Fomos à Sha Wellness Clinic, onde a saúde física e a emocional são tratadas em simultâneo
Um dos melhores investimentos que se pode fazer é oferecer-se uns dias numa clínica de bem-estar, e deixar quem sabe tratar-lhe da saúde. Literalmente. Aqui, cuidam do seu corpo e do seu estado emocional, volta como nova.

Obrigarmo-nos a parar e a fazer um ponto de situação pode salvar vidas, relações, trabalhos. Ajuda-nos a pensar a partir de dentro de nós. É escolher um lugar seguro e pedir ajuda a profissionais. A maior parte das vezes não fazemos ideia o quão perto estamos de um qualquer precipício. O corpo envia sinais, mas com o ritmo insano que levamos, tanto estímulo social nas redes, sem a empatia e o toque da presença, e o abandono das estruturas clássicas da família, vizinhos, amigos, não há saúde e sanidade que aguentem. E, já sabemos, sem saúde, não há mais nada. O Sha propõe-nos mudar de vida, dos hábitos que a acompanham. No Sha wellness renovam-nos como num reiniciar de sistema operativo, e com todas as atualizações do que mais moderno está a acontecer no mundo da saúde, beleza e bem-estar. Nem por acaso, esta reportagem apanhou-nos numa curva apertada da vida, e os especialistas foram unânimes: estaria em burnout, não fora a minha resistência física e sistema imunitário. Entreguei o meu corpo à ciência do spa que me segurou em queda com as duas mãos e saí de lá gloriosa.


A entrada é discreta, numa rua de casas bonitas do sul, estamos a meia dúzia de quilómetros de Alicante, a hora e meia de carro de Valência, a arquitetura é de Elvira Blanco Montenegro e Carlos Gilardi Amaro, e só de spa são 1300 metros quadrados, com muitas salas de tratamento, piscinas terapêuticas (fora as exteriores) e amplas zonas de relaxamento. São cerca de 93 suites com terraço, algumas com uma vista magnífica, rodeadas de jardins mediterrâneos, tropicais e zen. Somos recebidos por uma queda de água, o princípio da serenidade numa clínica iluminada de paredes brancas e muito vidro, como se entrássemos numa grande sala de tratamentos; o staff, muito delicado e solícito, é um cinco estrelas com tudo o que se precisa: conhecimento e mãos terapêuticas, bom sono, e tudo a começar pela alimentação certa. Um dos segredos do sucesso do chamado Método SHA é o cruzamento de terapias naturais, praticadas há milhares de anos, com os mais recentes avanços médicos, científicos e tecnológicos, em programas de 7, 14 ou 21 dias que nos põem como novos. Experimentámos o programa rebalance & energize, num speed de três dias e meio, e ainda conhecemos algumas das técnicas avançadas no desafio do envelhecimento feminino. Aqui também se aplica a nova geração de tratamentos de beleza não invasivos, dos dentários aos liftings, eliminação de manchas, rugas, varizes e gordura. E, claro, tem um grande foco na área cognitiva e mental e na nutrição. A ideia é mudar e, no fundo, ganhar ferramentas para aprender a auto-cura.

A alimentação na base de tudo

Alfredo Bataller Parietti, um homem de negócios argentino residente em Espanha, padeceu de tumor nos intestinos, desde jovem. Experimentou a alimentação macrobiótica e curou-se em dois meses. A família e os amigos próximos de Bataller também mudaram o seu regime: "Somos da Argentina, comíamos carne todos os dias! Encontrámos um equilíbrio que não sabíamos existir, uma energia, começámos a sentirmo-nos muito bem, todos os dias...", contou-nos, em entrevista, Alejandro Bataller Pineda, quando o Sha abriu, em 2008. Convidaram o Michio Kushi, o japonês que inventou a Macrobiótica, e o diretor do Instituto Macrobiótico de Portugal, Francisco Varatojo, entretanto falecido, e que foi seu assistente para pensar a alimentação do Sha. O resultado é sensacional, alguns dos melhores momentos do dia são as refeições, mesmo para quem não prefere o vegetariano. Aconselha-se 50 por cento de vegetais e frutas e o resto de grãos e proteínas de alto valor biológico. A carne é considerada uma "má proteína", por isso não entra no restaurante.

