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Moda / Tendências

Grita. Esta marca portuguesa dá um novo futuro a panos de cozinha e toalhas de mesa

Nasceu de um momento de incerteza e de uma vontade de ter um passatempo que a distraísse durante a pandemia. Hoje, a costura é já um trabalho a tempo inteiro para Cristina Garcia que transforma tecidos usados em peças com bordados únicos. A Máxima foi conhecer mais sobre a Grita.

Foto: DR
14 de maio de 2025 às 14:17 Inês Henriques / Com Rosário Mello e Castro

Foi em tempos de pandemia que Cristina Garcia se mudou de Lisboa para Serpins, uma pequena vila no concelho da Lousã. Isolada e sem nenhum passatempo para lhe distrair a mente, decidiu arranjar um ofício onde pudesse utilizar as mãos e criar algo com elas. Assim, a ideia de aprender a costurar surge e começa a traçar um novo rumo. "Nunca pensei que fosse bem sucedida porque em miúda nunca tive jeito para manualidades. Em casa, inclusive, chamavam-me 'mãos de barro' porque sempre fui desajeitada e nas minhas mãos tudo se estragava", recorda a própria.

Cristina Garcia
Cristina Garcia Foto: DR

No entanto, decidiu ouvir a sua própria vontade, comprou uma máquina de costura e inscreveu-se num curso online no CEARTE. Foi a partir deste momento que aquela máquina passou a ser a sua companhia todos os dias. "Primeiro utilizei algumas mantas de trapos que estavam muito estragadas. Fiz vários sacos, estilo tote bags, aproveitando as partes boas", explicou-nos. Rapidamente deu o salto para peças de roupa e mais tarde decide abrir uma página no Instagram que chamou de Grita, nome que simboliza o grito interior de quando finalmente conseguiu dar vida a este projeto. Em 2024, abre uma loja online para vender algumas criações.

Peça da marca 'Grita'
Peça da marca 'Grita' Foto: DR

Cresceu com o hábito de ir à feira todos os fins de semana, onde se encantava com os tecidos, panos bordados e toalhas antigas. Hoje, são esses mesmos materiais que resgata e utiliza para dar corpo à Grita. O seu primeiro lançamento tinha apenas 6 peças, blusas e camisas feitas principalmente de toalhas de mesa, toalhas de chá e cortinas. O resultado? Coleção vendida em 24 horas. Uma certeza que surgiu era que a marca podia ter afinal algum potencial, por isso decide lançar uma coleção por mês, repletas de peças únicas e autênticas. "A vantagem de ser exclusiva pode ser uma desvantagem quando se gosta de determinada peça… não consigo repetir porque não consigo encontrar duas toalhas ou duas cortinas iguais. Isto torna cada criação ainda mais especial."

Reutilização de tecidos usados
Reutilização de tecidos usados Foto: DR

Grita é então uma marca portuguesa artesanal, que segue o conceito de upcycling, ou seja, dar um novo propósito a materiais que seriam descartados, uma técnica que se tem popularizado dentro de diversas marcas e entre a Geração Z. Atenta às crescentes necessidades climáticas, Grita tem a sustentabilidade no centro de todo o processo de criaçãoPara além da escolha de tecidos domésticos usados, os botões são ecológicos e fabricados em Portugal, por uma fábrica familiar localizada em Vila Nova de Famalicão. "São feitos com plástico reciclado e com mistura de outros desperdícios, como borras de café, desperdício de arroz e até resíduos de airbags. Fiquei muito feliz quando descobri esta empresa e, desde então, são os únicos botões que utilizo", conta Cristina.

Panos e toalhas que Cristina resgata
Panos e toalhas que Cristina resgata Foto: DR

Já para a preparação das encomendas, procurou tornar o processo o mais simples possível. As encomendas são enviadas em envelopes de papel e, em cada compra, vai junto um paninho bordado com o nome do cliente e/ou uma palavra bonita para este. "Possivelmente muitos desses tecidos iriam acabar no lixo, num aterro e gosto de lhes dar outro destino e uma segunda oportunidade. É o princípio da economia circular a funcionar."

Exemplo de encomenda, com um pano bordado
Exemplo de encomenda, com um pano bordado Foto: DR

O que começou como um passatempo, acabou por se transformar num trabalho a tempo inteiro, para o qual Cristina se dedica com o coração. Para gerir o negócio contou com a ajuda da Academia de Mulheres Empreendedoras, um programa de seis meses que ajuda diversas mulheres em vários países a acelerar os seus negócios e que descreve como tendo sido fundamental para estruturar a Grita e para não se sentir sozinha nesta nova fase.

Cristina conta igualmente com a ajuda extra da sua mãe, que diz ser tanto a sua maior fã como a maior crítica. "Ela aprendeu muito nova a fazer um pouco de tudo, como quase todas as mulheres naquela altura que eram educadas para ser "donas de casa". Sabe fazer tricot, crochet, bordar, faz arraiolos… e isso é muito útil e é uma grande mais-valia para a Grita." Assim, dividem-se as tarefas e enquanto Cristina escolhe os tecidos e os modelos, cose e corta, a mãe refaz os bordados quando necessário, disfarça marcas de uso e faz a vistoria final de cada peça.

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Neste momento, o futuro da marca passa por continuar a fortalecer o seu objetivo. O plano, marcado já para setembro, levará Cristina até Mumbai, onde irá fazer uma troca de tecidos com a Samaaj Studio, uma marca indiana com o mesmo conceito que a Grita. O objetivo é fazer uma coleção especial com os tecidos trocados. "Fiz este processo com a Teresa Samissone, estilista portuguesa que trabalha com tecidos de padrão Africano, em março deste ano e correu muito bem. Cada uma criou 4 peças com tecidos escolhidos pela outra. Foi uma experiência muito gira e que quero continuar a repetir com marcas internacionais que partilham os mesmos valores que a Grita", finalizou Cristina.

Peça da coleção 'Grita'
Peça da coleção 'Grita' Foto: DR

É através das suas redes sociais que anuncia, todos os meses, a data para o lançamento de cada nova coleção e abre as vagas para as encomendas. Para os mais interessados, podem explorar as peças disponíveis na loja online da Grita, com preços que rondam os €90. Quem a segue já sabe: ali, cada criação tem uma história, um passado e, agora, um novo futuro

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