Ana Stilwell apresenta single dedicado ao amor. "O privilégio que é estarmos ao som de música e não de bombas"
No próximo sábado, a 19 de março, a cantautora e mãe de quatro filhos apresenta ao vivo a sua mais recente canção "Pousa o teu livro", que surge de um lugar de vulnerabilidade e compaixão.

Há males que vêm por bem. Embora nem sempre seja assim, esta expressão não deixa de ter a sua quota de verdade. Este foi o caso de Ana Stilwell, cantora, escritora e mãe, que de um lugar de incerteza criou o seu mais recente single Pousa o teu livro, produzido por João Sá. Depois do sucesso da digressão em autocaravana que fez com os quatro filhos pequenos para promover o álbum Life Trip, Ana foi obrigada a parar, como todo nós, quando os confinamentos da covid-19 nos bateram à porta.
Fechada dentro de quatro paredes, decidiu criar as Pyjamas Sessions no seu Instagram, onde entrevistou músicos de diferentes nacionalidades como João Só, Elisa Rodrigues e Mimi Froes. Numa altura de medo e inseguranças, Ana conseguiu ligar os holofotes sobre o lado mais sombrio dos artistas, aquele que reservam somente para os mais próximos. Foi desse mesmo lugar longe do sol que surgiu a nova canção, que será oficialmente apresentada no dia 19 de março, às 21h30, no Centro Cultural de Cascais. "Para muitos de nós esta mudança gigante de dia-a-dia foi um confronto com as nossas sombras. São todas aquelas perguntas que abafamos na correria do dia a dia, 'o que estou a fazer com a minha vida', 'gostava de ser mais assim ou assado', mas também onde estão guardados os nossos sonhos, tudo aquilo que queríamos fazer mas que escondemos de nós próprios com medo. A guerra veio realçar ainda mais essa sensação de vulnerabilidade e de questionarmos o que é mesmo essêncial para nós e o que não queremos deixar por dizer ou fazer."


Em conversa com a Máxima, contou-nos a razão da nova música estar escrita em português, ao contrário da maior parte das suas canções, quando o inglês é tão natural para a cantora. "Há uns anos senti, como vários artistas, a pressão para escrever em português, mas não queria fazê-lo a não ser que encontrasse um registo que encaixasse bem na sonoridade que procurava. Há quem tenha feito isso de forma incrível mas eu ainda não tinha descoberto uma forma com que ficasse contente! No último disco já tive algumas canções em português, que gosto, mas esta foi a primeira música em que acho que consegui o que procurava!"
Talvez porque a lingua portuguesa permite-nos expressar certos sentimentos com mais complexidade e profundidade do que a inglesa, como quando falamos de amor e de saudade. "Apesar da canção ter surgido como uma balada de amor (para o marido), há uns tempos estava a deitar o meu filho de quatro anos e enquanto estava sentada ao seu lado no telemóvel ouvi-o a cantar o primeiro verso do single "pousa o teu livro e vem me abraçar". De repente, a música ganhou para mim um outro sentido! É uma canção de alguém que implora para ser visto, que pede que o outro o olhe nos olhos e o resguarde por momentos de todas as angustias e medos do mundo exterior. Agora cada vez que vejo um pai absorvido nas suas coisas com uma criança a pedir-lhe atenção, um casal de namorados agarrados ao telefone ou quando eu própria estou a pagar as compras do supermercado mas quase que nem olho para o senhor da caixa porque estou a correr lembro-me desse verso..."

O concerto de dia 19 é o ponto de partida para a digressão Conversas com a Sombra. Num gesto simbólico de apoio à Ucrânia, Ana reuniu um grupo de crianças e juntas irão apresentar uma lullaby ucraniana, "na esperança que pelo menos nos ajude a recordar oprivilégio que é estarmos ao som de música e não de bombas."


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