Chanel Nº 5. Uma fragrância que atravessa um século e que esconde uma história
Os segredos do nascimento do perfume mais famoso do mundo são tão sedutores como a mulher que o imaginou. Mas será que sabe mesmo como tudo se passou para chegar às notas olfativas do Nº 5? Onde estava Gabrielle Chanel? Quem foi o perfumista que se aliou à criadora?
O que será preciso para eternizar uma fragrância por um século, fazendo dela um clássico tão desejado como no primeiro dia? Conta-se que em 1921 Gabrielle Chanel, então com 38 anos e no auge do seu espírito inquieto, irreverente, sempre à frente do seu tempo, quis um perfume seu, sabendo apenas que queria que fosse fresco e que não evocasse um dos cheiros que povoou a sua adolescência: o do sabão. A sua mãe era lavadeira, e o seu pai comerciante, tendo passado toda a sua infância na França Rural. Mais tarde, após a morte da mãe, seria enviada para um convento em Aubazines, onde passou a adolescência. Nessa altura, talvez fosse difícil prever que se tornaria um ícone de Moda, uma designer que quebrou estereótipos e arriscou em tendências masculinas levadas para o traje feminino, a quem todos chamavam, de forma carinhosa, Coco Chanel.
A história do seu perfume é espontânea. Num verão, o de 1920, foi de férias para a Côte d'Azur com o seu amante, o grão-duque Demétrio Pavlovich da Rússia. Foi aqui que se cruzou com o célebre perfumista Ernest Beaux, que tinha trabalhado para a família real russa e vivido perto, em Grasse, o centro da indústria dos perfumes. Depois de vários meses a aperfeiçoar uma nova fragrância, acabou por chegar a 10 amostras e apresentou-as a Gabrielle. Eram numeradas de um a cinco e de 20 a 24. Ela escolheu o número cinco.


E como em todas as histórias há reviravoltas e mistérios: há quem diga que a combinação dos ingredientes desta primeira versão foi na realidade o resultado de um erro de laboratório (ou seja, existe a suspeita de que o assistente de Beaux adicionou uma dose de aldeídos (um composto orgânico) numa quantidade nunca antes utilizada, e que curiosamente, um deles, cheirava a sabão).


O perfume, com notas de jasmim, rosa, sândalo e baunilha, foi um sucesso imediato. Nos dias que se seguiram, sabe-se que Beaux convidou amigos para jantar num restaurante na riviera francesa e pulverizou a sala repetidas vezes ao longo da noite. Conta-se que, sempre que uma mulher passava, perguntava qual era o perfume. E o resto é a história que conhecemos.

Lançado oficialmente em 1921, o Chanel N°5 tornou-se no perfume mais desejado entre as mulheres, e é hoje o mais famoso de sempre. Nessa altura, Gabrielle já tinha lojas em Paris, Deauville e Biarritz, e já desafiava as normas da sociedade da época com os seus famosos tailleurs e fatos de corte direito, que até aí eram de uso exclusivamente masculino. Com o Nº 5 também contrariou hábitos e convenções estabelecidas na época, quebrou tabus e tornou-o num perfume para mulheres com atitude. Revolucionário na sua composição, é também o primeiro imaginado por uma mulher para mulheres.


Como seria de esperar, tornou-se também a fragrância preferida das celebridades. Marilyn Monroe disse que dormia apenas com umas gotas de Chanel Nº 5 (e mais nada) e Andy Warhol multiplicou o frasco em diferentes versões e cores, tornando-o num ícone de arte pop. Foi o primeiro perfume a ser anunciado na televisão, e inspirou Helmut Newton, Irving Penn, Ridley Scott, Jean-Paul Goude ou Baz Luhrmann, alguns dos nomes que trabalharam nas campanhas do perfume ao longo dos anos, e que fotografaram Coco Chanel. O mesmo aconteceu com mulheres como Catherine Deneuve, Carole Bouquet, Nicole Kidman ou Marion Cotillard, embaixadoras do perfume.

A caixa do Chanel Nº5 chegou a ser exposta no MoMA de Nova Iorque, em 1959. "Através da sua história, a sua imagem e a sua própria essência o N°5 permanece o pano de fundo de inúmeras histórias, mesmo as mais íntimas" lê-se no comunicado da Chanel que celebra um século deste ícone. "O N°5 é feito para aqueles que, como mademoiselle Chanel, escolhem quem querem ser, e transformam-se nisso mesmo. É um perfume que, como uma capa de armadura invisível, nos dá força para enfrentar a vida." Uma verdadeira arma de beleza, portanto, capaz de fazer virar cabeças na rua e de suscitar perguntas de estranhos num café.


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