Sal, açúcar e aditivos. O trio perigoso na alimentação infantil e outras verdades sobre o tema
A introdução alimentar é um dos momentos mais desafiantes e especiais para os pais, repleto de dúvidas e descobertas. Carolina Almeida, fundadora do Comida de Bebé, tem ajudado milhares de famílias a tornar este processo mais simples e nutritivo.

A introdução alimentar é um momento marcante na vida de qualquer família. Entre colheres rejeitadas, caras engraçadas e aquela ansiedade típica de quem quer fazer tudo bem, os pais mergulham num mundo de dúvidas – o que oferecer primeiro? Como garantir que o bebé come de forma equilibrada? Foi exatamente desse turbilhão de questões que nasceu o projeto Comida de Bebé, criado por Carolina Almeida.
Depois de enfrentar os desafios da alimentação da sua filha, Carolina dedicou-se a estudar, a experimentar e a partilhar o conhecimento, tornando-se numa referência para milhares de famílias. Agora, com três livros publicados – incluindo o mais recente Comida de Bebé: Introdução Alimentar –, continua a ajudar os pais a fazerem deste processo uma experiência mais tranquila, informada e, acima de tudo, saborosa.

Quais são alguns mitos que existem quando se fala em introdução alimentar?
A introdução alimentar está rodeada de mitos, mas destaco alguns dos mais comuns:
- O bebé precisa de comer comida triturada porque não tem dentes.

Na verdade, os dentes do bebé estão localizados logo abaixo das gengivas, o que as torna bastante firmes. Qualquer pai ou mãe que já tenha sido mordido por um bebé "sem dentes" sabe bem disso! Isto permite que o bebé consiga esmagar alimentos macios (com textura e formato seguros) usando apenas as gengivas.
Nota: Uma forma simples de testar se uma textura é segura é verificar se o alimento se esmaga facilmente entre o polegar e o indicador, com uma pressão ligeira.
- As papas industrializadas são essenciais na introdução alimentar.

Embora as papas compradas no supermercado sejam enriquecidas com nutrientes como o ferro, têm sempre o mesmo sabor, textura e cor, o que limita a variedade de experiências do bebé. Além disso, muitas contêm açúcar adicionado ou farinha hidrolisada. Se oferecermos uma alimentação variada, incluindo boas fontes de ferro (como carne, peixe, ovos, leguminosas, tofu ou tempeh) e uma fonte de vitamina C para melhorar a absorção do ferro, a maioria dos bebés não precisará de papas industrializadas.
- Há um calendário rígido para a introdução de alimentos.
Antigamente, havia recomendações específicas sobre idades para introduzir certos alimentos, como ovos, peixe, leguminosas ou frutas cítricas. No entanto, essas diretrizes não têm base científica, e hoje sabemos que todos os alimentos naturais podem ser introduzidos a partir dos 6 meses de idade, desde que sejam oferecidos no formato e consistência seguros.

Os únicos alimentos proibidos durante a introdução alimentar são: sal adicionado (até aos 12 meses de idade), açúcar e mel até aos 2 anos, bebida vegetal de arroz (até aos 5 anos), queijos não pasteurizados, com bolor ou pasta mole, carnes, ovos e pescados crus ou mal cozinhados, peixes com elevado teor de mercúrio como o atum fresco (e algumas opções em conserva), cação, espadarte, maruca, pata roxa, peixe espada e tintureira (até aos 10 anos), alimentos ultra-processados (exemplos: bolachas, fiambre, salsichas, molhos e refeições prontas).

Quais são os sinais mais importantes para saber quando um bebé está pronto para a introdução alimentar?