Os pequenos-almoços são iguais para todos, tirando casos em que o nutricionista dá indicações. Começamos sempre com uma sopa miso, depois papas de aveia com fruta ou um pudim de chia e uma pasta vegetal, que pode ser hummus ou guacamole ou de cenoura, acompanhada de vegetais crus, e às vezes somos presenteados com um muffin ou uma bolacha de sementes. Acompanha um de três sumos naturais à escolha e, no fim, chá verde ou tisanas várias. Para os almoços e jantares existe o menu Sha, que traz um prato de peixe ou só de vegetais, a sua versão light, com pratos diferentes e servidos numa porção menor, e o mais restritivo, por indicação médica. Comemos entradas com mexilhões, sopas variadas, saladas coloridas, peixe delicioso e refogados com lentilhas, ótimos, e sobremesa. O chef Daniel Quesada disse-nos ser esta uma forma de "compensar pelos sacrifícios". Álcool? Um copo de vinho biológico, se quiser muito. E antes de todas as refeições principais, bebemos um shot de vinagre de sidra diluído, pois é bactericida e os seus ácidos orgânicos ajudam na digestão das proteínas, entre outras benesses.


Se a alimentação é central na saúde e no Sha, a consulta de nutrição é incontornável. Por muito boa que seja, há sempre detalhes que escapam, ajustes, recomendações. Além do livro das receitas do Sha, a consultora nutricional Joana André ainda deu uns bons extras. Podem ainda ser requisitadas no programa aulas de culinária saudável - existe uma cozinha ampla e equipada só para o efeito. Aprendemos mais sobre alimentação, utensílios, truques de como fazer paella só com vegetais e um brownie de beterraba. O chef Ruben Calvo era segurança de profissão, "comia carne cinco vezes por dia", contou, agora uma ou duas vezes por semana chega-lhe bem, perdeu 30 quilos e diz-se "mais feliz, pacífico e saudável".
Um programa feito à medida
O programa começa num diagnóstico preventivo avançado, durante o qual nos tiram as medidas, literalmente: medem, pesam, e fazem um scan do corpo, da massa corporal, gordura, músculo e força, até aos vários níveis de stress e testes cognitivos e de memória. Dos jornalistas, eu era a que estava prestes a rebentar pelas costuras com um burnout que o meu corpo evitou gloriosamente. Três dias e meio no Sha e deu para perceber os milagres de que é capaz. Os clientes regulares ficam uma semana, devem sair de lá a voar. Logo a seguir, um médico faz-nos a leitura desses valores e aconselha-nos alguns tratamentos certeiros, enquanto conhece a nossa história clínica. A ideia do Sha é fazermos uma mudança no estado de saúde geral, e que esta se torne um hábito e depois uma forma de estar na vida.

A nossa ideia era conhecer os principais tratamentos do programa de equilíbrio e re-energia, e algumas novidades na área do envelhecimento. Assim, começámos o segundo dia com uma consulta de well-ageing, com Vicente Mera, que se apresenta como o "maestro": "Queremos que os hóspedes tenham uma visão global, tecnicamente somos um hospital, mas para gente saudável, para manterem a sua saúde, não somos apenas um spa", sublinha. Dá-nos noções gerais sobre o papel da alimentação ("mais qualidade e menos quantidade, a qualidade é muito difícil de conseguir, por isso a quantidade é o que podes controlar, comemos demais"), do desporto ("só andar a pé ou dançar já se nota 20 por cento de qualidade de saúde, mas quanto mais melhor. Metade deve ser trabalho cardiovascular, a outra metade treino de força") do sono e do controlo do stress. Conversamos sobre a importância da flora intestinal para atacar as toxinas, os testes de genética (que podem ser feitos na clínica por 1300 euros) e as terapias hormonais de substituição, e até de intervenções cosméticas pouco invasivas que melhoram o aspeto físico, em geral. Algumas podem ser feitas no Sha.
Na consulta de Psicologia é feita uma análise neuro-cognitiva, das funções cerebrais e do estado emocional. Somos relembradas de como os écrans nos deixam em alerta permanente, retirando-nos vitalidade e tempo de afetos; da importância da ocitocina ativada na presença dos amigos, da ligação, confiança e tranquilidade, e da serotonina, vital na regulação do humor, do sono e do bem-estar geral. O médico, o nutricionista e o psicólogo podem aconselhar a toma de vitaminas ou suplementos que acompanhem as nossas necessidades específicas. Todos os especialistas podem opinar sobre o "tratamento", que muda de acordo com as necessidades de cada um. Por isso, existe um gestor de agenda que acrescenta ou retira terapêuticas à medida que os especialistas nos avaliam e vão partilhando diagnósticos. Sentimos como se tivéssemos uma equipa competente só para nós.

