentar pelas costuras com um burnout que o meu corpo evitou gloriosamente. Três dias e meio no Sha e deu para perceber os milagres de que é capaz. Os clientes regulares ficam uma semana, devem sair de lá a voar. Logo a seguir, um médico faz-nos a leitura desses valores e aconselha-nos alguns tratamentos certeiros, enquanto conhece a nossa história clínica. A ideia do Sha é fazermos uma mudança no estado de saúde geral, e que esta se torne um hábito e depois uma forma de estar na vida.

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A nossa ideia era conhecer os principais tratamentos do programa de equilíbrio e re-energia, e algumas novidades na área do envelhecimento. Assim, começámos o segundo dia com uma consulta de well-ageing, com Vicente Mera, que se apresenta como o "maestro": "Queremos que os hóspedes tenham uma visão global, tecnicamente somos um hospital, mas para gente saudável, para manterem a sua saúde, não somos apenas um spa", sublinha. Dá-nos noções gerais sobre o papel da alimentação ("mais qualidade e menos quantidade, a qualidade é muito difícil de conseguir, por isso a quantidade é o que podes controlar, comemos demais"), do desporto ("só andar a pé ou dançar já se nota 20 por cento de qualidade de saúde, mas quanto mais melhor. Metade deve ser trabalho cardiovascular, a outra metade treino de força") do sono e do controlo do stress. Conversamos sobre a importância da flora intestinal para atacar as toxinas, os testes de genética (que podem ser feitos na clínica por 1300 euros) e as terapias hormonais de substituição, e até de intervenções cosméticas pouco invasivas que melhoram o aspeto físico, em geral. Algumas podem ser feitas no Sha.

Na consulta de Psicologia é feita uma análise neuro-cognitiva, das funções cerebrais e do estado emocional. Somos relembradas de como os écrans nos deixam em alerta permanente, retirando-nos vitalidade e tempo de afetos; da importância da ocitocina ativada na presença dos amigos, da ligação, confiança e tranquilidade, e da serotonina, vital na regulação do humor, do sono e do bem-estar geral. O médico, o nutricionista e o psicólogo podem aconselhar a toma de vitaminas ou suplementos que acompanhem as nossas necessidades específicas. Todos os especialistas podem opinar sobre o "tratamento", que muda de acordo com as necessidades de cada um. Por isso, existe um gestor de agenda que acrescenta ou retira terapêuticas à medida que os especialistas nos avaliam e vão partilhando diagnósticos. Sentimos como se tivéssemos uma equipa competente só para nós.

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A consulta de saúde sexual é muito esclarecedora quanto aos desafios femininos na menopausa. Falámos de secura vaginal, de masturbação, que se aconselha regular, para o bem-estar físico e para a auto-estima, e da educação judaico-cristã que nos limita, em geral, e às mulheres, em particular, ou da comunicação num casal, tantas vezes causa de solidão e separação.

O Sha também é excelente nas terapias ditas alternativas, cada vez mais correntes. A sessão de reflexologia transformou-se num pequeno milagre quando José Luís Tabueña, o diretor de fisioterapia, nos viu entrar a coxear por causa de um entorse grave e puxou das suas máquinas várias. Como um cientista, observou o problema com detalhe, alheio a conversas laterais, aplicou agulhas ligadas à corrente, infravermelhos, e saímos de lá a andar. Percebemos depois que ele é uma sumidade e é da equipa fundadora do Sha. Nem por acaso, seguiu-se uma sessão de osteopatia onde nos alinharam e estalaram e o corpo, aconselharam posições de trabalho, que nos desgraçam o pescoço, e exercícios em casa, com acessórios que fortaleçam os músculos.

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Experiências fora da caixa

O Sha cruza tratamentos clássicos de spa com outros recentes, alguns ainda raros. Se, por um lado, nos soube pela vida a cura hidroenergética detox, recostarmo-nos numa banheira borbulhante com algas carregadas de oligoelementos e sais minerais, continuar mergulhada, mas num envolvimento de lamas, sobre uma cama aquecida, depois depois retiradas com um jatos revigorantes. Por outro, foi uma aventura conhecer técnicas como a acupuntura bioenergética. Medem-nos os movimentos e frequência energética dos meridianos, ligando o pulso a uma máquina e uma espécie de escova com que massajamos o couro cabeludo e surge um gráfico no écran com os níveis dos diferentes órgãos e sistemas do corpo. A cada um correspondem bloqueios específicos, emocionais e outros, que a acupuntura vai trabalhar. Uma terapeuta ruiva, e particularmente sábia, aplica as agulhas com precisão cirúrgica enquanto explica a importância de dançar e de chorar e de andar na natureza. Pousa uma luz de infravermelhos por cima da nossa barriga, medicina tradicional chinesa e tecnologia de ponta juntas. Com a mesma equipa, também fizemos meia hora de calor infravermelho nas costas, e bio-ressonância, onde uma chapa e eletrodos são colocados na nossa barriga, para o sistema digestivo, e uma bola de metal na palma da mão.

