Suas altezas, as influencers reais
Nos modernos contos de fadas, as plebeias que se tornam princesas continuam a ter sapatos e vestidos exclusivos, podem encomendá-los online e dominam as redes sociais. Afinal, também é nos palácios que estão as maiores influencers do nosso tempo.

Sempre que saem dos carros de luxo, os flashs que são disparados pelos fotógrafos iluminam intermitentemente o ambiente. O mediatismo e a curiosidade parecem criar uma espécie de holofote imaginário sobre elas. Em cinco minutos as suas fotografias estão na imprensa, em dez deram a volta ao mundo pelas redes sociais e em 15 uma qualquer peça do seu look fica esgotada no site da respetiva marca. É uma das leis da vida do século XXI. Despertam a curiosidade do público, fazem a indústria da moda vender sem parar e preparam cada aparição pública até à perfeição... São as novas influencers, um termo que, apesar de só recentemente ter entrado no nosso vocabulário, usamos como se sempre tivesse existido. Mas as mulheres sobre quem nos referimos nem sequer têm a suas redes sociais, não tiram selfies, não fazem acordos com as marcas, não estão autorizadas a aceitar presentes e não comparecem nos desfiles de moda. No entanto, tudo o que vestem torna-se objeto de desejo. Será que as maiores influencers do nosso tempo são as mulheres da realeza? E porque é queremos vestir como elas?
Quando a Espanha se preparava para a coroação de Felipe VI, em junho de 2014, a expectativa sobre a nova rainha consorte atravessou o oceano e levou Vanessa Friedman, a editora e crítica de moda do The New York Times, a refletir sobre o futuro papel de Doña Letizia. Ms. Friedman escreveu: "Com a coroação do marido, Letizia não se torna apenas rainha. Ela torna-se o equivalente a uma marca global de comunicação super-rápida. No seu papel e no seu guarda-roupa reside o poder de mudar globalmente o reconhecimento do nome de um criador. Isto leva, efetivamente, à obsessão sobre como uma primeira-dama se apresenta e o que veste, esse passatempo internacional tão gozado, e torna-o numa ferramenta nacional de crescimento económico." A ideia não é nova. Já há uns séculos, quando Napoleão Bonaparte se tornou imperador, Josefina, a sua amada e imperatriz consorte, passou a ser o modelo a seguir. Quando Napoleão quis estimular a indústria têxtil francesa, começou por desencorajar o uso de tecidos ingleses, baniu o uso de musselinas porque estas vinham da Índia através de Inglaterra e apostou num dress code formal nas receções na corte que impunha o uso de têxteis caros como as sedas, os veludos ou os cetins. Coube a Josefina refletir o esplendor do império e esta, curiosamente, comprava mais vestidos por ano do que a própria rainha Maria Antonieta (900 contra 170), bem como muitas luvas. Não foi por acaso que entronizou o estilo Império no vestuário feminino.

Os tempos mudaram, mas o papel das mulheres dos governantes mantém o uso da moda como ferramenta, seja para passar mensagens, como para impulsionar a indústria. Como explica Friedman, "afinal, tanto quanto qualquer outra coisa, o trabalho de primeira-dama, mesmo que apenas simbólico – e especialmente por ser simbólico –, tem histórica e habitualmente envolvido ser uma mostra da indústria da moda local, não importa o país". Segundo a jornalista, a rainha Letizia é como uma bênção viva para o mercado espanhol da moda, tanto de massas como de luxo. E é verdade que a Zara e a Mango são marcas que a rainha usa com frequência, mas estes gigantes do mass market são globais e já dispensam apresentação. Contudo, para criadores como Felipe Varela e como Lorenzo Caprille ver os seus nomes associados àquela musa de luxo e reconhecidos além-fronteiras pode transformar carreiras.
