A vida tornou-se indiscutivelmente mais fácil com as frigideiras antiaderentes. De horas esquecidas gastas a remover gordura seca com um esfregão de arame, passámos a poder lavá-las com uma simples passagem de esponja suave com detergente. E, claro, como não agarram a comida, usamos menos gordura para cozinhar os alimentos. Tudo coisas boas, certo? Errado. A conveniência, como quase tudo na vida, tem um preço e parece que, neste caso, é demasiado caro. Sucede que frigideiras e panelas antiaderentes contêm substâncias perfluoroalquiladas (PFAS) e bisfenol A (BPA), também conhecidos como "químicos eternos" porque não se degradam, acumulando-se nos organismos vivos e no ambiente. E estão cientificamente associados a patologias como o cancro, doenças renais, problemas hepáticos, defeitos congénitos e a outros problemas de saúde graves.
Os PFAS são uma grande família de químicos – ninguém sabe ao certo quão grande, mas estimativas apontam para a existência de 15.000 compostos diferentes ou mais. Cada um contém uma ligação flúor-carbono que lhe confere as propriedades singulares de ser resistente a manchas, à gordura e à água. Já o BPA pertence a uma categoria completamente diferente de químicos, que são utilizados no fabrico de plásticos de policarbonato rígidos. Esta substância também está presente no revestimento protetor das latas de conservas – incluindo latas de refrigerantes – bem como selantes dentários, brinquedos de plástico e outros produtos.
Sobre o BPA, Tasha Stoiber, cientista sénior do Environmental Working Group, disse à revista National Geographic que "é basicamente um estrogénio ambiental", acrescentando que "pode desregular as hormonas do nosso organismo e criar problemas como aumento do risco de cancro da mama, problemas de fertilidade e coisas do género".
A National Geographic conta, ainda, a história de Linda Birnbaum, ex-diretora do Instituto Nacional para a Ciência da Saúde Ambiental, um organismo norte-americano. Birnbaum anda há décadas a alertar para os perigos dos "químicos eternos", razão pela qual deitou fora todos os seus utensílios de cozinha antiaderentes.
Por outro lado, na plataforma The Conversation – que une académicos e jornalistas que divulgam notícias e análises baseadas em investigação –, Daniel Drage, professor de saúde ambiental na Universidade de Birmingham, diz que o maior perigo dos PFAS ocorre "quando as frigideiras aquecem muito, ficam arranhadas ou a superfície começa a ficar desgastada, facilitando a migração destes químicos para os alimentos que estão a ser preparados". Para este especialista, é excessivo deitar as frigideiras fora, todas de uma vez, mas "assim que o revestimento começar a descascar, devem ser substituídas por opções livres de PFAS, como cerâmica, aço inoxidável ou ferro fundido".
Se tem acompanhado com estranheza o ressurgimento das pesadíssimas panelas, caçarolas e frigideiras de ferro fundido, fica aqui explicado o motivo. E talvez não seja má ideia pôr-se na fila para comprar uma ou outra.