O nosso website armazena cookies no seu equipamento que são utilizados para assegurar funcionalidades que lhe permitem uma melhor experiência de navegação e utilização. Ao prosseguir com a navegação está a consentir a sua utilização. Para saber mais sobre cookies ou para os desativar consulte a Politica de Cookies Medialivre
Atual

Victoria Guerra: 'As personagens fazem parte de nós'

Tal como muitas das personagens que interpreta, Victoria Guerra é difícil de decifrar. Nesta atriz que para nós representa o futuro na sua profissão, ressaltam uma beleza refinada, os olhos claros e o sorriso oculto.

Foto: Pedro Ferreira
11 de setembro de 2019 às 07:00 Rita Silva Avelar

É o seu lado tímido que nos causa estranheza, num primeiro momento, por a sabermos uma atriz "feroz" de tão camaleónica que é. Dotada de uma sua subtil delicadeza, evidente no discurso e nos gestos, longe das câmaras Victoria é, afinal, uma mulher reservada.

Percebemos, desde logo, que se a fama e a exposição deixam Victoria Guerra desconcertada, as câmaras fazem-na sentir como "um peixe na água", tanto no pequeno como no grande ecrã. Nascida em Faro, em 1989, filha de pai português e de mãe inglesa, e a mais velha de quatro irmãos, Victoria é hoje uma das atrizes mais reputadas da sua geração. Viveu até à sua adolescência em Loulé mas, aos 15 anos, mudou-se para Lisboa, essa que diz ser a sua casa, alojando-se num dormitório gerido por freiras. Hoje, com 30 anos, Victoria tem no currículo desempenhos exemplares em telenovelas como Mar de Paixão (2010-2011), Sol de Inverno (2013-2014) ou Amor Maior (2016-2017). Mas foi em 2012, no filme de Valeria Sarmiento, Linhas de Wellington, que John Malkovich (também no elenco) a descobriu e não mais a perdeu de vista. Seguiu-se o papel de Sophie em Variações de Casanova (2014) e de Saffron em The Wilde Wedding (2017), uma comédia americana onde além de Malkovich, Victoria contracena com Glenn Close, Patrick Stewart e Minnie Driver. Pelo meio, brilhou no papel de Lena, em Cosmos (2015), do polaco Andrzej Zulawski, e foi dirigida pelo francês Benoît Jacquot em Até Nunca (2016). De malas feitas para o Brasil, não nos revela que projeto se segue, mas sabemos que em 2019 estreia pelo menos três filmes: Variações, de João Maia; A Herdade, de Tiago Guedes; e Pedro, da realizadora brasileira Laís Bodanzky. Já arrecadou dois Globos de Ouro: o primeiro como Revelação do Ano de 2013 e o segundo como Melhor Atriz, em 2016, pela prestação no filme de António-Pedro Vasconcelos, Amor Impossível (que também lhe valeu o Prémio Sophia de Melhor Atriz).

De onde nasce a ambição da representação?

Não tenho referências artísticas na família, sendo que cresci a ir muito ao cinema. Lembro-me de ir ao cinema em Loulé, quando a sala abria, e em Vilamoura. Ia ver dois a três filmes por fim de semana com a minha mãe. Também me recordo do fenómeno Blockbuster, ou seja, ir quase todos os sábados alugar cassetes para a família ver no fim de semana. Também me recordo da primeira vez que abriu um Cinema com várias salas [no Algarve].

Qual foi a porta de entrada para a profissão?

Não vou mentir, foi mesmo com a série Morangos com Açúcar. Eu ia estudar jornalismo, queria ser jornalista de arte, moda ou música. Quando fiz a série diverti-me muitíssimo e senti uma liberdade que eu nunca antes tinha sentido.

Quem foram e quem são as suas referências na representação?

A minha agente, a Carla [Quelhas] estudou Cinema e sempre me ajudou muito. Depois, os atores com quem fui trabalhando, desde a Marina Mota ao Júlio César, à Rita Blanco, ao João Perry ou ao Filipe Vargas. Eu sou muito atenta, e eles são pessoas muito generosas. Depois, obviamente, realizadores, diretores de atores nas novelas…

Falando no registo cinematográfico. O que é que o Cinema tem de mais cativante?

No Cinema tudo é importante, é tempo e espaço, no sentido em que deve existir uma grande preparação na forma como se trabalha. Todas as cenas têm a sua importância, e não digo que nas novelas também não tenham, mas numa novela retrata-se mais o dia a dia. Não consigo dizer se gosto mais de um registo que outro, mas o Cinema permite, por exemplo, um subtexto.

Em Aparição, o último filme de Fernando Vendrell, é Sofia, a protagonista da adaptação da obra literária de Vergílio Ferreira. Como prepara uma personagem?

Depende do projeto e da personagem. No caso do filme Aparição, por ser uma adaptação e a literatura permitir coisas que o cinema não permite, ter a obra literária foi sem dúvida uma grande ajuda e a ferramenta perfeita para me preparar.

Qual foi a personagem mais desafiante, até hoje?

Todas são desafiantes à sua maneira. É difícil escolher, mas diria a Diana na [novela] Amor Maior, por sofrer de uma perturbação mental.

E a que deixa saudades?

Nenhuma deixa saudades. As personagens fazem parte de nós durante aquele tempo e vivemos com elas. São as nossas melhores amigas – o nosso segundo eu – durante aquele período de tempo. Crescemos com elas, aprendemos com elas. Depois estamos prontas para a próxima. Nós trabalhamos energias, e se determinada personagem pede uma certa "energia", se calhar durante esse período eu vou permanecer com essa tal energia. Por vezes ficamos com saudades da equipa, mas acaba por, no final, ser uma catarse.

Que atriz a inspira? 

Agora estou apaixonada pela Amy Adams e pelo trabalho incrível que fez na série Sharp Objects [2018].

Foi incluída nas 10 European Shooting Stars, uma seleção de talentos promissores apresentada na Berlinale (o Festival Internacional de Cinema de Berlim). Como recebeu essa notícia?

Foi o ICA [Instituto do Cinema e do Audiovisual] que me propôs e quando recebi o prémio fiquei muito feliz. Primeiro, porque não é um prémio que distingue [apenas] um trabalho. É um reconhecimento do percurso e do trabalho de vários jovens na Europa inteira, e isso é muito importante.

As Mais Lidas