Mito ou verdade. Quanto mais velhas ficamos, de menos sono precisamos?
Com a idade, algumas pessoas tendem a dormir menos horas do que as recomendadas. A verdade é que este não tem de ser o novo "normal". Ana Santa Clara, psiquiatra com competência em Medicina do Sono, desmistifica este pensamento.

O sono é um processo vital que, tal como outros aspetos do organismo humano, sofre alterações ao longo da vida. Embora exista uma perceção comum de que os mais velhos precisam de menos horas de sono, a realidade é mais complexa e exige uma análise cuidadosa sobre como as mudanças na duração e estrutura do sono refletem o envelhecimento.
Este tema é aprofundado no livro ABZZZ do Sono, coordenado por Carla Espiney Amaro e Susana Sousa. A obra reúne um conjunto de especialistas para explorar de forma acessível e desmistificada as várias dimensões do sono, desde os desafios das noites mal dormidas até às formas de melhorar a qualidade do descanso. Questões como o impacto do envelhecimento, da alimentação, das tecnologias e até das condições médicas no sono são abordadas em detalhe, proporcionando aos leitores informações práticas e baseadas na ciência para compreenderem e gerirem melhor este aspeto essencial da vida.

Com o avançar da idade, ocorrem mudanças naturais na forma como dormimos. Uma pessoa saudável mantém uma necessidade de sono relativamente estável, mas o padrão desse sono pode sofrer adaptações. Ana Santa Clara, psiquiatra com competência em Medicina do Sono, conta à Máxima que "durante a noite, como há menos quantidade de sono profundo, há tendência a acordar mais vezes; o sono termina mais cedo, frequentemente de madrugada". Além disso, o início do sono pode ocorrer mais cedo no final do dia, o que pode parecer uma redução na duração total, mas na verdade reflete apenas uma alteração no ciclo.
Estas mudanças, embora normais, não implicam uma diminuição da necessidade total de sono. "Se somarmos o tempo de sono noturno ao tempo da sesta, verificamos que não existe, de facto, uma diminuição da necessidade de sono", explica a especialista. A prática da sesta, comum entre os mais velhos, não é sinal de maior cansaço, mas sim de maior disponibilidade para descansar. Contudo, deve ser limitada a 45 minutos após o almoço para evitar impacto negativo no sono noturno.
Embora as mudanças descritas sejam fisiológicas, existem condições que afetam a qualidade do sono em idades mais avançadas. Doenças como dores crónicas, problemas cardiovasculares ou apneia do sono tornam-se mais frequentes e fragmentam o descanso. "O sono é interrompido e não tem a duração, nem a qualidade normais", comenta Ana Santa Clara, acrescentando que essas condições podem levar a sintomas diurnos, como fadiga, sonolência excessiva e até dificuldades cognitivas ou irritabilidade.

Além das condições médicas, fatores externos como isolamento social, baixa exposição à luz natural, sedentarismo e alimentação inadequada também comprometem o sono e podem aumentar o risco de doenças físicas e mentais. A médica sublinha que "são riscos que não apenas prejudicam o sono, mas também impactam negativamente a saúde mental".
Para garantir um sono reparador, é fundamental adotar hábitos de vida saudáveis. Práticas como a exposição à luz solar, a atividade física regular e uma alimentação equilibrada são essenciais para melhorar a qualidade do descanso. No entanto, quando o sono não é restaurador, é crucial investigar a sua causa.
"Nunca é normal ter de tomar medicação para dormir, seja em que idade for", alerta Ana Santa Clara. Segundo a especialista, é essencial realizar um diagnóstico preciso antes de iniciar qualquer tratamento. O uso indiscriminado de medicação pode mascarar problemas graves e agravar complicações. "Se o sono não for reparador, tem de se saber porquê", conclui.

O envelhecimento traz consigo mudanças inevitáveis no sono, mas estas não devem ser vistas como um sinal de que dormir menos é a nova norma. Antes, é necessário compreender que o sono pode ser diferente, mas não menos importante. Um diagnóstico correto e intervenções apropriadas, aliadas a hábitos saudáveis, são as chaves para garantir que o sono continue a desempenhar o seu papel essencial na saúde e bem-estar em todas as etapas da vida.

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