A jornalista do The New York Times usa o termo primeira-dama porque nos Estado Unidos da América o sistema presidencial leva a que de quatro em quatro anos haja uma nova figura feminina na Casa Branca como embaixadora da moda americana. E, recentemente, Michelle Obama desempenhou esse papel com grande mestria, usando a sua posição (e o seu carisma) para dar visibilidade a jovens criadores, assim como prestígio aos já consagrados. Mas no que se refere à realeza, o papel da moda cose-se com linhas mais apertadas. A realeza está acima da política e, por isso, deve passar uma imagem de continuidade, um princípio que se reflete também no que vestem. O protocolo de vestuário tem regras que devem ser seguidas à risca porque os comprimentos das bainhas, os acessórios de cabeça e até as cores dependem do evento e tudo isto é muito mais importante do que as tendências da estação, às quais a realeza nunca se deve render. Anabela Becho, historiadora de Moda e investigadora, elucida: "A realeza personifica, ainda hoje, e mesmo fora de uma regência monárquica, um ideal, um modelo a seguir. Claro que este fator tem raízes históricas e tem a ver com a importância social que a monarquia representou e representa nas sociedades. Outro aspeto tem a ver com a grande mediatização e visibilidade da realeza, tornando-se por essa razão veículo privilegiado de divulgação da(s) moda(s)." Este comportamento atravessou diferentes épocas da história e Portugal também teve os seus ícones reais. Conta ainda esta historiadora que no início do século XX "os ecos da moda parisiense chegavam até nós através de dois ícones absolutos de elegância em contraponto – D. Maria Pia, a rainha-mãe, mais conservadora, e D. Amélia, mulher do rei D. Carlos, mais vanguardista, encarnando a figura da modernidade iminente. Estas duas mulheres, duas figuras da realeza, representavam um modelo a seguir e um ideal pela sua relevância social, numa época em que se iniciaram, na sociedade ocidental, os movimentos pela emancipação da mulher e a conquista dos seus direitos civis e políticos." E, embora copiar a realeza não estivesse ao alcance de todos, ter estas mulheres como referência permitia, pelo menos, sonhar. Contudo, refere Anabela Becho que "a implantação da República, a 5 de outubro de 1910, abalou fortemente as hierarquias sociais e a moda, que abandona as referências reais como modelo de elegância".
A monarquia é vista por muitas pessoas como uma instituição arcaica e as dez monarquias europeias que transitaram para o século XXI têm-se reinventado, adaptando as suas tradições seculares para sobreviverem com sucesso. Hoje, as famílias reais têm um papel representativo e são o exemplo a seguir pelos seus súbditos. Mas as histórias de Cinderela a que temos assistido nas últimas décadas acendem o brilho renovado de fantasia que envolve a realeza. A entrada de plebeias e de plebeus nas famílias reais transformou-se numa vantagem que não só aproxima a monarquia do povo, como também se traduz numa geração de princesas e de rainhas preparadas como nenhumas outras. Lembremo-nos de que Kate Middleton é a primeira licenciada a entrar na família real e a primeira plebeia, em cerca de 450 anos de história da Grã-Bretanha. Longe do antigo esquema de alianças políticas, geoestratégicas e económicas das casas reais europeias que casavam familiares entre si, os príncipes modernos partiram à aventura de procurar noivas fora dos muros dos palácios e depois de rigorosos escrutínios, as princesas escolhidas têm-se revelado um sucesso de popularidade, sendo a arte de bem vestir um ponto obrigatório na sua preparação. Mary da Dinamarca tornou-se uma das mulheres mais elegantes do mundo e Máxima da Holanda, com os seus looks coloridos, já podia ter dado nome próprio a um estilo arco-íris. Até no pós-crise de 2008, o facto de as mulheres mais jovens da realeza usarem peças de marcas low cost passou uma importante imagem de contenção e de respeito.

Ao contrário do que acontece com as celebridades nos eventos de passadeira vermelha, com looks que resultam de intensas negociações com as marcas de moda, a realeza não aceita ofertas e faz as suas próprias escolhas. Contudo, se até Maria Antonieta teve Rose Bertin, conselheira e também a costureira que criava as suas roupas e a quem a rainha chegou a atribuir o título não oficial de ministra da Moda, as princesas modernas não podiam passar sem a sua versão da fada madrinha: uma stylist. Em Espanha, os créditos pelos looks mais arrojados da rainha Letizia são atribuídos a Eva Fernández. No Reino Unido, Natasha Archer já trabalhava no gabinete dos duques de Cambridge quando, em 2014, foi encarregada de tornar o estilo da duquesa mais real, um pedido da própria rainha. Segundo a Vanity Fair americana, Archer faz muitas compras online e a escolha final é sempre da duquesa que, desde o seu casamento, integra a lista das pessoas mais bem vestidas, publicada anualmente pela referida revista. Mas, enquanto Bertin fez fortuna e chegou a ter como clientes rainhas de outros países, as conselheiras reais da atualidade primam pela discrição.