A consulta de saúde sexual é muito esclarecedora quanto aos desafios femininos na menopausa. Falámos de secura vaginal, de masturbação, que se aconselha regular, para o bem-estar físico e para a auto-estima, e da educação judaico-cristã que nos limita, em geral, e às mulheres, em particular, ou da comunicação num casal, tantas vezes causa de solidão e separação.
O Sha também é excelente nas terapias ditas alternativas, cada vez mais correntes. A sessão de reflexologia transformou-se num pequeno milagre quando José Luís Tabueña, o diretor de fisioterapia, nos viu entrar a coxear por causa de um entorse grave e puxou das suas máquinas várias. Como um cientista, observou o problema com detalhe, alheio a conversas laterais, aplicou agulhas ligadas à corrente, infravermelhos, e saímos de lá a andar. Percebemos depois que ele é uma sumidade e é da equipa fundadora do Sha. Nem por acaso, seguiu-se uma sessão de osteopatia onde nos alinharam e estalaram e o corpo, aconselharam posições de trabalho, que nos desgraçam o pescoço, e exercícios em casa, com acessórios que fortaleçam os músculos.

Experiências fora da caixa
O Sha cruza tratamentos clássicos de spa com outros recentes, alguns ainda raros. Se, por um lado, nos soube pela vida a cura hidroenergética detox, recostarmo-nos numa banheira borbulhante com algas carregadas de oligoelementos e sais minerais, continuar mergulhada, mas num envolvimento de lamas, sobre uma cama aquecida, depois depois retiradas com um jatos revigorantes. Por outro, foi uma aventura conhecer técnicas como a acupuntura bioenergética. Medem-nos os movimentos e frequência energética dos meridianos, ligando o pulso a uma máquina e uma espécie de escova com que massajamos o couro cabeludo e surge um gráfico no écran com os níveis dos diferentes órgãos e sistemas do corpo. A cada um correspondem bloqueios específicos, emocionais e outros, que a acupuntura vai trabalhar. Uma terapeuta ruiva, e particularmente sábia, aplica as agulhas com precisão cirúrgica enquanto explica a importância de dançar e de chorar e de andar na natureza. Pousa uma luz de infravermelhos por cima da nossa barriga, medicina tradicional chinesa e tecnologia de ponta juntas. Com a mesma equipa, também fizemos meia hora de calor infravermelho nas costas, e bio-ressonância, onde uma chapa e eletrodos são colocados na nossa barriga, para o sistema digestivo, e uma bola de metal na palma da mão.
Efeitos espetaculares e imediatos dão-se à saída da crioterapia, uma cabina onde entramos de luvas e "pantufas" para sobreviver, até aos três minutos, aos 130 a 190ºC negativos. O efeito de choque térmico promove uma sensação de leveza e bem-estar pois liberta endorfinas e energiza o corpo, fortalecendo o sistema imunitário. É, por isso, anti-stress, e ideal para quem sofre de ansiedade, dores de cabeça e insónias e de problemas de ossos ou musculares.

