Que marcas deixa o cancro da mama? Duas mulheres, dois corpos, a mesma vontade de viver
Inês e Beatriz estão ambas na casa dos 30 e a lutar contra o cancro da mama. Aqui, partilham as histórias que os seus corpos contam, entre medos e conquistas, fragilidades e esperanças. Veja o ensaio fotográfico, a propósito do Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama, 30 de outubro.
Foto: Inês Costa Monteiro29 de outubro de 2021 às 13:56 Inês Costa Monteiro
Inês Klinesmith, 32 anos, 31 quando foi diagnosticada.
Cirurgia (lumpectomia), radioterapia e hormonoterapia (iniciada em dezembro 2020 e que durará +/- 10 anos a menos que os efeitos secundários sejam insuportáveis).
Não saber o que esperar, não saber quando poderia voltar a trabalhar, voltar à minha vida ativa, e não saber quais as consequências permanentes. Não poder ter ninguém presente nas consultas e exames de diagnóstico devido à pandemia - foi um bocado isolador.
E mais fácil?
Saber que lá fora tinha o apoio da minha família, namorada e amigos.
Qual era a expetativa vs a realidade que acabou por acontecer?
Expetativa: recuperação (mais) rápida que tudo (pós-operatório e radioterapia). Realidade: ainda não estou recuperada físicamente, ainda não consegui voltar à minha vida/atividade antes do cancro.
Sempre foi - quando é que isto vai voltar? E se voltar o que é que acontece?
Foto: Inês Costa Monteiro
Como arranjas força todos os dias?
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Viver é uma surpresa e luta constante para todos. Ainda assim, tenho vontade de acordar todos os dias e aproveitar ao máximo (seja trabalhando, nos meus hobbies ou a relaxar). Aprendi a relaxar, a descansar durante o processo da doença.
O que é mais difícil, hoje?
Fazer exercício, fazer planos. Voltar ao exercício porque me falta, e porque ainda não tenho a mobilidade que tinha no braço/ombro direito, fazer planos porque nunca sei se vou estar capaz e não quero cancelar e desapontar as pessoas.
Como foi a reação da tua parceira?
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Difícil, talvez até mais do que a minha. Ficou revoltada e preocupada. Eu sempre encarei tudo com mais tranquilidade.
Foto: Inês Costa Monteiro
Como é voltar à intimidade sexual?
Devagarinho. São muitas dores físicas e complexos que se vão metendo no meio. Deixei de confiar no meu corpo e isso tem impacto na minha forma de estar.
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O que é que ninguém te contou sobre a doença?
Acho que me contaram tudo o que necessitava de saber, mas cada caso é um caso e cada paciente também, logo a maneira como experienciamos a doença é inevitavelmente diferente e não há ninguém que nos possa preparar para todas as emoções pelas quais passamos.
Qual era a pergunta que gostavas que te fizessem?
Não sei, todas. Nenhuma pergunta me assusta.
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Foto: Inês Costa Monteiro
Qual é a pergunta para a qual não tens resposta?
O cancro vai voltar?
Como se vence o medo?
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Acho que não se vence, aprende-se a lidar com ele, a integrá-lo nas nossas vidas, no dia-a-dia.
Qual era a coisa que gostavas de dizer a uma mulher que descobrisse agora a doença?
É difícil, mas és mais forte do que pensas. Tens o meu apoio e ajuda.
Qual é o pensamento que manténs presente?
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Que quero aproveitar a minha vida, continuar a experenciar o mundo e a espalhar empatia. A vida não é uma competição.
Foto: Inês Costa Monteiro
Beatriz Viegas, 34 anos.
Como desconfiaste que poderias ter cancro?
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Senti um pequeno nódulo durante a apalpação que me levou a fazer exames complementares.
Qual foi o diagnóstico?
Carcinoma invasivo, grau 2 aka cancro de mama , sem tipo definido.
Qual foi a primeira coisa que pensaste/sentiste?
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Como é que vou tratar isto com o país em pleno colapso (vivia-se a pandemia a 1000% na altura )
Quanto tempo passou até à operação?
No dia em que soube que era cancro, marquei logo a cirurgia e uma semana depois fui operada.
Foto: Inês Costa Monteiro
Que tratatamentos fizeste?
Cirurgia para retirar o tumor, quimioterapia 16 sessões, radioterapia 20 sessões e agora terei de fazer hormonoterapia durante 5 anos.
O que foi mais dificil?
A hormonoterapia. Os efeitos são mais persistentes. Na quimioterapia tens muita medicação para controle dos sintomas. Na hormonoterapia, tens de aprender a viver com eles.
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E mais fácil?
A radioterapia.
Qual era a expetativa vs a realidade que acabou por acontecer?
Pensava que tudo seria horrível e que a vida iria ser muito complicada com um cancro, mas afinal até correu bem e tentei o meu melhor para minimizar os efeitos.
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Foto: Inês Costa Monteiro
Qual era o teu maior medo?
Ficar dependente fisicamente de alguém.
Como arranjas forças todos os dias?
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Tento manter a sanidade mental: agradeço, relativizo, tento manter a mente ocupada com coisas do bem e para o bem.
O que é mais difícil, hoje?
Exercício, a hormonoterapia deixa-me um bocado limitada nos movimentos. É um dos efeitos secundários.
Foto: Inês Costa Monteiro
Como foi a reação do teu parceiro?
Sempre presente. Fez de tudo para minimizar os efeitos dos tratamentos e sempre em prol da calma e não da ansiedade.
Como é voltar à intimidade sexual?
É um work in progress. Ha muitos efeitos secundários físicos e psicológicos por ultrapassar.
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O que é que ninguém te contou sobre a doença?
Muitas coisas. Há pouca informação sobre como manter a qualidade de vida com um cancro. Áreas tais como alimentação, exercício, cosmética.
Foto: Inês Costa Monteiro
Qual era a pergunta que gostavas que te fizessem?
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É possível ser feliz mesmo com cancro? Sim. O cancro não me define.
Como se vence o medo?
Equipa-se com armas do "bem": gratidão, calma, positivismo, esperança, amor.
Qual era a coisa que gostavas de dizer a uma mulher que descobrisse agora a sua doença?
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Que primeiro que tudo ela é uma mulher e cancro não a define. Que não deve nunca perder a sua identidade por causa de um cancro.
Qual é o pensamento que manténs presente?
Que eu sou a mesma agora e sempre. Com uma dose de químicos no sangue, mas a mesma.