Tudo sobre psoríase no verão: como prevenir, tratar, aliviar

Sabia que o sol tem um efeito benéfico nas lesões de psoríase? O dermatologista Tiago Torres desmistifica esta e outras questões associadas à doença.

Foto: Chris Jarvis / Unsplash
05 de agosto de 2021 às 07:00 Rita Silva Avelar

A psoríase é uma doença inflamatória crónica que afetam cerca de 25 mil portugueses. Tiago Torres é médico dermatologista no Centro Hospitalar Universitário do Porto e professor no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da Universidade do Porto e responsável pela Unidade de Dermatologia do Instituto Médico de Estudos Imunológicos (IMEI) da mesma cidade. O especialista dedica-se há vários anos a perceber a origem desta doença, e é a ele que recorremos para desmistificar as questões associadas à psoríase, especialmente no verão.

Como prevenir? Como lidar, física e psicologicamente com a doença? Em que ponto está a investigação sobre a área? O que fazer no verão? O sol melhora ou piora a inflamação?

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Para leigos na matéria, em que consiste a psoríase?

A psoríase é uma doença inflamatória crónica que se estima que afete cerca de 25 mil portugueses. Associa-se a uma marcada diminuição da qualidade de vida dos doentes e dos conviventes, estando demonstrado, desde há vários anos, que o impacto da psoríase na qualidade de vida dos doentes é superior ao de muitas outras patologias habitualmente consideradas mais graves, como o cancro, a diabetes ou a doença cardiovascular.

Este impacto impacto físico e psicológico deve-se essencialmente à visibilidade das lesões?

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Sim, assim como dos sintomas associados. Adicionalmente, é atualmente amplamente reconhecido que a psoríase é uma doença que vai para além da pele, associada a múltiplas comorbilidades, incluindo cardiovasculares (diabetes, obesidade, hipertensão arterial e doença cardiovascular), articulares (artrite psoriática) e psicológicas (depressão e ansiedade).

Como se manifesta, clinicamente?

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Clinicamente, manifesta-se por placas eritemato-descamativas envolvendo preferencialmente os cotovelos, os joelhos, a região lombo-sagrada e o couro cabeludo, associando-se frequentemente a prurido. A extensão e gravidade da psoríase é muito variável, podendo apresentar desde formas ligeiras e controladas com terapêuticas tópicas, até casos muito extensos, por vezes associados a comprometimento articular que necessitam de terapêutica sistémica oral ou injetável.

E o que a causa?

A sua causa é multifatorial, resultando da interação de fatores genéticos, imunológicos e ambientais. Estão descritos vários genes que, quando presentes, aumentam o risco de desenvolver psoríase. Contudo, a sua presença por si só não é determinante para o aparecimento da doença. Existem vários fatores ambientais, como por exemplo, as infeções bacterianas, certos medicamentos, a obesidade, o consumo de álcool, o tabagismo, o stress, entre outros, que, em doentes geneticamente predispostos, promovem o desenvolvimento de psoríase.

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Há forma de prevenir? Como?

Como descrito anteriormente, a psoríase pode ser desencadeada, em doentes geneticamente predispostos, por vários fatores comportamentais menos saudáveis e modificáveis, como o consumo de álcool em excesso, o tabagismo e o excesso de peso.

No entanto, muitas vezes não é possível prevenir o seu aparecimento, pelo que o tratamento da psoríase se torna fundamental.

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Em que consiste o tratamento?

O seu tratamento engloba terapêutica tópica, fototerapia, terapêutica sistémica convencional e terapêutica biológica e deve ser escolhido a caso a caso, tendo em conta não só a gravidade da doença, mas igualmente as restantes patologias do doente. Por fim, é igualmente importante a educação do doente no sentido da adoção de um estilo de vida saudável com perda de peso, cessação tabágica e atividade física.

Em que medida a indústria farmacêutica e médica evoluiu no tratamento desta condição?

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Nos últimos anos observou-se um grande avanço no tratamento da psoríase, com o aparecimento de inúmeras terapêuticas extremamente eficazes, capazes de resolver por completo ou quase por completo as lesões de psoríase, devolvendo assim a qualidade de vida perdida, as chamadas terapêuticas biológicas. Nos últimos dois anos, por exemplo, foram lançados em Portugal dois novos medicamentos biológicos, esperando-se para breve o lançamento de um terceiro. Estes novos fármacos, vêm aumentar o leque de opções no tratamento da psoríase, colocando-a como uma das patologias inflamatórias crónicas, de todas as áreas da medicina, com mais opções terapêuticas.

E no futuro, felizmente, podemos ainda esperar a aprovação de mais terapêuticas, não só injetáveis, mas igualmente orais. Assim, apesar da descoberta de uma cura estar ainda distante, o futuro do tratamento da psoríase parece ser promissor.

Que cuidados redobrados devemos ter no verão? Ou na época de exposição ao sol..

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O verão é habitualmente uma época do agrado para os doentes com psoríase. O sol tem um efeito benéfico nas lesões de psoríase, pelo efeito terapêutico do ultravioleta, pelo que, geralmente, os doentes com psoríase notam uma melhoria clínica durante o verão. No entanto, os cuidados com o sol devem manter-se de forma a prevenir riscos conhecidos da exposição solar a longo prazo.

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