É muito impressionante o efeito da ozonoterapia intravenosa, que levanta tantos sobrolhos. Vemos o sangue sair e voltar a entrar na nossa veia, misturado com ozono, num poder antioxidante, oxigenante e revitalizante que se sente logo e perdura dias. Podem juntar-se vários soros, como shots, com efeitos de regeneração, anti-envelhecimento, equilíbrio, memória ou controle de peso. E é estranha e curiosa a Emsella, uma cadeira que ajuda na ginástica vaginal e lança pequenos choques eletromagnéticos que estimulam os músculos pélvicos e os fazem contrair-se e expandir-se de forma involuntária. A terapeuta diz ser equivalente a mil exercícios de Kegel tradicionais.
Adorámos a experiência de desenvolvimento cognitivo e estimulação cerebral, liderada pelo psicólogo Bruno Ribeiro, uma técnica única que consiste numa espécie de capacete que é programado para estimulação, dois manípulos encostados à garganta e uma outra máquina pousada sobre a barriga. Isto é, um "hemodetox nas carótidas, energia e detox sanguíneo", seguido de "um programa que melhora o sono, para o sistema parasimpático", também um programa de "estabilização de estado de anima, para ficar peace & love" e ainda um de serotonina, o do abdómen, porque "embora seja um neurotransmissor, é produzido no intestino, e dá-nos estabilidade emocional, ajuda-nos a combater o stress". Foi caso para dizer: Uau!
Muitas massagens e terapeutas do outro mundo
Claro que o programa foi acompanhado de fisicalidade pura e, tivemos dois treinos personalizados que constaram de umas pedaladas de bicicleta com diferentes intensidades, exercícios com pesos e elásticos, para fortalecer os músculos dos braços que são os primeiros a cair e agachamentos. Além de que a força diminui com o stress, o cansaço e a tristeza. Antes, faz-se uma avaliação funcional, para saber em que estado estamos, principalmente a quem não pratica desporto regular. Numa manhã tivemos uma curta e suave aula de yoga que ajudou a espreguiçar o esqueleto e os músculos.
Ao fim do dia, a cereja no topo do bolo: massagens. Se já escrevemos sobre estes temas há três décadas, arriscamos dizer que foram das melhores de sempre. A qualidade superior dos terapeutas aqui também é de uma grande evidência. Experimentámos a massagem Abhyanga, uma tradição ayurvédica milenar, exemplarmente aplicada por um terapeuta cubano que nos cobre com um óleo terapêutico aquecido, escolheu um de três, com "a energia certa", e trabalha cada músculo do corpo em movimentos fluídos e muito precisos, alternado uma pressão média com uma grande leveza, das pontas dos pés às do cabelo.

Noutra massagem de tradição ayurvédica, mas tailandesa, um massagista indonésio extraordinário pousou compressas herbais aquecidas em zonas específicas do corpo, uma espécie de cataplasmas que trabalham o relaxamento muscular e dão um boost de bem-estar, pois os seus gestos precisos com óleos essenciais nutritivos alinham a postura e melhoram a circulação sanguínea e linfática. É uma terapia óptima para a ansiedade, e combater dores de cabeça, artrite e outras inflamações correntes. Isso ainda é mais evidente na massagem deep tissue, exemplarmente aplicada por uma senhora tailandesa, que me deu uma verdadeira "sova", sentando-se sobre mim para atacar os nós no pescoço e nos ombros onde se sentou uma vida ao computador.
Noutra tradição, a japonesa, fizemos uma sessão de shiatsu, com todos os seus rituais incluindo o quimono, por ser "seca", e adorámos sobretudo a sua versão aquática, o watsu, que encerrou o nosso programa experimental. Flutuamos numa piscina aquecida como no útero materno, enquanto o terapeuta movimenta o nosso corpo levemente, com pequenos movimentos de estiramento muscular, descomprime a coluna vertebral e solta as articulações enquanto trabalha alguns pontos energéticos. Foi a cereja em cima do bolo, o laço no presente, e desconfiamos que faz bem a tudo. Saímos de lá novas, rosto luminoso e corpo elástico, a exibir durante dias uma saúde que descobrimos dentro de nós. Esta viagem pode ser tão ou mais prazerosa do que atravessar o globo de mochila às costas. É dentro de nós, profunda, atenta, mimada. Esta é a verdadeira definição do luxo, o resto é conversa.
