'O meu leite deve ser fraco' e mais 4 mitos sobre amamentação
No seu novo livro, “Quero Amamentar com Confiança e Conforto”, Andrea Guerreiro, doula e consultora de lactação IBCLC, esclarece verdades sobre o processo de amamentar.
A dislexia é, por definição uma disfunção neurológica que se manifesta na dificuldade da aprendizagem da leitura. Esta disfunção não está relacionada com a falta de inteligência de maneira nenhuma e pode manifestar-se em pessoas com quociente de inteligência acima da média. Por ser de génese neurológica e até, potencialmente, genética, Helena Serra Fernandes, formada em Estudos Superiores Especializados, em Educação Especial, na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, doutorada em Estudos da Criança e especializada em Sobredotação (e, atualmente, presidente da Assembleia Geral da Dislex) afirma que não tem cura, mas tem substancial potencial de melhoria.
A especialista confirma que os primeiros sinais que se manifestam em crianças com dislexia são o "atraso na aquisição da fala, articulação dos sons da fala alterada" (até tarde a pronúncia é de bebé), "dificuldades em memorizar" (canções, trava-línguas, etc.), "uso de frases curtas com vocábulos muito simples" (para a idade e meio cultural). Há a questão da dispersão - "a criança é atenta a tudo sem se fixar em nada" -, "confunde direita-esquerda, tem dificuldade de coordenação olho-mão, e confunde cores". Estes primeiros indicativos, que merecem atenção, podem manifestar-se desde o ensino pré-escolar, mas um diagnóstico formal só pode ser efetuado com sete anos, a partir de testes específicos elaborados por um psicólogo educacional, um docente especializado ou um neuropsicólogo.
É ainda no pré-escolar que se pode fazer algum tipo de prevenção, segundo a especialista. Helena Serra Fernandes sugere que a prevenção pode ser feita começando pela estimulação ao máximo da "linguagem compreensiva e expressiva", através de exercícios como "histórias ouvidas e recontadas, canções, trava-línguas, lengalengas, antónimos-sinónimos, palavras começadas por [uma letra específica], palavras que rimam com [outras], repetir sons ouvidos, saber dialogar, entre outras". Os educadores devem ainda desenvolver a "motricidade ampla com muitos jogos de movimento", a psicomotricidade, reconhecendo e nomeando as partes do corpo e cultivando o saber, sem hesitação, qual é a sua direita-esquerda ou perceber pequenos desenhos simétricos, "a motricidade fina, sabendo colorir de forma controlada dentro dos espaços, fazer recortes à mão ou com tesoura e pegar corretamente no lápis", "a memória auditiva, retendo frases e escutando e executando instruções" e, por fim, a especialista indica ainda o estímulo da "memória visual, conhecendo bem as cores e percebendo diferenças em desenhos".
Segundo o site da Dislex, a Associação Portuguesa de Dislexia, a dislexia pode ainda estar associada a outras perturbações, como a perturbação específica da linguagem, discalculia, disortografia, descoordenação motora, défice de atenção com ou sem hiperatividade, alterações do comportamento, perturbação do humor, perturbação de oposição e desvalorização da autoestima. Segundo Torres e Fernandéz (2001), a dislexia pode ainda manifestar-se através da ansiedade, insegurança, atenção instável ou desinteresse pelo estudo de uma maneira comportamental ou no universo escolar através de um ritmo de leitura lento, com leitura parcial de palavras, perda da linha que está a ser lida, confusões na ordem das letras (ex.: sacra em vez de sacar), inversões de letras ou palavras (ex: pro em vez de por) e mescla de sons ou incapacidade para ler fonologicamente.
Num espaço escolar ainda muito tradicional, apesar de em evolução constante, uma criança com dislexia pode não só, segundo Helena Serra, "sentir que estuda, se esforça, procura melhorar, mas não consegue", como também "comparar-se com os colegas que estão a progredir bem, diminuindo o seu autoconceito". De maneira a integrar uma criança com estes sentimentos deve-se explicar "que cada um dos alunos da classe/todas as pessoas, têm as suas maiores habilidades e também todos têm as suas dificuldades", fazendo-os sentir menos diferentes.
Por outro lado, Helena Serra Fernandes reitera que a dislexia está, também, associada a uma "maior criatividade/capacidade em algum domínio de realização e, mais adiante, a determinação e resiliência", vindas de uma vida a viver num mundo que não é feito para eles. Esta perceção quanto à dislexia não é novidade, já que, no início do milénio, saíram vários estudos que relacionavam a dislexia com alunos do ensino artístico. Ulrika Wolff escreve no abstrato do estudo que conduziu em 2002 que "os estudantes de academias de arte apresentaram significativamente mais sinais de dislexia do que os estudantes de universidades não ligadas à arte". Isto pode-se justificar com o estudo dos anos 80 (corroborado posteriormente em estudos mais recentes) de Geiger e Lettvin que demonstram que o cérebro processa a informação proveniente das zonas centrais e periféricas do campo visual de forma separada e que uma pessoa com dislexia, ao contrário de um leitor comum, identifica em primeiro lugar as letras do extremo de uma linha – uma pessoa sem dislexia identifica o centro. Desta maneira, um aluno com dislexia consegue absorver uma cena como um todo mais rapidamente, através das visões periféricas, tornando-os ótimos artistas. Os investigadores chamam-lhe a "essência visual".
Helena Serra Fernandes alerta ainda para o que falta ser feito para melhorar a vida de quem cresce a sentir-se diferente. Nas escolas, faltam "respostas pedagógicas atempadas e cientificamente suportadas, fazendo proceder à identificação precoce de casos, à sua avaliação compreensiva, à implementação de uma intervenção específica" e cabe-lhes ainda "compreender, caso a caso" as dificuldades do aluno e desenvolver uma resposta individual para estimular as suas competências.
Um diagnóstico precoce e acompanhamento psicológico e escolar podem fazer a toda a diferença na vida de uma pessoa com dislexia. Não são incapazes, mas precisam que alguém lhes prove que acreditam nisso.