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O milagre é ainda maior se tivermos em conta que, fora do quarto, pomo-nos doidos um ao outro. Não consigo lembrar-me de como foi que passámos de um casal que via caixas inteiras de DVD todas as noites juntos no sofá, para estar cada um no seu quarto, colado a um televisor próprio. Há um par de anos, o meu marido comprou uns fones com cancelamento de ruído exterior, que supostamente iria usar no trabalho, mas passado um tempo pareceu-me que os usava a maior parte do tempo. Até enquanto corta legumes na cozinha para o jantar, ele mantém-nos postos. Começo a contar-lhe como correu o meu dia, mas depois sou confrontada com um silêncio vazio e apercebo-me de que os fiéis auscultadores ainda estão enfiados nos ouvidos. A maior parte do tempo, eu nem sequer tenho a certeza se ele está a ouvir música ou só a usá-los como um metafórico "desparece-me da frente". Houve uma ou duas vezes em que acenei as mãos à frente dele, para lhe chamar a atenção, mas agora já percebi a indireta.
Ele nunca foi excessivamente afetuoso. Mesmo durante os primeiros anos da nossa relação, disse-me que é o tipo de homem que demonstra o seu amor por meio de ações, não com grandes gestos românticos. Para ser justa, em muitos aspetos, ele é um marido fantástico: cozinha para mim, concerta coisas, paga as contas e marca férias muito agradáveis, mas umas mãos dadas de vez em quando ou um abraço espontâneo simplesmente não fazem parte do seu reportório.
À medida que os anos foram passando e nós tivemos dois filhos, fomos ficando autoindulgentes, talvez um pouco fartos um do outro, e começámos a falar cada vez menos. Penso que ele não achará a minha conversa acerca do trabalho, das minhas amigas e até da atualidade por aí além de interessante, e quando ele desata a desfiar reclamações por causa da conta da luz, eu até grunho interiormente.
As nossas discussões tendem a ser sobre o mesmo tema: dinheiro, desarrumação e coisas que eu me esqueci de fazer, mas, em minha defesa, até para mim a minha fraca memória é igualmente frustrante. Durante cerca de 90% do tempo, eu sou uma pessoa amável, ao passo que ele tem um caráter forte, de pavio curto, e é frequente eu dar comigo a implorar-lhe que se acalme. É preciso muito para me fazerem explodir, embora quando tal acontece, eu seja ainda mais feroz do que ele.

Mas, em contrapartida, por muito aborrecidos e irritantes que possamos considerar-nos um ao outro na vida quotidiana, no quarto ainda fervilham faíscas entre nós. Esse é o único sítio onde os fones saltam logo e nós ficamos repletos daquele tipo de paixão que normalmente só ocorre nos primeiros encontros amorosos.
Apesar do seu hábito enfurecedor de dar ralhetes quando não estamos na cama por tudo e por nada, desde ter perdido as chaves, a ter deixado a cozinha numa confusão, ele é um amante carinhoso, imaginativo e generoso, que parece retirar o seu prazer sexual de me ver a sentir prazer. Sempre foi uma coisa muito sensual, mas à medida que vou ficando mais velha e conhecendo melhor o meu corpo, o sexo vai ficando cada vez mais intenso. Passados 20 anos, sabemos tão bem aquilo que excita um ao outro que todas as ninharias do dia a dia são instantaneamente esquecidas assim que nos metemos na cama. O seu rosto cansado e rabugento de repente suaviza-se e ele torna-se um marido diferente.
Suspeito que o sexo é a cola que nos está a ajudar a manter juntos. No outro dia, durante uma discussão especialmente feroz, até tenho vergonha de admitir que berrei na cara dele: "Já não suporto ver-te à minha frente." O pomo da discórdia foi ele ter-me desatado aos berros a dizer para que eu arrumasse a casa num sábado de manhã quando eu ainda mal tinha acordado. Mas estranhamente, quando a noite chegou, lá estávamos nós de novo juntos na cama, como se nada tivesse acontecido, e quando já estávamos estendidos em êxtase pós-coital, eu disse-lhe: "Amo-te, querido" – e estava mesmo a ser sincera.
Anónimo / Telegraph Media Group Ltd. / Atlântico Press
Tradução: Adelaide Cabral

Mundo, Discussão, Relações, Casamento, Histórias de Amor Moderno, Sexualidade
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