A educação alimentar é obrigatória no Japão – porque comer também se ensina
Na minha última viagem ao Japão, deparei-me com uma realidade que me impactou mais do que qualquer templo, paisagem ou cerimónia do chá. Foi à mesa que percebi o verdadeiro segredo por trás da saúde e vitalidade do povo japonês: educação alimentar. Sim, têm uma disciplina obrigatória na escola dedicada a isso.

Numa altura em que tantas mães (como eu) se debatem com dúvidas sobre o que dar aos filhos para comer, como garantir que comem bem, que crescem saudáveis e felizes, olhar para o Japão mostrou-me que existem caminhos possíveis e bem-sucedidos. Fez-me perceber que não estamos perdidos – apenas desenraizados de uma cultura alimentar consciente. Porque não, não é um povo que nasceu com um "gosto especial" por alimentos saudáveis como vegetais verdes, caldos, e comida mais simples – eles crescem nesse ambiente. Porque a alimentação não é separada da educação: é parte integrante dela.
No Japão, aprender a comer é tão importante quanto matemática ou história

A disciplina chama-se Shokuiku e ensina a importância dos alimentos e da sazonalidade. Está assente no princípio de que a educação alimentar contribui para a saúde física e mental dos cidadãos, ajuda a desenvolver autonomia nas escolhas e sustenta hábitos saudáveis ao longo da vida.
Curiosamente, este conceito de educação alimentar tem raízes mais antigas do que se imagina: foi iniciado por Sagen Ishizuka, um médico militar que foi pioneiro na base da filosofia que viria a ser conhecida como macrobiótica.
Nas aulas, mostra-se a importância de preferir uns alimentos em detrimentos de outros. E muitos alunos ficam surpreendidos ao perceber o quão prejudiciais certos produtos podem ser.

Agora, imagine os mesmos alunos, mas sem qualquer informação. Com cantinas onde reina o açúcar, as bebidas açucaradas, as gorduras e ninguém explica às crianças o impacto daquilo que estão a comer. Pior ainda: como está na escola, assumem que é seguro, que é "normal" e, por isso, não pode fazer mal.
A boa notícia é que ensinar uma criança a comer bem não exige perfeição nem rigidez. Exige presença, responsabilidade do adulto e um olhar atento ao que oferecemos – e, acima de tudo, ao que nós comemos.
Partilho algumas ideias simples, que pode aplicar já hoje:

- Evite alimentos processados com sal, açúcar ou aditivos artificiais, mesmo que "para bebés". Gosto de utilizar esta máxima: produtos que têm o mesmo nome em vários países é algo fabricado, não um alimento real.
- Cozinhe com ingredientes de acordo com a sua época e de forma simples. É essencial sentir o sabor dos alimentos sem molhos que disfarcem.
- E, talvez o mais importante: dar o exemplo. Uma criança vai naturalmente querer imitar.

A alimentação não tem de ser mais uma fonte de stress. Pode ser o oposto: um momento de conexão, de cuidado e de amor.
No Japão, vi isso com clareza: há um cuidado quase invisível, naturalizado, na forma como os japoneses se alimentam. Mastigam com atenção, cozinham os alimentos no seu próprio sumo e com tempo, utilizam fermentados para promover uma boa digestão. Mas tudo isso sem etiquetas de "mais saudável" ou "menos saudável". Porque faz parte – é cultural, é intrínseco. Talvez por isso, sejam também um dos povos com maior longevidade do mundo.
Se começarmos com os nossos filhos, ainda vamos a tempo de mudar o futuro – o deles e o nosso.

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