Menos discreta é a relação das damas da realeza com o seu criador-chave, aquele a quem recorrem quando o evento pede nada menos do que perfeição. Tal como Kate Middleton tem em Sarah Burton, da casa Alexander McQueen, uma aliada, Meghan Markle parece ter criado uma forte relação com Clare Waight Keller, da casa Givenchy. A aparição surpresa da duquesa nos British Fashion Awards, em dezembro de 2018, para entregar à criadora do seu vestido de noiva um prémio, é a prova disso. Não se trata de uma tendência das monarquias modernas, mas sim talvez de uma tradição. Anabela Becho relembra "a relação especial de Madame Grès e de Grace Kelly, de Schiaparelli e de Wallis Simpson, a duquesa de Windsor (casou com um vestido criado por Mainbocher, mas confessou que foi com as combinações de seda e com a lingerie criadas por Schiaparelli que conquistou Eduardo VIII que abdicou do trono por ela)". Mencionemos ainda a união especial de Norman Hartnell com a rainha Isabel e a princesa Margarida, tendo o designer britânico desenhado os respetivos vestidos de noiva, o de Elizabeth, em 1947, e o de Margarida, em 1960, sendo considerado uma das obras-primas de Hartnell", destacando-se ainda as peças de Philip Treacy "que adornam as cabeças reais." Já é seguro concluir que a realeza e a moda têm uma relação especial e de reciprocidade, uma vez que as marcas beneficiam de uma exposição mediática como só as royals proporcionam, assim como estas precisam da genialidade dos criadores de moda para manterem o seu estatuto de ícones de estilo. E, hoje, a Internet tem um papel fundamental.
Quando Kate Middleton e o príncipe William se casaram, a 19 de abril de 2011, o Instagram ainda estava a começar, mas a blogosfera não perdeu tempo. Assim nasceram vários espaços online onde o estilo de um ícone em ascensão viria a ser seguido ao pormenor. No plano da ficção, o momento "e viveram felizes para sempre" anuncia o fim da história, mas nos contos de fadas da vida real esse é apenas o início da vida das novas princesas. Além dos meios de comunicação social tradicionais, a legião de fãs da duquesa de Cambridge pode seguir todos os seus passos numa série de blogues como, por exemplo, hrhduchesskate.blogspot.com, katemiddletonstyle.org, whatwouldkatedo.com ou whatkatewore.com. A fundadora deste último chama-se Susan E. Kelley, vive na cidade de Okemos, no estado americano do Michigan, e conta-nos que o fascínio pela realeza é natural nos EUA, porque não têm a sua própria família real para seguir. Susan começou a escrever sobre Kate Middleton no blogue da loja online criada com o marido. E de cada vez que a noiva real era tema, o número de leitores aumentava. Então decidiu começar um espaço online exclusivamente dedicado à atual duquesa e, em 2011, arrancou com o blogue What Kate Wore (O que Kate vestiu). Hoje, dedicada ao projeto a tempo inteiro, Susan explicou-nos que os seus posts tratam de "cobrir dois tópicos primários: o estilo da duquesa de Cambridge e o seu trabalho humanitário". Os membros da família real assumem diferentes mecenatos e as duquesas de Cambridge e de Sussex estão, gradualmente, a herdar as instituições que a rainha apadrinha e por isso nas muitas vezes que aparecem em atos oficiais estão a usar o seu mediatismo para ajudar uma causa. Em cada post, além de descodificar o look da duquesa, revelando quais as marcas usadas, se as peças são repetidas e se têm algum interesse simbólico, Susan sugere também peças menos caras que sejam parecidas com o que a duquesa de Cambridge usou e que permitam às leitoras copiar o seu look porque, segundo a fundadora, este é o tópico que mais interessa às leitoras e até há um nome próprio para tal: RepliKates. Além de What Kate Wore, Susan começou também a fazer o site What Kate’s Kids Wore (sobre os filhos dos duques de Cambridge) e, em 2017, juntou-se a uma amiga como parceira do site What Meghan Wore. A rainha Letizia de Espanha também tem blogues dedicados ao seu guarda-roupa (por exemplo, letiziadeprincesareina.com e www.queenletiziastyle.com/blog) e alguns até estão alocados nos sites de jornais e de revistas tradicionais (como El Blog de la Reina Letizia no site da revista Yo Doña, do jornal El Mundo), bem como a princesa Mary da Dinamarca (styleofmary.blogspot.com). Estes espaços online são vias rápidas para a propagação da informação e também permitem às leitoras chegarem rapidamente às marcas. Meghan Markle (que também tem os seus blogues de seguidores como, por exemplo, meghansmirror.com ou madaboutmeghan.blogspot.com) é o exemplo mais recente e ilustrativo do fenómeno que podemos chamar de royal influencer. Os números, que já foram amplamente divulgados, falam por si: as calças de ganga Mother que usou nos Invictus Games, no verão de 2017, valeram à marca californiana um aumento de 200% no tráfego do site, calças esgotadas em três dias e uma lista de espera com 400 pessoas. A carteira que usou no mesmo dia ficou com uma lista de espera de 20 mil pessoas na marca Everlane. O casaco Line the Label que Meghan usou no dia do noivado não só esgotou automaticamente, como provocou o crash no site da marca canadiana. Birks, a marca de joias que usou no mesmo dia, viu o tráfego do site aumentar em 500%. E a duquesa de Sussex até já tem uma carteira com o seu nome, um modelo da marca escocesa Strathberry que Meghan usou no primeiro ato oficial a seguir ao anúncio do noivado e que esgotou em 11 minutos.

