Tainá, a artista brasileira que "canta" a Natureza
A cantautora, radicada em Portugal, apresenta-se amanhã ao vivo no Musicbox, em Lisboa, onde vai apresentar os temas novos que lançou durante a pandemia.

Há vidas que são um verdadeiro "conto de fadas" e a de Tainá parece ser uma delas – a expressão é da própria. Há cerca de cinco anos aterrou em Portugal vinda do estado brasileiro do Pará com a família, devido ao desejo do padrasto, português, em regressar à terra natal depois de se ter reformado. Ao contrário da família, que foi viver para Macedo de Cavaleiros, Tainá permaneceu em Lisboa, para continuar em busca da realização de um sonho antigo: viver da música. No Brasil chegou mesmo a trabalhar na própria faculdade onde estudava, para ajudar a pagar o curso de música.


Tal como fez por cá, começando de imediato a trabalhar num café, ao mesmo tempo que ingressou num "curso de desenvolvimento artístico". Nas aulas conheceu o músico e produtor Mikel Solnado, que a convidou a trabalhar como compositora no estúdio dele, em Paço de Arcos, e de um momento para outro, músicos portugueses como Tomás Adrião, vencedor do concurso televisivo The Voice, ou Elisa, vencedora do Festival da Canção em 2020, começaram a cantar composições suas. Seria no entanto um mero acaso, daqueles que só imaginamos acontecerem em filmes que acabaria por mudar a vida da jovem aspirante a cantora, atualmente com 23 anos. Numa noite, enquanto passeava pelo bairro da Bica, em Lisboa, cruzou-se com um grupo de músicos a tocar Bossanova e, desafiada pelos amigos, juntou-se a eles para tocar uma versão de Corcovado, o eterno clássico de Tom Jobim.
Sem o saber, tinha-se juntado à banda do músico e cantor norueguês Erlend?Øye, membro dos Kings of Convenience, que no dia seguinte atuava no Capitólio, em Lisboa. "Um deles convidou-me para assistir ao concerto, fui com uma amiga e ficámos, depois do concerto terminar, para agradecer. Quando nos encontrámos o Erland ofereceu-me uma guitarra e convidou-me para tocar com eles nos dois concertos seguintes em Portugal", conta. Mas a história não se ficaria por aí, pois alguém enviaria um vídeo da atuação a Vasco Sacramento, diretor Sons em Trânsito, que a convidou a ingressar numa das maiores agências de artistas em Portugal e lhe abriu as portas de alguns dos principais festivais nacionais, como o Sudoeste ou o Marés Vivas. O primeiro álbum, Sonhos foi editado em 2019 e valeu-lhe uma distinção, na categoria Lusofonia, na segunda edição dos prémios Play. "Quando cheguei comecei logo a ouvir muita música portuguesa e isso mudou muito o meu modo de compor", admite Tainá, que entretanto também já tem "um cão e um namorado português".


Um segundo álbum é todavia algo que, para já, não está nos seus planos. "Quando lançamos um álbum há sempre algumas músicas que ficam perdidas e por isso optei por lançar singles de uma forma mais regular", afirma. Foi também um modo de se manter em contacto com os fãs, depois da pandemia a ter obrigado a cancelar uma primeira digressão em nome próprio. Também por isso o regresso aos palcos foi tão especial. "Foi como voltar a casa", confessa a artista, que este ano se estreou também em palcos internacionais, com três espetáculos na Alemanha. "Foi um desafio porque tinha de explicar o que estava a cantar em inglês, mas ao ver os olhos do público a brilharem e todos aqueles sorrisos, depressa percebi que a música é mesmo uma linguagem universal, sente-se até quando não se entende a língua".
Porque é mesmo de sentimentos que se trata a música de Tainá. E talvez por isso seja tão importante sentir-se inspirada, como só consegue quando está perto da natureza. "É algo que me faz regressar às origens. Sempre vivi junto à natureza e sou muito mais ligada à floresta que ao mar", confessa a cantora, que tem ascendência indígena por parte da mãe. "Toda a gente tem essa conexão, a cidade é que nos distrai, mas é de facto na natureza que nos ouvimos melhor as nós próprios", acrescenta. Mas desengane-se quem pensa que a música de Tainá surge assim do nada, de forma natural. "A composição é um exercício como outro qualquer e se o praticarmos regularmente sai sempre algo novo. A leitura, por exemplo, impulsiona-me a inspiração, pois fico a pensar em possíveis temas para as canções. E as pessoas também me inspiram muito, especialmente conversar e conhecer pessoas novas, pois toda a gente é tão diferente", sustenta.


Reconhece que "a pandemia interferiu" em todo este processo", mas entretanto começou "a deixar fluir de forma mais regrada" e tudo voltou ao normal. Com a paragem dos concertos, começou também a vender doces brasileiros no Instagram. "Adoro cozinhar e sempre quis fazer algo assim", sublinha Tainá, que também o projeto de "lançar uma marca de roupa sustentável", em parceria com uma amiga. Mas agora é tempo de voltar aos palcos, como acontece já amanhã, no Musicbox, onde vai apresentar pela primeira vez ao vivo em Lisboa os novos temas que lançou durante o confinamento.
Concerto: Musicbox, Lisboa. 13 nov, sábado, 22h30. €6

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