Qualquer mulher dirá que sabe muito bem se ganhou um quilo ou dois. Basta fazer o teste da calça de ganga. Quando a dificuldade em apertar o fecho e o botão é maior do que teve da última vez, aí está a prova. Balanças para quê? Como diria o senhor da Sonasol: "O algodão não engana." Só que o processo de ganhar peso é subtil e começa muito antes de notarmos diferenças no nosso corpo. E o primeiro sítio onde ganhamos peso não é, decididamente, a barriga ou as ancas. O sinal de alerta de que esse peso começa a acumular-se é uma coisa tão bizarra que dificilmente passa pela cabeça de alguém.
As visitas do médico, investigador e especialista em metabolismo, William Li, ao podcast da famosa autora norte-americana Mel Robbins nunca desiludem e a mais recente não foi excepção. Quando Robbins lhe pediu que partilhasse uma informação sobre o aumento de peso que fosse desconhecida para grande das pessoas, Li disse que "a primeira gordura que começa a acumular-se no corpo é a gordura visceral, uma gordura que está dentro do corpo e que não se vê". E continua perguntando a Mel se ela consegue adivinhar em que sítio específico é que essa gordura se começa a acumular em primeiro lugar. A autora respondeu "no traseiro" e errou redondamente (trocadilho não intencional).
E a leitora, é capaz de adivinhar? Se lhe dissessem que a primeira gordura que começa a acumular-se é a gordura visceral, ou seja, aquela que se vai formando em redor dos órgãos internos (diferente da gordura subcutânea, que é a que se acumula logo abaixo da pele), seria capaz de dizer onde é que a gordura começar a “brotar” primeiro? Uma pista: deu por si a ressonar, ultimamente? Sabe aquela sensação de estar quase a adormecer e ser rudemente acordada pelo próprio ronco? Se tem alergia ou está constipada, a explicação pode ser essa. Mas se não está… Já conseguiu adivinhar?
Voltemos à conversa entre Robbins e Li. “O primeiro sítio onde qualquer pessoa começa a acumular gordura corporal é na língua”, afiançou o médico perante uma interlocutora estarrecida. “A língua,” explica o investigador, “é composta por três partes: a ponta da língua, que é uma espécie de acrobata do Cirque du Soleil; a zona intermédia da língua, que é forte e cheia de músculos; e a parte de trás da língua, que é uma almofada grande e gorda, uma almofada de gordura – um terço da sua composição é gordura – que permite que a comida que acabou de ser mastigada escorregue para baixo, a caminho do estômago.” Ou seja, a parte de trás da língua é composta, em grande parte, por gordura visceral e “quando ganhamos peso e começamos a acumular gordura extra, um dos primeiros sítios onde essa acumulação ocorre é na parte de trás da língua”, concluiu.
E como é que uma pessoa sabe se a sua língua está a ficar gorda? Nada mais simples. Li diz que se notarmos que começámos a ressonar, ou se o nosso parceiro nos alertar para esse facto (por via de cotoveladas), esse pode ser o sinal de alerta. “Quando estamos a dormir, relaxamos, a nossa língua gorda começa a relaxar, obstrui as vias aéreas, começamos a ressonar e acordamos.”
E, de facto, a verdade é que a relação entre a apneia do sono e a obesidade já era conhecida. Um estudo publicado na revista médica Sleep, intitulado Tongue Fat and its Relationship to Obstructive Sleep Apnea (Gordura da Língua e a sua Relação com a Apneia Obstrutiva do Sono) examinou a gordura da língua em 31 indivíduos obesos sem apneia e 90 indivíduos obesos com apneia. Os investigadores concluíram o seguinte: “Existe um aumento do volume da língua e da deposição de gordura na base da língua em indivíduos com apneia, em comparação com os controlos. O aumento da gordura da língua pode começar a explicar a relação entre obesidade e apneia obstrutiva do sono.”
O que é particularmente curioso nas declarações do médico William Li é esta noção de que a língua começa a ficar gorda muito antes de o excesso de peso ou a obesidade se instalarem. Conclusão? Se começou a ressonar sem motivo aparente, é possível que esteja na altura de começar a fazer dieta.