O fenómeno de inúmeras jovens mulheres verem nas princesas e nas rainhas exemplos a seguir não é pura vaidade, nem tão-pouco um assunto fútil. Celebridades como Selena Gomez, Ariana Grande, Beyoncé, Kim Kardashian ou Taylor Swift são conhecidas como as influencers mais poderosas do Instagram, mas as influencers reais estão numa liga diferente. A Brand Finance, consultora britânica especializada em avaliação de marcas, estudou o impacto que tem no mercado de luxo americano o facto de ter origem inglesa (englishness) e os apoios reais (royal warrents) e o relatório (British Luxury 2018) apresentado em outubro de 2018 conclui que a duquesa de Cambridge é a influencer real mais poderosa. "Quando a jovem da família real usa produtos do Reino Unido torna-os mais desejáveis para 37.6% da população americana" e é seguida de perto pela duquesa de Sussex. A influência de ambas vai muito além da moda mas, no que toca a esta área, diz o relatório que "graças ao estilo de Kate e de Meghan, um terço da população dos Estados Unidos considera o Reino Unido um líder mundial na moda". Neste estudo fica claro que a geração de norte-americanos entre os 25 e os 45 anos de idade é a maior simpatizante do Reino Unido e da família real britânica. Na altura em que este relatório foi publicado, os duques de Sussex estavam numa viagem oficial pela Austrália, pela Nova Zelândia, pelo reino de Tonga e pelas Fiji, entre 16 e 31 de outubro deste ano, a qual teve atenções redobradas porque se ficou a saber que o casal espera o seu primeiro filho. Da América à Oceania, o encanto e a influência da realeza parecem chegar a todos os recantos do mundo.
Rainha da moda
A princesa Diana foi, provavelmente, o maior ícone de moda da realeza até hoje e mesmo numa era sem internet e, muito menos, redes sociais, foi a mulher mais fotografada do mundo. Começou como noiva real sem guarda-roupa à altura do cargo que iria ocupar e depois transformou-se de princesa de contos de fadas em símbolo de bom gosto e sensualidade. Com os conselhos de Anna Harvey, da Vogue inglesa, a nova princesa percebeu que a moda era um mundo novo com uma linguagem própria e aprendeu a fazer as escolhas apropriadas para cada ocasião, tirando partido da sua silhueta. Diana desenvolveu uma sensibilidade única para se vestir e até fez do seu guarda roupa uma ferramenta diplomática, vestiu roupas de inúmeros criadores de moda e foi copiada por mulheres em todo o mundo.

Jennifer Lawrence e Cooke Maroney celebram noivado em Nova Iorque
A atriz e o futuro marido organizaram a festa que antecede o casamento.
Disney aposta em vestidos de noiva (e sim, parecem saídos de um conto de fadas)
Chama-se Disney Fairy Tale Weddings Collection e já está a fazer um sucesso entre as apreciadoras das personagens como Cinderela ou Rapunzel.
Joias que contam histórias de amor
Há joias que guardam, nos seus metais e pedras preciosas, as mais inspiradoras histórias de amor. Entre os anéis de noivado que selam compromissos apaixonados e as peças de joalharia tão extravagantes quanto únicas, descobrimos algumas das mais belas joias de amor.
Isabel II celebra 96 anos. Este era o diário secreto da sua adolescência, dos amores às confissões
Ao longo de quase seis anos, uma amiga de infância das Isabel e Margaret relatou em diários tudo o que viveu com as princesas. No dia do seu aniversário, recordamos o 'The Windsor Diaries: A minha infância com as Princesas Elizabeth e Margaret', diário que revela as paixões, os segredos e as peripécias de uma futura rainha com 16 anos.
O vestido de noiva de Diana como nunca o vimos
O vestido de noiva da princesa Diana estará em exibição no palácio de Kensington, em junho. David Emanuel lembra o dia.
As sandálias preferidas da rainha Letizia (e que as portuguesas também calçam)
Letizia Ortiz, rainha da Espanha, continua a provar que tem um estilo irrepreensível. Para o verão, escolheu umas sandálias que estão entre as preferidas das espanholas, mas também de algumas influencers portuguesas.