Diana e Carlos em Lisboa: o princípio do fim do casamento real
Bela e espirituosa, Diana acompanhou o marido a Portugal em fevereiro de 1987, mas consigo trazia o segredo de um casamento arruinado. Sabendo dos quartos separados no Palácio de Queluz, os tablóides britânicos falaram, pela primeira vez, na crise conjugal dos príncipes de Gales e não mais pararam de os perseguir em busca de sinais comprometedores. A propósito da estreia da quarta temporada da série “The Crown”, recordamos esses quatro dias cruciais para a vida do casal

Numa manhã gelada do inverno de 2010, a autora deste artigo foi ao palácio de Kensington, em Londres, onde era apresentada uma exposição sobre as vidas dos seus reais habitantes nos últimos dois séculos. Tinham passado 13 anos desde a morte de Diana de Gales, mas qualquer vestígio da sua presença continuava a ser frenética e quase macabramente perseguido pelos visitantes. "Moça, sabe se esse vestido era de Diana?", perguntou-me uma jovem brasileira. Não, era de Margarida, irmã da rainha Isabel II, mas a busca dela manteve-se, incessante, à procura de algo que a princesa de Gales tivesse tocado. Este tipo de fascínio, irresistível e eletrizante como uma tempestade magnética, nasceu na própria manhã de 29 de julho de 1981, quando Diana Frances Spencer se tornou princesa de Gales por graça do seu casamento com o herdeiro da Coroa britânica, Carlos, de 33 anos. Pelo braço do pai, a lourinha, 20 anos acabados de fazer, com o vestido de noiva que viria a ser o mais copiado e imitado da História de tão rentável setor, fez crer ao mundo que as princesas dos contos de fadas podem, em ocasiões raras, sob condições muito especiais, adquirir espessura humana. Dezassete anos depois, esta Branca de Neve de Althorp derreteu, mas o fascínio aumentou ainda mais, dando lugar à lenda.


Em fevereiro de 1987, Diana e Carlos estiveram em Portugal, retribuindo a visita que o Presidente Mário Soares fizera a Londres no ano anterior e assinalando, em simultâneo, a celebração dos 600 anos do casamento (em fevereiro de 1387) do rei português D. João I com a britânica Filipa de Lencastre, neta do rei Eduardo III de Inglaterra. "Quatro dias em Di maior" lia-se na primeira página do vespertino Diário de Lisboa no dia da chegada dos príncipes a Portugal. Logo seguido de uma abertura que evidenciava quem era o esperado protagonista do acontecimento: "Lady Di faz a diferença em mais esta visita da realeza europeia, de que Lisboa é, desde hoje, cenário."

Sorridentes, mas formais, os príncipes estiveram no Mosteiro dos Jerónimos, no Castelo de São Jorge, no navio Crioula, no Palácio Nacional da Pena, e foram ao Porto, onde receberam um autêntico "banho de multidão" junto à Sé Catedral. Resistindo ao frio do inverno, os populares esperaram horas, como mostram as imagens de arquivo da RTP, por um vislumbre da princesa, a quem chamavam pelo nome. E ela retribuía com a simpatia de sempre. O ponto alto da visita seria, no entanto, o banquete de gala oferecido pelo Presidente da República, no Palácio da Ajuda, em que Diana foi, uma vez mais, o centro das atenções, de tiara na cabeça — presente da rainha Isabel II — e um vestido de veludo azul-safira que deixava a descoberto os ombros e o pescoço. Bem-disposta e à vontade no seu papel de "estrela"de dimensão global, conversou com os circunstantes e brincou com Mário Soares, perguntando-lhe se os seus suspensórios não deveriam ser vermelhos, já que era socialista. Até mesmo Aníbal Cavaco Silva, então primeiro-ministro, e sua mulher, Maria, habitualmente mais austeros do que os Soares, se renderiam ao encanto natural de Diana.


O brilho desta imagem pública


Diana, por sua vez, envolvera-se já com James Hewitt, capitão do exército britânico, numa relação que muito daria que falar, e com um dos seus guarda-costas, Barry Mannakee, por quem a princesa diria ter estado a ponto de deixar tudo (a morte dele, num acidente de moto, nesse ano de 1987, não só a deixaria inconsolável como convencida de que fora assassinado). Em conversas com amigas, citadas anos mais tarde nas várias biografias dela que se foram publicando, Diana confirmou que a viagem a Portugal fora um ponto de viragem na já muito problemática relação conjugal. Nas transcrições completas das conversas e entrevistas que Diana manteve em 1992 e 1993 com Andrew Morton — um jornalista freelance e antigo correspondente real do "Daily Star" —, refere-se nestes termos à estada no nosso país: "Portugal em 1987 foi a última vez que estivemos juntos como marido e mulher." Morton publicou a primeira edição de Diana: Her True Story ("A verdadeira história de Diana contada por ela própria", na versão em português) em 1992, o annus horribilis de Isabel II. Separados oficialmente desde essa data, o casal divorciar-se-ia em 1996, pouco mais de um ano antes da morte da princesa.
O distanciamento entre ambos mostrado em Portugal, e evidente nas imagens fotográficas e filmadas da época, contrasta com outras visitas de Estado, realizadas em anos anteriores, quando ainda havia alguma esperança para este casamento que nunca fora idílico. Em 1983, a sua estadia de quatro semanas na Austrália, com o príncipe William ainda bebé ao colo (por insistência de Diana, que não se quis separar do filho), consolidou o papel da Coroa naquele importante Estado da Commonwealth e conquistou corações. Dois anos depois, o sucesso repetir-se-ia nos Estados Unidos, quando a princesa brilhou, ao dançar com John Travolta no salão de baile da Casa Branca. Mas o sorriso de Carlos, ao contemplar esta cena digna de filme, é tenso e revela já problemas que não cessariam de se agudizar nos anos seguintes, numa espiral de traições e acusações mútuas, cada vez mais menos privadas. Curiosamente, trinta anos antes da viagem de Carlos e Diana ao nosso país, uma outra visita de Estado a Lisboa revelara-se de importância crucial para outro casamento real, o da própria Isabel II e Filipe de Edimburgo, como a série "The Crown" nos mostrou na primeira temporada. Mas o desfecho foi totalmente diferente.

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