Efeitos espetaculares e imediatos dão-se à saída da crioterapia, uma cabina onde entramos de luvas e "pantufas" para sobreviver, até aos três minutos, aos 130 a 190ºC negativos. O efeito de choque térmico promove uma sensação de leveza e bem-estar pois liberta endorfinas e energiza o corpo, fortalecendo o sistema imunitário. É, por isso, anti-stress, e ideal para quem sofre de ansiedade, dores de cabeça e insónias e de problemas de ossos ou musculares.

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É muito impressionante o efeito da ozonoterapia intravenosa, que levanta tantos sobrolhos. Vemos o sangue sair e voltar a entrar na nossa veia, misturado com ozono, num poder antioxidante, oxigenante e revitalizante que se sente logo e perdura dias. Podem juntar-se vários soros, como shots, com efeitos de regeneração, anti-envelhecimento, equilíbrio, memória ou controle de peso. E é estranha e curiosa a Emsella, uma cadeira que ajuda na ginástica vaginal e lança pequenos choques eletromagnéticos que estimulam os músculos pélvicos e os fazem contrair-se e expandir-se de forma involuntária. A terapeuta diz ser equivalente a mil exercícios de Kegel tradicionais.

Adorámos a experiência de desenvolvimento cognitivo e estimulação cerebral, liderada pelo psicólogo Bruno Ribeiro, uma técnica única que consiste numa espécie de capacete que é programado para estimulação, dois manípulos encostados à garganta e uma outra máquina pousada sobre a barriga. Isto é, um "hemodetox nas carótidas, energia e detox sanguíneo", seguido de "um programa que melhora o sono, para o sistema parasimpático", também um programa de "estabilização de estado de anima, para ficar peace & love" e ainda um de serotonina, o do abdómen, porque "embora seja um neurotransmissor, é produzido no intestino, e dá-nos estabilidade emocional, ajuda-nos a combater o stress". Foi caso para dizer: Uau!

Muitas massagens e terapeutas do outro mundo

Claro que o programa foi acompanhado de fisicalidade pura e, tivemos dois treinos personalizados que constaram de umas pedaladas de bicicleta com diferentes intensidades, exercícios com pesos e elásticos, para fortalecer os músculos dos braços que são os primeiros a cair e agachamentos. Além de que a força diminui com o stress, o cansaço e a tristeza. Antes, faz-se uma avaliação funcional, para saber em que estado estamos, principalmente a quem não pratica desporto regular. Numa manhã tivemos uma curta e suave aula de yoga que ajudou a espreguiçar o esqueleto e os músculos.

Ao fim do dia, a cereja no topo do bolo: massagens. Se já escrevemos sobre estes temas há três décadas, arriscamos dizer que foram das melhores de sempre. A qualidade superior dos terapeutas aqui também é de uma grande evidência. Experimentámos a massagem Abhyanga, uma tradição ayurvédica milenar, exemplarmente aplicada por um terapeuta cubano que nos cobre com um óleo terapêutico aquecido, escolheu um de três, com "a energia certa", e trabalha cada músculo do corpo em movimentos fluídos e muito precisos, alternado uma pressão média com uma grande leveza, das pontas dos pés às do cabelo.

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Noutra massagem de tradição ayurvédica, mas tailandesa, um massagista indonésio extraordinário pousou compressas herbais aquecidas em zonas específicas do corpo, uma espécie de cataplasmas que trabalham o relaxamento muscular e dão um boost de bem-estar, pois os seus gestos precisos com óleos essenciais nutritivos alinham a postura e melhoram a circulação sanguínea e linfática. É uma terapia óptima para a ansiedade, e combater dores de cabeça, artrite e outras inflamações correntes. Isso ainda é mais evidente na massagem deep tissue, exemplarmente aplicada por uma senhora tailandesa, que me deu uma verdadeira "sova", sentando-se sobre mim para atacar os nós no pescoço e nos ombros onde se sentou uma vida ao computador.

Noutra tradição, a japonesa, fizemos uma sessão de shiatsu, com todos os seus rituais incluindo o quimono, por ser "seca", e adorámos sobretudo a sua versão aquática, o watsu, que encerrou o nosso programa experimental. Flutuamos numa piscina aquecida como no útero materno, enquanto o terapeuta movimenta o nosso corpo levemente, com pequenos movimentos de estiramento muscular, descomprime a coluna vertebral e solta as articulações enquanto trabalha alguns pontos energéticos. Foi a cereja em cima do bolo, o laço no presente, e desconfiamos que faz bem a tudo. Saímos de lá novas, rosto luminoso e corpo elástico, a exibir durante dias uma saúde que descobrimos dentro de nós. Esta viagem pode ser tão ou mais prazerosa do que atravessar o globo de mochila às costas. É dentro de nós, profunda, atenta, mimada. Esta é a verdadeira definição do luxo, o resto é conversa.

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