São alertas que nos vão chegando mas, no meio de tanta informação (e desinformação), fica difícil separar o trigo do joio. Nos últimos anos, tem vindo a espalhar-se pelas redes sociais um aviso de que pode ser perigoso tocar em recibos de papel, devido à presença de substâncias químicas tóxicas na sua composição.
Recentemente, um vídeo publicado pela médica norte-americana Tania Elliot viralizou no TikTok e no Instagram. Nele, recomendava aos seus seguidores que evitassem o contacto direto com talões, referindo que contêm bisfenol A (BPA), substância associada a problemas como infertilidade, desequilíbrios hormonais e, até, certos tipos de cancro.
Há mais especialistas que confirmam o fundamento desta preocupação. O BPA, disruptor endócrino que imita o estrogénio, costumava ser amplamente usado nos papéis de impressão térmica (os mesmos que são usados na maioria dos recibos).
"Pode enganar as células", explica, citada pelo New York Times, Andrea Gore, professora de farmacologia e toxicologia na Universidade do Texas. Ou seja, o BPA pode induzir no sistema reprodutivo, metabolismo e cérebro respostas que podem contribuir para o aparecimento de doenças como a infertilidade, diabetes (tipo 2) e obesidade.
O BPA tem vindo a ser substituído pelo composto bisfenol S (BPS) ao longo da última década, mas não parece ser caso para respirarmos de alívio, uma vez que se sabe menos sobre os efeitos deste componente no corpo humano. Na verdade, Nancy Hopf, toxicologista na Univesidade de Lausanne, indica ao mesmo jornal que as evidências estão a crescer e que, tal como o BPA, o BPS também aparenta imitar o estrogénio, o que está a ser associado a problemas reprodutivos.
Um estudo de laboratório corrobora a preocupação, tendo demonstrado que a exposição ao BPS durante a gravidez reduz a fertilidade dos bebés que nasçam com o sexo feminino. Outro, desenvolvido na China com uma amostra de 1.841 mulheres grávidas, demonstrou que aquelas com níveis mais altos de BPS na urina apresentavam um risco 68 por cento maior de desenvolver diabetes gestacional.
Jonathan Martin, toxicologista da Universidade de Estocolmo, confirma ao New York Times que, embora não seja possível provar a ligação direta entre o aparecimento de doenças e o toque em recibos de papel, há evidências científicas suficientes para recomendar que se limite a exposição ao BPA e BPS. Nancy Hopf, que mencionámos mais acima, aconselha aos trabalhadores de comércio que usem luvas de nitrilo e aos colaboradores que lavem as mãos depois de tocarem em recibos, evitando os desinfetantes com álcool, uma vez que estes aceleram a absorção de químicos.
A opção mais segura — e, já agora, mais sustentável — é optar por versões digitais dos recibos, protegendo não só os consumidores como os funcionários que, diariamente, estão expostos a centenas de talões.