Começa as refeições com pão e termina com fruta? Está a fazer o oposto daquilo que deve

Quem se lembra da roda dos alimentos talvez fique surpreendido ao descobrir que não basta ter em mente a quantidade, mas também a ordem em que se consome cada tipo de alimento.

Alimentação saudável: vegetais, proteínas e hidratos de carbono na ordem certa Foto: Pexels
22 de agosto de 2025 às 12:07 Madalena Haderer

Chegou a altura de dizer a verdade. Já ninguém tem paciência para conselhos sobre dieta, alimentação e nutrição. A vida moderna já é suficientemente difícil para que uma pessoa sinta que tudo o que põe no prato é o inimigo. “Não comas ovos. Come ovos. Bebe leite. Não bebas leite. O presunto é a pior coisa que podes comer. Hmm, talvez o presunto não seja a pior coisa que podes comer. Abusa da fruta e dos legumes. Espera, cuidado com os insecticidas, melhor que seja tudo biológico. Que é isto?! A conta da mercearia? Será que partimos alguma coisa? E daí, não, corta a fruta que tem demasiados açúcares. Ah, mas são açúcares naturais. Não importa. Importa sim. Claro que não importa. É óbvio que importa.” O mundo da nutrição é mais ou menos isto, cheio de informações contraditórias, com novos estudos e investigações a cada mês que provam ou refutam uma coisa e o seu contrário. Pelo meio disto, uma pessoa, que só que fazer umae não pensar mais nisso, sente-se perdida e frustrada. Porém, no meio desta confusão, há pequenas coisas, pequenos truques, que vale a pena conhecer e que, com quase nenhum esforço e sem gastar mais dinheiro, ajudam, de facto, a ter uma alimentação mais saudável. Um desses truques é, simplesmente, comer a comida pela ordem certa.

Quer isto dizer que há uma ordem específica que, ao ser seguida, beneficia mais a saúde do que, aquilo que a maior parte das pessoas faz, que é ir comendo um pouco de cada coisa até o prato ficar vazio. Para e ter uma maior sensação de saciedade depois de uma refeição, o melhor a fazer é comer os vegetais primeiro, seguidos de proteínas e gorduras saudáveis e, por último, hidratos de carbono. Ou seja, primeiro a salada e/ou os legumes cozidos, depois a carne, peixe, ovos ou abacate, temperados com azeite, e, por último, o arroz, batatas ou massa. A fruta, curiosamente, também deve ser comida no início da refeição.

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A equação pode complicar-se na presença de hidratos de carbono complexos, como o feijão, o grão, as lentilhas ou as ervilhas, que são muito ricos em fibra e proteína vegetal. Razão pela qual têm um efeito glicémico muito mais baixo do que arroz, pão ou batata. Na prática, funcionam como uma ponte entre o grupo das proteínas e o . Se fizer uma refeição com legumes crus, leguminosas, proteína animal seguida de batata, arroz ou massa, pode comer as leguminosas logo depois dos vegetais, antes ou em conjunto com a proteína.

Um artigo publicado na UCLA Heath, uma publicação da Universidade da Califórnia dedicada à saúde, explica o benefício de comer de forma sequencial assim: “A hiperglicemia (açúcar elevado no sangue) após as refeições pode aumentar o risco de diabetes tipo 2, e controlá-la pode ajudar no tratamento da diabetes e da obesidade.” Por outro lado, é importante não esquecer que existem dois tipos de hidratos de carbono: “Os hidratos de carbono refinados [pão, arroz, massa, etc.] situam-se no topo do índice glicémico – um sistema que classifica os alimentos com base na rapidez com que fazem o açúcar no sangue subir e descer. [...] Os hidratos de carbono complexos, como feijões, leguminosas e a maioria dos vegetais, são ricos em fibra e digerem-se lentamente. O resultado é uma subida gradual do açúcar no sangue. Comer fibra antes de hidratos de carbono refinados pode influenciar a forma como esses hidratos de carbono afetam a glicemia, mantendo os níveis de glucose mais baixos durante o estado pós-prandial”, isto é, a fase após uma refeição.

Diversos estudos também demonstraram que pessoas que começam a sua refeição com uma salada ou uma sopa consomem menos calorias na totalidade. Isto porque os vegetais, tendo um alto conteúdo de fibra e de água, aumentam a sensação de saciedade. E se, para si, a vida sem pão não merece ser vivida, coma-o no fim de tudo – sim, começar uma refeição com pão quente com manteiga é uma das melhores coisas do mundo, mas, enfim, comê-lo no fim é melhor que nada. Tire a barriga de misérias usando um saboroso pedaço de pão para apanhar todo o azeite que resta no prato. Sim, não é a coisa mais elegante da vida, mas uma pessoa não é de ferro.

Para terminar, e a propósito de coisas que carecem de elegância, deixamos um alerta. Por muito saudável que seja comer o que tem no prato um grupo alimentar de cada vez, não é coisa que seja bem vista pela lente da etiqueta e boas maneiras. Porquê? Porque vai parecer uma criança manienta de oito anos. E por muito que os nutricionistas achem que isso não importa, a vida não é só alimentação. Portanto, um conselho: deixe esta forma de comer para quando estiver em casa ou rodeado de pessoas próximas. Ou isso ou pode sempre transformar-se numa militante da comida saudável, informando as pessoas à sua volta que estão a comer de forma errada. Vão adorá-la.

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