A Constança vem das Artes. A mixologia sempre foi um mundo que a fascinou ou foi uma paixão tardia?
Eu estudei Artes no liceu, mas depois formei-me em Gestão Hoteleira na Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e depois estive em Restauração durante quase quatro anos. Descobri que me faltava a parte criativa que me é inerente e no bar percebi que conseguia juntar as duas coisas: comunicar e falar com pessoas e trabalhar o lado criativo.
Essa parte criativa, que sempre houve em si, manifesta-se no seu trabalho enquanto bartender? Em que sentido?
Posso dizer que isso acontece cada vez menos no cocktail em si. Porque a criatividade não é só na parte de confecionar o cocktail mas sobretudo como se lida com um cliente, com uma situação, o processo como tudo é feito. A nossa criatividade é aplicada em tudo.
Trabalhou no bar londrino Peg & Patriot. O que é que Londres lhe deu no conhecimento desta profissão?
Londres tem muita procura. Ou seja, permite que seja viável em termos de negócio alguém poder dar asas à imaginação porque “aquilo” vai resultar. Em última instância, isto é um negócio que permite gerar dinheiro. Como há muita procura é possível experimentar muita coisa – porque vai resultar. Não há limites. Não é que existam pessoas mais criativas, há é mais espaço. Por isso mesmo há mais pesquisa, mais desenvolvimento, mais interesse.
O que é que trouxe de Londres para A Toca da Raposa?
Foi a maneira como tratamentos os nossos… até me custa dizer clientes. Porque as pessoas que cá vêm já nem são clientes, sobretudo se vêm pela segunda vez é porque criaram uma ligação connosco.
A ideia que tinha para este espaço corresponde ao desfecho atual?
Não. Quer dizer, eu já tinha uma ideia muito feita daquilo que queria, apesar de estar, desde o início, aberta a outras ideias. O core é a mesa central, que está na minha cabeça desde 2014, quando fui para Londres. Sempre quis que esta mesa fosse o centro do bar, acaba por levar à partilha de informação e à comunicação das pessoas umas com as outras.
Porquê este nome, que imediatamente se identifica também com a carta de cocktails, que têm nomes de raposas?
Porque eu sou Raposo, de nome. E porque o que faz sentido para mim é ter uma segunda casa onde eu recebo os meus amigos. É rara a pessoa que vem aqui e da qual não me despeço com um abraço. Mesmo. A energia que está aqui é a que imaginei.
A indústria cinematográfica gosta sempre de pintar a cena do bartender que é também um bom ouvinte. O que é que define um bom bartender?
Além de termos de ser bons ouvintes, temos de ler a nossa audiência e ser atores. E perceber por que razão determinada pessoa está aqui. É importante saber ler as pessoas e dar-lhes o que elas querem. Umas querem ser ouvidas, outras querem ouvir, outras querem a atenção de quem está ao redor, outras não querem atenção nenhuma, só querem provar o cocktail. O que faz um bom bartender é o sorriso, a simpatia, ser um bom host, carismático, humilde e ter um bom paladar.
Ainda há poucas mulheres nesta profissão, mas isso está a mudar. Ou não?
Cada vez há mais. Sempre houve mulheres atrás de um bar, isso não é novidade… Eu acho é que cada vez há mais mulheres boas profissionais, isso sem dúvida.
Qual é a maior aprendizagem das competições?
Acho que é muito importante porque obriga-nos a sair da zona de conforto e a conhecer pessoas novas. Ter sangue-frio. Eu já estive em oito ou nove competições… é sempre bom. Aqui mudamos sempre qualquer coisa no menu, todos os meses, e estamos constantemente em desenvolvimento de bebidas, mas isso nem sempre acontece nos bares.
Qual é a próxima, ou a atual, grande revelação da mixologia?
The next big thing… Eu acho que cada vez mais é a simplicidade. Voltar a usar dois ou três ingredientes por bebida e a focar-nos na qualidade. E investir em coisas que façam bem.
Para o Natal, a carta Natal Psicadélico apresenta os cocktails Raposa (amora, rosa silvestre e espumante), Duende (bolacha maria, hortelã e natas), Burro (bolo-rei, manteiga e cerveja) e Rena (figo, noz e tónica). Ao mesmo tempo que conversávamos, desafiámos a bartender a criar um cocktail para a Máxima, ela escolheu o Raposa. Veja como fazê-lo em casa no vídeo.
Já sabe onde ir às sextas-feiras: A Toca da Raposa tem sempre "a hora do lobo". Não é uma cilada, é um preço democrático para os seus cocktails, que passam a custar €5 das 18h às 22h.
Já sabe onde ir às sextas-feiras: A Toca da Raposa tem sempre "a hora do lobo". Não é uma cilada, é um preço democrático para os seus cocktails, que passam a custar €5 das 18h às 22h.