Cannes. Modelo leva "corda ao pescoço" em protesto pelas mortes no Irão
Mahlagha Jaberi, modelo iraniana, optou por um design simples e com uma mensagem clara: denunciar o regime opressivo no qual os cidadãos iranianos vivem atualmente.
Mahlagha Jaberi na 7ª edição do Festival de Cinema de Cannes.
Foto: Getty Images29 de maio de 2023Ana Filipa Damião
Após duas semanas, o Festival de Cinema de Cannes dá por encerrada mais uma edição marcada pela elegância que todos os anos surge na red carpet, mas também pela sua dose de episódios controversos e ativistas. Este foi o caso de Mahlagha Jaberi, modelo iraniana, que pousou para os fotógrafos com um design de Jila Saber antes da exibição do filme The Old Oak, no passado fim de semana.
O que à partida aparentava ser apenas um vestido bonito e justo ao corpo revelou-se uma provocação clara ao regime opressivo iraniano - o decote profundo assemelha-se a uma corda atada ao pescoço, uma referência aos cidadãos castigados com a pena de morte.
A modelo de 33 anos recorreu ao Instagram para partilhar um pequeno vídeo do look que usou em Cannes, acompanhado pela descrição "dedicado ao povo do Irão" e com o hastag #StopExecutionsInIran. O gesto de Mahlagha Jaberi foi aplaudido pelos utilizadores das redes sociais, que a congratularam pela sua coragem: "Que apoio inspirador ao Irão!", escreveu um seguidor. "Muitas atrizes são abordadas por ourives para usarem as suas joias na passadeira vermelha (em troca de um presente), mas a peça de joalharia mais sublime deste ano é a de Mahlagha Jaberi, feita de corda de cânhamo, pendurada nos [pescoços] dos seus irmãos e amigos no Irão", disse outro.
No final do ano passado, a Amnistia Internacional denunciou o aumento deste tipo de condenações com o objetivo de reprimir os protestos no país em defesa do movimento Mulheres, Vida, Liberdade. Meses depois, segundo o Expresso, uma organização não-governamental de defesa dos direitos humanos afirmou o falecimento de pelo menos 50 pessoas pela sua participação nos mesmos. Recorde-se que as manifestações tiveram, sobretudo, início após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava o Teerão quando foi presa pelouso "inapropriado" do véu islâmico hijab - desrespeitando assim o código de vestuário da República do Irão. Mahsa Amini foi detida no Centro de Detenção de Vozara, onde desmaiou, e posteriormente levada para o hospital, onde acabou por falecer.
Vive há anos em França, onde se refugiou depois de ter sido avisada para não voltar a casa, mas não é por isso que deixa de ser uma voz ativa em prol da liberdade e igualdade de todas as mulheres iranianas.
É uma das atrizes mais populares e influentes do Irão, mas nem o seu estatuto a salvou das autoridades iranianas, tendo sido detida por espalhar informações falsas sobre o governo e por incitar motins no Irão. Menos de um mês após a detenção, foi hoje, dia 4, libertada sob fiança.
A história de uma mulher cujo marido é condenado à pena de morte, numa sociedade que põe as mulheres à margem e sem ter com quem partilhar a dor da injustiça. Conversámos com os realizadores.