Mitos sobre bebés e birras. "O choro do bebé é a sua forma primária de comunicação"
Dois especialistas esclarecem à Máxima que os bebés não choram por birra, mas sim para comunicar necessidades reais, sendo fundamental responder ao seu apelo para um desenvolvimento emocional saudável.

A atriz e personalidade pública Rita Pereira gerou debate nas redes sociais ao publicar no seu Instagram a sua opinião sobre o choro do seu bebé de quatro meses. No vídeo em questão, divulgado nas suas histórias, Rita afirmou que "muitos pais, mal ouvem os filhos a chorar, param tudo o que estão a fazer", justificando a sua decisão de não pegar de imediato na filha, pois "ela está bem" e "só quer atenção". As várias reações ao vídeo deram origem a um debate, levando a alguns profissionais de saúde infantil a questionar esta abordagem, alertando para os riscos de ignorar o choro dos bebés dentro deste contexto específico.
A crença de que os bebés choram "por birra" é uma ideia amplamente disseminada, mas a ciência desmente essa perspetiva. De acordo com Filipa Malo Franco, psicóloga clínica e da saúde especializada em parentalidade, "ainda se perpetua a ideia de que chorar 'por birra' não faz mal, valorizando as necessidades físicas e menosprezando todas as outras". No entanto, é sabido que o choro do bebé é a sua forma primária de comunicação e um pedido de atenção a necessidades reais.





João Rio Martins, pediatra, reforça essa ideia ao afirmar que "o choro é a forma de comunicar as suas necessidades, seja fome, frio, calor, desconforto ou simplesmente a necessidade de colo". O especialista acrescenta ainda que os bebés "não têm capacidade de regular emoções nem de se acalmar sozinhos", pois o córtex pré-frontal, responsável pelo controlo emocional, ainda não está totalmente desenvolvido.
A ideia de que os bebés devem "aprender" a não chorar é, segundo os especialistas, errónea e potencialmente prejudicial. A psicóloga Filipa Malo Franco alerta que "o choro continuado, sem resposta, e se for de forma persistente, provocará uma resposta de stress tóxica para o organismo, que terá as suas reais consequências". Esse stress prolongado pode aumentar os níveis de cortisol, hormona associada ao stress, e prejudicar o desenvolvimento emocional e cerebral da criança a longo prazo. João Rio Martins concorda, explicando que "se um bebé chorar de forma prolongada sem receber resposta, os níveis de cortisol podem aumentar, e os estudos mostram que uma exposição regular a níveis elevados de cortisol, especialmente na ausência de suporte emocional adequado, pode ter impactos negativos no desenvolvimento cerebral e emocional".

Para muitos pais, responder ao choro de um bebé pode ser interpretado como "mimo" ou "manha", mas a psicóloga enfatiza que "as necessidades de proximidade são reais, não é mimo nem manha. As teorias do desenvolvimento infantil explicam-no de maneira incontestável". O colo é, segundo a especialista, "o habitat principal do bebé" e representa "uma necessidade biológica, emocional e de vinculação". O que para os adultos pode parecer um comportamento desnecessário é, para o bebé, essencial para o seu bem-estar e desenvolvimento.
Já o pediatra reforça que "responder ao choro de um bebé não o 'estraga' nem o torna dependente. Pelo contrário, é assim que se constrói a segurança emocional". Criar um vínculo forte com os cuidadores desde cedo contribui para um desenvolvimento emocional saudável e previne dificuldades futuras de regulação emocional e ansiedade.
O debate iniciado por Rita Pereira levanta questões importantes sobre a parentalidade e a perceção do choro dos bebés. Embora seja compreensível que cada mãe ou pai tenha a sua própria abordagem, é essencial considerar o conhecimento científico atual. O choro de um bebé não é um capricho ou uma forma de manipulação, mas sim um pedido legítimo de atenção e conforto. Como afirma João Rio Martins, "um bebé que chora não está a fazer birra. Está a pedir ajuda. E a melhor resposta que podemos dar é responder à sua necessidade".