Os sinais de prontidão para a introdução de sólidos incluem: conseguir sentar-se com o mínimo de apoio; ter controlo do pescoço e da cabeça (a cabeça não cai para a frente); demonstrar uma boa coordenação olhos-mãos-boca (consegue olhar para um objeto, agarrá-lo e levá-lo à boca); ter o reflexo de extrusão lingual diminuído (o reflexo que faz o bebé empurrar objetos para fora da boca com a língua). O ideal é esperar até perto dos 6 meses, pois é nessa fase que o bebé desenvolve a capacidade de mastigar, engolir e comer de forma mais autónoma.
Quais são os erros mais comuns que os pais cometem durante a introdução alimentar e como podem ser evitados?
A introdução alimentar é muito mais do que nutrir o bebé; é uma fase de exploração e descoberta. Os primeiros 1000 dias de vida são cruciais para o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis, que podem perdurar até à idade adulta. Aqui estão três erros comuns e como evitá-los:

- Introduzir alimentos ultraprocessados precocemente. Alimentos como papas industrializadas, bolachas ou outros produtos com açúcar, sal ou aditivos devem ser evitados ao máximo. Contêm quantidades elevadas de açúcar, adoçantes, sal e outros aditivos nocivos para bebés e crianças.
- Atrasar a introdução de texturas variadas. Um bebé que come sopas e papas deve, em poucas semanas, estar a comer outras texturas, e por volta dos 7 meses já pode experimentar finger foods (alimentos em pedaços para comer com as mãos).
- Forçar ou distrair o bebé para que coma. Os bebés nascem com a capacidade de autorregular o apetite. Forçá-los a comer ou distraí-los para que comam mais pode interferir com essa capacidade e levar a excessos.

É importante lembrar que comer é uma aprendizagem. O bebé precisa de tempo e paciência para se adaptar a novos sabores e texturas.

Como equilibrar as necessidades nutricionais de um bebé com a introdução de novos alimentos, especialmente nas primeiras semanas?
Até aos 12 meses, o leite materno ou de fórmula continua a ser o principal alimento do bebé. Entre os 6 e os 12 meses, os sólidos vão complementando as necessidades nutricionais de forma gradual. Nas primeiras semanas, não é expectável que o bebé coma grandes quantidades. O leite continua a fornecer a maioria dos nutrientes necessários. Ter esta consciência ajuda a reduzir a ansiedade dos pais.
A introdução de alimentos sólidos pode influenciar o desenvolvimento da mastigação e da coordenação motora? Como?
Sim, sem dúvida! Existe uma janela de oportunidade para a mastigação até aos 9 meses. É essencial expor o bebé a uma variedade de texturas para que ele possa praticar. A força mandibular necessária para mastigar alimentos em pedaços é muito maior do que a usada para comer sopas ou papas. A nível de coordenação motora: já pensaram a coordenação que requer olhar para um alimento, agarrar e levá-lo à boca? Quanto mais cedo permitirmos que o bebé o faça, mais rápido ele vai conseguir alimentar-se de forma autonoma.

Quais são as recomendações mais recentes sobre a introdução de alérgenos alimentares em bebés, como ovos e amendoins?
A recomendação atual é introduzir todos os alérgenos comuns antes dos 12 meses. Estes incluem: leite de vaca (através de iogurte natural sem açúcar ou queijos com baixo teor de sal), ovo, trigo, amendoim, soja, frutos de casca rija, peixe, marisco, sementes de sésamo, aipo, tremoço, mostarda e sulfitos.
Cuidados a ter: introduzir o alérgeno durante três dias consecutivos, não introduzir novos alimentos nesse período, começar com uma quantidade pequena e aumentar gradualmente e oferecer o alérgeno na primeira parte do dia, longe da sesta, para monitorizar possíveis reações e manter a oferta do alérgeno de forma regular. Alimentos como morangos ou outros frutos vermelhos não são alérgenos comuns, ao contrário do que muitas pessoas pensam.

Como lidar com a recusa de alimentos por parte do bebé durante a introdução alimentar, sem gerar frustração para os pais e para a criança?
A introdução alimentar não é linear. O apetite do bebé varia, e fatores como o nascimento de dentes ou viroses podem influenciar a aceitação de alimentos. É importante que os pais se adaptem a esta nova fase, entendendo que a dinâmica entre sestas, refeições de sólidos e leite pode ser desafiadora.
Após os 2 anos, pode surgir alguma seletividade alimentar. A recomendação é observar a ingestão ao longo de vários dias ou de uma semana, e não apenas num dia isolado. Além disso, é crucial acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança com o médico.
Quando surgem sinais de seletividade, os pais devem evitar substituir refeições, obrigar a criança a comer ou puni-la por não comer e subornar ou distrair para que coma. Na maioria dos casos, é uma questão de ajustar expectativas e manter a calma.
