
Sempre considerei que, em caso de necessidade, os livros podem e devem ser armas, objectos de conhecimento e de arremesso. Como o Verão já cá canta e as leituras de praia não têm de ser um cardápio para embrutecer, deixo-vos na crónica deste mês uma lista de livros de incontestável qualidade contra a discriminação de género. Há muitos outros e até mais recentes, mas estes são os que elegi para este Verão.
Querida Ijeawele - Como Educar para o Feminismo
De Chimamanda Ngozi Adichie, Dom Quixote, 2018
Quando uma amiga lhe perguntou como devia educar a filha para ser feminista, Chimamanda Ngozi Adichie respondeu com uma carta. Um livro intimista em que a escritora sugere quinze ideias com o objectivo de dar força às novas gerações de mulheres e proporcionar-lhes ferramentas para crescerem com um maior sentido de identidade e autonomia.


Teoria King Kong
De Virginie Despentes, Orfeu Negro, 2016
Baseando-se na sua biografia, a autora do célebre Baise-Moi contesta os discursos bem-comportados sobre violação, prostituição e pornografia. Um manifesto iconoclasta e irreverente para um novo feminismo: «Escrevo da terra das feias, para as feias, as velhas, as machonas, as frígidas, as malfodidas, as infodíveis, as histéricas, as taradas, todas as excluídas do grande mercado das gajas boas. E começo por aqui para que as coisas sejam claras: não peço desculpa de nada, não me venho lamentar.»


Problemas de Género – Feminismo e Subversão da Identidade
De Judith Butler, Orfeu Negro, 2017
Neste livro que funda a Teoria Queer, Judith Butler apresenta uma crítica contundente a um dos principais fundamentos do movimento feminista: a identidade. Para Butler não é possível que exista apenas uma identidade: esta deveria ser pensada no plural e não no singular. Ou ainda, não é possível que haja a libertação da mulher se não se subverter primeiro a identidade de mulher.


Manifesto Contra-sexual
De Paul B. Preciado, Orfeu Negro, 2019
Com um tom satírico e corrosivo, este livro traça a genealogia das terminologias que criam a diferenciação sexual, demonstrando como a sua pretensa naturalidade é produzida por tecnologias sociais, políticas e somáticas. O sexo, diz-nos Preciado, não é a base fixa do género: é preciso olhar o corpo e vê-lo como construído; aí poderemos encontrar novos espaços de resistência.


Persépolis
De Marjane Satrapi, Bertrand Editora, 2015
É a autobiografia em banda desenhada da iraniana Marjane Satrapi. Quando tinha apenas 10 anos, foi obrigada a usar um véu islâmico numa sala de aula só de raparigas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 assistiu ao início da revolução que lançou o Irão nas trevas do regime xiita. 25 anos depois, com uma visão politizada, Satrapi quebrou uma série de preconceitos sobre as mulheres islâmicas, revelando as suas condições.


*A cronista escreve de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.

cultura, Inspiração, Livros, Feminismo, Crónica A Flor do Cacto
Nara Vidal, escritora: “O feminismo deve ser debatido à mesa do almoço”
A propósito do lançamento do livro "Canibal e Outros Contos em Portugal", pela editora Exclamação, a escritora brasileira de Guarani, Minas Gerais, discorreu sobre o lugar da mulher, na literatura e na vida.